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Anselmo da Cantuária: A demonstração da existência de Deus por meio da razão

 Por: Silvério da Costa Oliveira.

 Anselmo da Cantuária

 Anselmo (1033-1109) da Cantuária (cidade onde foi bispo, na Inglaterra) ou Anselmo de Aosta (sua cidade natal, no Piemonte, norte da Itália) ou Anselmo de Bec (cidade onde localizava-se o seu mosteiro, na Normandia, noroeste da França) foi monge da ordem beneditina e pode ser considerado como o primeiro grande escolástico e seu pensamento e obra marcou profundamente o século XI. É considerado santo pela Igreja Católica Apostólica Romana e sua festa litúrgica ocorre todo dia 21 de abril, mesma data de seu falecimento, então com 76 anos de idade, na Cantuária, Inglaterra. Dentre suas principais obras podemos citar: “Monológio” (Monologion), de 1076, “Proslógio” (Proslogion), de 1077(8), “Os diálogos sobre a verdade”, “Libre arbítrio”, “A queda do diabo”, “Por que Deus foi feito homem?”, “Sobre a concepção virginal e o pecado original”.

Anselmo é conhecido por apresentar a teoria da satisfação da expiação ou redenção, pela qual, Jesus, o filho de Deus, teria redimido o pecado original que estava presente em todos os humanos. Esta ideia tem como base a ideia feudal na qual a satisfação ou recompensa varia de acordo com o status do ofendido. Diante do pecado original, a humanidade assume o papel do ofensor e Deus do ofendido. Já que Deus é o ofendido, então para redimir tal ato somente alguém com o status de filho de Deus poderia fazê-lo ao ser sacrificado sem possuir qualquer pecado ou ter cometido qualquer crime, sendo totalmente puro.


 

Anselmo também é conhecido pelas quatro provas a favor da existência de Deus baseadas em uma visão a posteriori e da prova a priori apresentada no argumento único ou como hoje convencionou-se chamar, ontológico. São um total de cinco provas.

Para Anselmo, no “Monológio”, Deus é pura essência, infinitude, eternidade, imutabilidade, perfeição e unidade (aqui cabe pensar no Uno presente aos neoplatônicos), seguindo a meditação de Anselmo, podemos afirmar que a essência deste ser necessariamente se mostra como viva, sábia, onipotente, verdadeira, justa, feliz, eterna e tudo o mais que é melhor ser do que não ser, de maneira absoluta.

Anselmo formula quatro provas a posteriori da existência de Deus no “Monológio” e estas quatro poderiam ser reduzidas a duas, sendo uma baseada na gradação (itens 1 a 3: bem, perfeição, valor), e claro está que graus variáveis implicam na necessidade de um ser absoluto, e outra na contingência do mundo (item 4).

1- Já que há gradação de bem, tem de haver um bem absoluto que sirva de mensuração.

Todas as coisas existem como bens limitados e relativos, logo, tem de haver um bem supremo do qual participamos.

2- Graus diversos de perfeição implicam na existência de uma máxima perfeição, ou seja, Deus.

Tudo o que existe possui um certo grau de perfeição, logo, cabe a existência de um ser tal que seja perfeitíssimo. Deus é o bem supremo, o ser necessário e a perfeição absoluta.

3-Todas as coisas têm valores diferentes dentro de uma escala que vai de valores inferiores a superiores, logo, tem de haver um valor absoluto. Deus é o valor absoluto.

4- Qualquer coisa se origina de algo ou de nada. Nada surge do nada, logo, Deus existe como causa primeira.

Tudo o que existe é contingente, não possuem em si mesmas seu princípio de existência, logo, tem de haver um ser necessário, cuja causa de sua existência se dá em si mesmo. Este argumento se relaciona com a ideia de causa e efeito, com a qual podemos explicar porque algo ocorreu. Se algo existe é porque foi ocasionado por outra coisa. Sempre há uma causa para a existência de algum ser, não há algo que exista por si mesmo sem ter sido efeito de uma causa outra ou a partir do nada. Temos aqui a total relatividade de tudo o que existe, mas esta mesma relatividade torna necessária à existência de um ser absoluto que seja causa de si mesmo e que possa, portanto, fundamentar as demais coisas existentes.

Nestes argumentos (itens 1 a 3) Anselmo parte da natureza para chegar a Deus. Tem de haver o grau máximo, pois, se algo é mais ou menos belo, perfeito, justo, etc. em algum momento teremos de parar em nossa busca de algo que seja maior (mais belo, mais perfeito, mais justo, etc.) e não será possível ir ao infinito, havendo, portanto, o grau máximo, ou seja, Deus.

Tais argumentos baseados na gradação, partem do grau mínimo, dentro de um plano empírico e natural, em direção ao infinito, sempre buscando um grau maior, até atingirem o grau máximo que se encontra em um plano lógico e metafísico. Nesta demonstração Anselmo dá um salto injustificável do plano empírico, natural, para o plano lógico, metafísico.

Já por sua vez no “Proslógio”, Anselmo irá demonstrar a necessidade de Deus por meio do argumento de Anselmo ou Argumento único. Muito importante em Anselmo é a formulação do chamado “argumento de Anselmo”, como então era conhecido na Idade Média, ou do argumento ontológico, como passou a ser conhecido após Kant, pelo qual se podemos conceber em nossa mente um ser tal que não se possa pensar maior, este tem de existir na realidade, pois, caso contrário, outro ser com as mesmas características e que viesse a existir fora de nosso pensamento seria mais perfeito, pois este existiria e o outro não. Ou seja, aquele que possuísse todas as perfeições do ser pensado e não existente, pelo fato de existir, torna-se maior que o somente pensado, o que é absurdo. Trata-se aqui de deduzir e afirmar a existência de um ser por meio de sua essência. Este ser, segundo Anselmo, é Deus. Um ser tal que não se pode pensar maior tem de existir na realidade e só o insensato poderia negá-lo, aqui numa referência ao salmo XIII, 1. Segundo Anselmo “O ser do qual não é possível pensar nada maior” existe em nossa mente e se não existisse na realidade seria contraditório, pois, aquele que existisse na realidade seria maior que este.

O monge Gaunilon, de Marmoutiers, discordou e argumentou que um método reconhecido pelo rigor não poderia deduzir a existência a partir da essência de algo, que não é pelo fato de algo existir em nosso pensamento que existirá na realidade. Gaunilon deu como exemplo uma ilha perfeita e maior que todas em virtudes e beleza que pudéssemos conceber em nossa mente, mas isto não faria necessariamente com que a mesma existisse. Se pensarmos na crítica do monge Gaunilon, podemos historicamente caminhar por outros pensadores de opinião semelhante, tal é o caso de Tomás de Aquino e Immanuel Kant, mas se caminharmos conjuntamente com Anselmo, iremos em direção ao pensamento de René Descartes e outros filósofos racionalistas, bem como a Karl Barth (teólogo protestante).

Ao pensarmos o argumento de Anselmo ou argumento ontológico, devemos destacar que há uma diferença conceitual entre o máximo absoluto (Deus) e o máximo relativo (por exemplo: uma ilha). O primeiro é absoluto, total e necessário, já o segundo é relativo e parcial. Ou seja, no caso de Deus e não no caso da ilha, é logicamente correto e necessário que este ser exista, pois sua não existência é contraditória.

O argumento de Anselmo apresentado no “Proslógio” foi chamado por Kant de argumento ontológico e Kant faz uma crítica ao mesmo. Segundo Kant o argumento ontológico é uma tautologia e uma falácia. Trata-se de dizer a mesma coisa no argumento e na conclusão. O predicado já está contido no sujeito da oração e, portanto, não avança o conhecimento deste algo.

 Anselmo se opõe ao nominalismo afirmando que os universais são reais na mente de Deus, são reais nas coisas nas quais participam desde que houve a criação e são reais em nós por meio dos conceitos presentes em nossa mente.

As provas da existência de Deus apresentadas por Anselmo exigem algumas pressuposições não analisadas, dentre as quais o conceito do que é o Deus cristão, para não incorrer em um teísmo. Em verdade, Anselmo prossegue uma tradição de pensamento iniciada com Agostinho de Hipona, na qual se crê para saber racionalmente, toda investigação por meio da razão e filosofia tende a clarificar e aprofundar a verdade revelada. A fé é o ponto de partida e pressuposto básico da investigação racional, mas cabe à razão buscar o entendimento da fé. A razão em Anselmo fica sempre na dependência da fé a qual é subordinada. A autoridade máxima indiscutível será sempre a palavra revelada e não a razão.

 Silvério da Costa Oliveira.

 

Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.

Site: www.doutorsilverio.com

(Respeite os Direitos Autorais – Respeite a autoria do texto – Todo autor tem o direito de ter seu nome citado junto aos textos de sua autoria)

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