Professor Doutor Silvério

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Silvério da Costa Oliveira é Doutor em Psicologia Social - PhD, Psicólogo, Filósofo e Escritor.

(Doutorado em Psicologia Social; Mestrado em Psicologia; Psicólogo, Bacharel em Psicologia, Bacharel em Filosofia; Licenciatura Plena em Psicologia; Licenciatura Plena em Filosofia)


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quinta-feira, 19 de outubro de 2023

Fichte

 

Por: Silvério da Costa Oliveira.

 

Fichte

 

Johann Gottlieb Fichte (1762-1814) estudou teologia e manteve em sua vida um interesse pela obra de Kant, bem como, por questões vinculadas ao aspecto religioso e moral. Atuou como professor universitário e foi também reitor da Universidade de Berlim. Sua obra foi fundamental para o desenvolvimento da filosofia moderna, abordando questões que vão desde a epistemologia e a ética até a política e a educação.

Fichte é o primeiro dos grandes representantes do Idealismo Alemão, filósofo pós-kantiano que se baseou no estudo das obras de Kant, bem como, em ter conhecido pessoalmente Kant, o que já não ocorreu com os demais membros deste movimento, pois, estes outros começaram seus estudos a partir da obra de Fichte e não de Kant. Não somente Fichte, mas os demais membros do Idealismo Alemão viveram na primeira metade do século XIX na Alemanha, quando imperava um outro movimento de grande abrangência, o Romantismo, de cujas bandeiras e reivindicações todos estes filósofos compartilham em alguma medida.


 

Uma característica que Fichte possui conjuntamente com os demais membros do Idealismo Alemão é ter como ideia central que a realidade fundamental é de natureza mental ou espiritual, o que vem a contrastar com o materialismo. Para Fichte, o fundamento de nossa realidade se encontra na consciência individual.

No ano de 1790, vivendo em penúria e pobreza, passa a trabalhar como professor particular de filosofia e para atender as demandas de um aluno que queria aprender a filosofia de Kant, passa um ano estudando sua obra, pela qual fica fascinado, em particular pela “Crítica da razão prática”, 1788.

Em 1791 viaja para Könisberg, onde conhece pessoalmente o filósofo Kant. Na sequência escreve e publica sua primeira obra, que lhe traria fama. A notoriedade de Fichte começou quando, em 1792, publica o livro “Ensaio de uma crítica de toda a Revelação” inspirado na leitura de “Crítica da razão Prática”, de Kant. Ora, o livro fora publicado anonimamente, por sugestão de seu editor, e o público entendeu tratar-se de mais uma obra prima de Kant, daí seu enorme sucesso. Quando, na sequência, descobriu-se o verdadeiro autor, este foi considerado um filósofo do nível de Kant. Quando do desmentido, Fichte se tornou alguém famoso, recebendo vários convites de trabalho para apresentar suas ideias.

Fichte vinha de uma vida de pobreza e dedicação aos estudos, sendo que foi neste momento que a sua vida mudou para melhor. Em 1794 foi nomeado professor em Jena e seguiram-se outras publicações exitosas, mas em 1799 ele sofre a acusação de ateísmo, o que para a época era considerado algo de muito grave, e se vê na necessidade de deixar o emprego e a cidade, mudando-se para Berlim. Com a mudança para Berlim, aos poucos Fichte muda seu pensamento e ideias. Sua obra tornou-se mais religiosa e no tocante a política passou a se identificar mais com Maquiavel. Pensador sempre obscuro e de difícil leitura e entendimento, foi perdendo destaque e caindo no esquecimento do público, sendo suplantado no gosto do público por Schelling e Hegel, aliás, devemos a estes dois filósofos obras nas quais explicam e apresentam de modo mais claro as ideias presentes na obra inicial de Fichte. O filósofo Fichte teve suas obras póstumas publicadas por seu filho, mas não teve grande repercussão, somente no começo do século XX é que este pensador volta a gerar interesse por parte dos estudiosos (Léon; Guéroult; Lask; Gurvitch; Dreschler, etc.).

Quando de sua estada em Jena, cabe lembrar que na época esta cidade era um dos principais centros intelectuais europeus e nela fervilhava o Romantismo, movimento este que recebeu de braços abertos as novas ideias trazidas por Fichte, as quais ressaltavam pontos importantes dentro do movimento romântico.

A principal obra que expõe o pensamento de Fichte é “Fundamentos de toda a doutrina da ciência”, 1794. Também importante é “Doutrina do direito” e também “Discursos à nação alemã”. Suas obras tiveram o mérito de inspirar o desenvolvimento do nacionalismo alemão. Em “Sobre o destino do sábio”, 1794, afirma que o sábio desempenha o papel de um apóstolo social, ensinando por meio de palavras e exemplos, é o “sacerdote da verdade”.

Alguns comentadores destacam como o período de maior relevância na produção filosófica de Fichte a sua estada em Jena, antes da acusação de ateísmo. Cabe neste período o desenvolvimento de uma dialética da história humana enquanto oposição entre de um lado o despotismo e do outro lado a liberdade, a monarquia por um lado e a república pelo outro, se encaminhando para a restauração de um estado de paz com a conciliação dos opostos. Também a questão sobre como pode uma consciência ser para a outra, dentro da ideia de intersubjetividade que o filósofo desenvolve. Neste período temos também o afastamento de Kant, a partir de discordâncias no tocante às ideias políticas.

O pensamento inicial de Fichte é mais próximo do determinismo, vindo depois do contato com a obra de Kant, se aproximar da liberdade. No início, Fichte estava mais voltado para um entendimento no qual todos os eventos e ações estariam determinados por causas anteriores, após o contato com os trabalhos de Kant, no entanto, passa a adotar uma postura mais direcionada para a liberdade humana, sua capacidade de fazer escolhas livres e deste modo, determinar o seu próprio destino. É provável que a Revolução Francesa, movimento este que abalou as estruturas da Europa, influenciado por ideias de filósofos iluministas e que afetou todo o ambiente intelectual e político da Europa, tenha contribuído também para a mudança de pensamento quanto ao determinismo e liberdade, pois, as ideias revolucionárias então circulantes enfocavam com grande destaque a liberdade individual e coletiva como sendo valores fundamentais.

Também podemos afirmar que tanto o Iluminismo, como também o Romantismo, exerceram influência na obra de Fichte, cada qual a seu momento. Pelo Iluminismo na medida em que este movimento defendia valores como: razão, liberdade, igualdade, crítica a autoridade. Vemos no sistema de Fichte a grande ênfase dada a razão enquanto fonte de todo o conhecimento, bem como, a sua defesa da liberdade. A liberdade defendida por Fichte é diferente da liberdade defendida por autores liberais, menos que uma liberdade individual, mostra-se mais próximo de uma liberdade coletiva.

Também fica nítido uma preocupação quanto ao ceticismo e o desejo de criar uma base sólida para erguer o conhecimento, baseada em princípios racionais, preocupações estas já presentes no movimento iluminista. Já o Romantismo dá destaque ao papel exercido pelo sentimento, pela intuição e pela subjetividade. Vemos que no sistema de Fichte há um destaque à relação entre o sujeito e o objeto, à autoconsciência, e à natureza da experiência, reforçando a ideia de uma maior ênfase à subjetividade, dada pelo Romantismo, no tocante a nossa experiência.

Portanto, encontramos em Fichte influências provindas do Iluminismo e do Romantismo, movimentos estes presentes a sua época histórica. A ênfase na razão e na liberdade o aproxima do Iluminismo, já do Romantismo temos o destaque dado à subjetividade, à intuição e ao sentimento, presentes na experiência.

Nos “Fundamentos da Doutrina da Ciência (Grundlage der gesamten Wissenschaftslehre), 1794, temos a filosofia primeira, no qual é apresentada a teoria dos princípios, o Eu absoluto, o não Eu, e o Eu finito (ou divisível), bem como a estrutura das demonstrações, sua síntese quíntupla. É colocada a estrutura das demonstrações de Fichte, sendo esta uma síntese quíntupla (veremos mais tarde em Hegel que este apresenta uma síntese tríplice), pelo qual todo desenvolvimento ocorre percorrendo cinco pontos: A, B, C, D, E.

Esta estrutura quíntupla torna-se de vital importância para o entendimento do sistema filosófico apresentado por Fichte, sendo usada objetivando a análise de como o conhecimento e a realidade são construídos por meio da atividade da consciência. Esta síntese quíntupla é constituída por cinco elementos que aparecem interrelacionados entre si. Temos 1- a tese (These), 2- a antítese (Antithesis), 3- a síntese (Synthese), 4- a posição (Position) e, 5- a oposição (Opposition).

A tese aparece como o primeiro dos estágios que compõe esta síntese quíntupla. A tese se mostra como uma afirmação, um enunciado, uma declaração, uma proposição sobre algo. Com a tese é dada a largada para o início do processo de reflexão e construção do conhecimento. Com esta afirmação inicial fica estabelecido um dado conceito ou uma dada ideia sobre algo.

Em seguida à tese, temos a antítese, que se apresenta como uma negação da tese. A tese e a antítese se encontram em posições antagônicas. Trata-se de uma posição que surge a partir da tese, visando exercer oposição sobre esta, negando-a.

Na sequência temos a síntese, que surge a partir da interação entre tese e antítese, representado uma forma de conciliação entre ambos enunciados, numa tentativa de superação das duas primeiras posições adotadas. Trata-se de uma nova afirmação que possui em seu interior elementos das duas primeiras (tese e antítese), buscando uma evolução do conhecimento inicial.

Em quarto lugar temos a “posição”, que há de representar a reação, atitude ou ação, do sujeito diante da síntese. Aqui temos a presença da escolha por parte do sujeito.

Por fim, no quinto e último estágio, temos a “oposição”, que há de expressar a resistência ou desafio frente à síntese. A síntese pode ser comparada com outras opiniões provindas de outros sujeitos, consciências, ou fontes de conhecimento que apresentem uma alternativa diferente, podendo encaminhar para um novo ciclo, continuando deste modo o processo de obtenção de conhecimento.

Este processo apresentado por Fichte no seu modelo de uma síntese quíntupla visa demonstrar como a mente humana constrói constantemente o seu conhecimento da realidade. O processo visa enfocar a evolução das ideias e conceitos mentais por meio de um processo dialético onde temos a constante confrontação com ideias e conceitos opostos, buscando uma dada solução e aumento do conhecimento. Destaque deve ser dado à participação ativa do agente conhecedor, bem como, das suas deliberações diante de afirmações que se contradizem.

Eis a estrutura da síntese quíntupla:

I determina III

II determina IV

I e II são ligados por determinação recíproca de III e de IV

Ao apresentar a síntese quíntupla temos como objetivo esclarecer como ocorre o desenvolvimento percorrendo estes cinco pontos conectados entre si. Trata-se de um modelo que permita visualizar o processo dialético em andamento. Aqui designamos, respectivamente: I- tese, II- antítese, III- síntese, IV- posição e, V- oposição.

"I determina III" e "II determina IV": Aqui temos que a tese (I) e a antítese (II) exercem influência direta sobre a síntese (III) e a posição (IV), respectivamente. Ou seja, a tese e a antítese proporcionam as bases para o desenvolvimento subsequente da síntese e da posição.

    "I e II são ligados por determinação recíproca de III e de IV": Este enunciado destaca a relação interdependente entre a tese e a antítese, a síntese e a posição. A tese e a antítese não são entidades isoladas, mas estão intrinsecamente relacionadas por meio da síntese e da posição. A superação das afirmações em oposição, apresentadas pela tese e pela antítese, se dá por meio da síntese, já a resposta dada pelo sujeito conhecedor à “síntese” se mostra como sendo a “posição”.

Nesta estrutura quíntupla temos a representação esquemática do pensamento dialético apresentado por Fichte. A partir da contradição presente entre afirmações contraditórias presentes na tese e na antítese, é gerado uma síntese. Diante da síntese o sujeito conhecedor precisa tomar uma atitude e ação, que é a “posição” adotada. Diante da “posição” que o sujeito assuma perante a “síntese”, podemos ter o surgimento de uma “oposição”, recomeçando todo o processo em um novo ciclo quíntuplo. Muito importante aqui é a ideia de que o conhecimento não é algo fixo, definitivo e estático, mas sim, um processo contínuo, dinâmico e em constante evolução por meio do confronto entre ideias, afirmações, conceitos que se encontrem em oposição, buscando sempre por novas e mais adequadas soluções e deste modo fazendo o conhecimento humano progredir de modo contínuo.

Esta é uma abordagem filosófica complexa que visa mostrar como se dá o processo de construção do conhecimento e da nossa realidade. Este processo apresentado por Fichte em cinco etapas se diferencia do apresentado por Hegel, em três etapas. A princípio ambos os processos podem parecer deveras semelhantes ou mesmo idênticos, mas tal não é o caso. Além do número de etapas serem diferentes, cinco em Fichte e três em Hegel, temos que o processo dialético entendido por ambos os filósofos apresenta outras nuances que os distinguem.

Em Fichte, resumidamente, temos que:

Síntese quíntupla

1- Tese: A afirmação inicial.

2- Antítese: A negação ou oposição à tese.

3- Síntese: A reconciliação e interação entre tese e antítese.

4- Posição: A resposta individual à síntese.

5- Oposição: Pode surgir como consequência da “posição”, iniciando um novo ciclo.

 

Em Hegel, resumidamente, temos que:

Tríade dialética

1- Tese: A afirmação, enunciado ou ideia inicial.

2- Antítese: Negação ou oposição a tese.

3- Síntese: Reconciliação entre tese e antítese, de modo a superar a ambas, transcendendo-as.

Como já falei acima, o número de etapas é diferente em ambos autores, o que significa que em Fichte temos duas etapas intermediárias (posição e oposição) a mais que em Hegel, já que tais etapas não estão explícitas no sistema proposto por Hegel.

Em Hegel temos que a síntese desempenha um papel central em seu sistema dialético, apresentando o estágio no qual a contradição existente entre tese e antítese é superada e transcendida. Já no pensamento de Fichte a síntese é entendida como sendo uma etapa intermediária dentro do processo, levando à “posição” e, na sequência, a possibilidade de “oposição” para recomeço de um novo ciclo dialético.

O pensamento de Hegel é pautado na ideia de uma totalidade (espírito ou Geist) dentro de um processo em constante evolução da história universal. Por sua vez, Fichte se pauta no indivíduo, na mente, na consciência individual, para a construção do conhecimento pelo prisma da pessoa diretamente envolvida, este sujeito conhecedor, esta consciência individual, o “Eu individual”. Enquanto para Hegel temos o desenvolvimento de um sistema filosófico e metafísico que busca abarcar toda a realidade histórica dentro do conceito de “espírito”, Fichte, por sua vez, se ocupa da construção do conhecimento do sujeito pensante, a consciência individual, o “Eu individual”.

Deste modo, embora ambos filósofos (Fichte e Hegel) façam uso de uma estrutura dialética semelhante visando analisar e entender o desenvolvimento do pensamento e da realidade, suas doutrinas apresentam nuances que os tornam distintos no tocante à ênfase dada à metafísica e ao real papel desempenhado pela síntese dentro do processo.

Fichte inicia seu sistema filosófico pela ideia do “Eu absoluto” ou, segundo outros comentadores, “Eu puro” ou “Eu infinito” ou “Eu universal”. Aqui temos o núcleo da realidade e da existência. Trata-se de uma unidade infinita e indeterminada que é, portanto, anterior a qualquer distinção ou diferenciação. O “Eu absoluto” se põe a si mesmo. Fonte primordial de tudo que há e princípio indeterminado. O “Eu absoluto” se mostra como o princípio formal e material do conhecer. O “Eu absoluto” consegue superar o limite do “não Eu” por meio da mediação do conhecimento, trazendo o “não Eu” para dentro da consciência do “Eu”. O Eu absoluto se apresenta como sendo inteligência absoluta, algo ativo e sem qualquer restrição, trata-se do princípio do qual são derivadas todas as demais coisas existentes. O "Eu absoluto" representa o princípio fundamental do conhecimento e é considerado ativo e ilimitado, livre de qualquer restrição. Ele é o ponto de partida da filosofia de Fichte.   O “Eu absoluto” não é passivo e sim ativo. Ele supera os limites diante do “não eu” por meio de um processo de mediação do conhecimento, pelo qual esta realidade externa ao “Eu absoluto” é trazida para dentro da consciência, passando a integrar o conhecimento.

O segundo elemento que surge é o conceito de “não Eu”, que também é posto pelo “Eu absoluto” quando em contato com tudo que dele não faz parte, outras coisas, objetos e consciências. Aqui temos o mundo exterior ao “Eu absoluto”. A partir do “Eu absoluto”, temos o surgimento do “não Eu” e do “Eu individual”, pois, o “Eu absoluto” precisa de um contraponto, de uma antítese. O “Eu absoluto” se põe a si próprio e também há de por a existência de um “não Eu”, enquanto uma ação que este efetua.

A partir da interação do “Eu absoluto” com o “Não Eu” surge o “Eu individual” ou “Eu finito”. Aqui temos a formação da consciência individual enquanto projeção do “Eu absoluto”, menos que uma entidade totalmente separada, trata-se do momento de autoconsciência do “Eu absoluto”. No “Eu individual” temos a tentativa por parte do “Eu absoluto” de conhecer a si-próprio, de se diferenciar enquanto produto da atividade de uma consciência. Este desenvolvimento se dá a partir da tentativa de superação do “não Eu” por meio da autorreflexão e do autoconhecimento, formando a individualidade da consciência humana. O “Eu individual” surge da interação do “Eu absoluto” com o “não eu”, o "Eu finito" é a consciência individual limitada.

A filosofia para Fichte se dá como um constante processo de autoconsciência, no qual busca-se uma melhor compreensão das relações que envolvem o “Eu”. É o “Eu absoluto” se pondo diante do “não Eu” e gerando o “Eu individual”, a consciência individual humana.

Segundo o pensamento deste filósofo, ao retirarmos a coisa em si kantiana, o númeno, o que sobra é somente o fenômeno, única coisa da qual temos conhecimento. Este conhecimento há de formar o “Eu absoluto”, que não admite um conhecimento fora de si mesmo. Esta coisa pensante existe e possui a intuição de si mesmo como sendo o “Eu”. Este “Eu absoluto” tem a intuição de si mesmo enquanto ação que exerce sobre algo, sendo este algo o “não eu”. O universo passa a ser este objeto sobre o qual recai a ação deste “Eu absoluto”. Ao se afirmar como atividade, cria-se a necessidade também do “não Eu”, lugar desta ação. O absoluto se explica por meio de sujeitos ativos e do “não Eu” onde é realizada toda a ação. Se não houvesse o “não Eu” não seria possível haver qualquer tipo de ação no tempo e no espaço.

Fichte, como os demais filósofos do Idealismo alemão, rejeita a ideia kantiana da “coisa em si”, o númeno, ou seja, algo real completamente fora da consciência, algo externo ao “eu” que pensa. Segundo o pensamento exposto por Kant, teríamos uma realidade totalmente independente da experiência, algo que se apresenta como externo a consciência e que não nos seria possível conhecer diretamente, mas somente por mediação da forma como nossa espécie percebe e organiza o mundo circundante. Já para os autores do Idealismo Alemão, esta ideia era tida como problemática e podendo levar a conclusões negativas, como o ceticismo, por isto, descartaram este conceito e focaram seus trabalhos na consciência, pela qual nos seria possível construir o conhecimento da realidade, a ênfase, portanto, se dá na atividade da mente humana.

Kant apresenta a noção de númeno ou coisa em si, que é descartada por Fichte e pelos demais membros do Idealismo Alemão. Ao retirar o númeno, só sobra a realidade fenomênica contida na consciência. Posso dizer que esta realidade sem o númeno é o "Eu absoluto" e que este se põe a si próprio enquanto realidade. Em um segundo momento, este "Eu absoluto" põe o "não Eu". Este "não eu" é tudo que seja externo ao “Eu absoluto”. Da relação entre o "Eu absoluto" e o "não Eu" é posto o "Eu individual" ou “Eu divisível”.

Em sua obra, se afasta da doutrina kantiana que afirma a divisão entre númeno e fenômeno, para Fichte só teríamos a realidade fenomênica, não havendo a coisa em si ou númeno, conceito este que, segundo seu pensamento, tenderia a encaminhar para o ceticismo. Com isto se abandona a ideia da existência de um mundo real fora da esfera da consciência humana.

No tocante à economia desenvolvida no Estado, se afasta das ideias provindas do livre comércio entre as pessoas e as nações, defendendo um Estado economicamente fechado e provedor das necessidades dos trabalhadores, em uma forma de socialismo. Entende que o mercado, com as livres trocas desenvolvidas no comércio, é algo irracional e que deva ser substituído por um Estado que tudo regule, atuando de modo protecionista, o que aparece mais fortemente na sua obra “O Estado comercial fechado”, 1800.

Fichte se afasta da concepção de livre mercado, defendendo um Estado economicamente fechado e intervencionista, chegando mesmo a apresentar traços de socialismo no desenvolvimento de seu pensamento econômico-social.

Entendemos por livre mercado a uma abordagem teórica-conceitual que defende o livre comércio entre pessoas e Estados. Trata-se de modelo econômico que estimula a liberdade de trocas comerciais acreditando que tal irá trazer benefícios econômicos para todas as partes envolvidas. Segundo Fichte, no entanto, o livre comércio é algo irracional e que não atenderia as necessidades dos trabalhadores, bem como, aos interesses do Estado.

Ao defender a ideia de um Estado economicamente fechado, Fichte propõe que o governo desempenhe um papel mais ativo, regulando e controlando a economia. Neste modelo proposto por Fichte, o Estado passa a ter um papel central na determinação daquilo que é produzido, como se dá esta produção e quais os recursos serão alocados para a mesma. Trata-se de um Estado intervencionista.

Quando falamos em “socialismo”, nos reportamos ao conjunto de ideias proposto por Fichte e geralmente presentes na concepção de um Estado socialista, ou seja: ser um Estado economicamente fechado, intervencionista na produção e economia, que atue na proteção dos trabalhadores, que regulamente o mercado. Que fique claro, no entanto, que Fichte não adota esta terminologia, ou seja, o uso da expressão “socialismo” para descrever o seu Estado ideal. Ora, no socialismo temos a propriedade coletiva ou estatal dos meios de produção e também a busca por uma distribuição mais equitativa dos frutos do trabalho exercido por todos, uma distribuição das riquezas, provendo as necessidades dos trabalhadores e regulando a economia, ideias estas, presentes no pensamento de Fichte.

Nesta obra “O Estado comercial fechado”, 1800, temos uma das principais expressões das ideias de Fichte sobre economia e política, destacando a importância central do Estado como regulador e provedor, bem como, protecionista. Por protecionismo entendemos a imposição de barreiras e tarifas alfandegárias visando controlar o comércio entre as nações, protegendo, deste modo, a indústria nacional da concorrência provinda de outras nações, buscando por meio da regulação e controle da economia a proteção dos interesses regionais e a autossuficiência econômica. Fichte, neste tocante, entende que a autossuficiência econômica é algo fundamental para a proteção dos interesses, segurança e independência do Estado.

A filosofia escolhida pelo humano filósofo diz muito sobre quem é este humano, pois, a filosofia não é algo inerte, ela é fruto do espírito deste humano filósofo. Estamos aqui diante da relação intrínseca presente entre a filosofia escolhida, a identidade da pessoa e a perspectiva na qual isto se dá, por parte do filósofo. A escolha de uma dada filosofia não se dá meramente no nível intelectual, sendo um ato de autodeterminação e afirmação da consciência. Fichte concede grande ênfase na subjetividade, na atividade presente na mente humana, para a construção do conhecimento e da realidade. O “eu” é ativo e criador, sendo a filosofia que a pessoa escolhe para si, uma manifestação desta atividade do “eu”. A filosofia há de refletir como o filósofo compreende a si mesmo e ao mundo ao seu redor. A filosofia ultrapassa um conjunto de ideias, sendo parte integrante da identidade, da autenticidade, da experiência e compreensão da realidade por parte do filósofo. A escolha da filosofia por parte do filósofo é também uma tentativa de dialogar com as influências provindas do contexto histórico cultural de sua época, as circunstâncias políticas, econômicas, culturais e intelectuais, sendo expressão do “eu” nesta relação, refletindo sua busca por autenticidade, compreensão e expressão do “Eu absoluto”.

As questões provindas da ética e da moral surgem mais particularmente no livro "Fundamentos da Doutrina da Ciência" (Grundlage der gesamten Wissenschaftslehre), 1794, e em escritos posteriores, desempenhando um papel importante no sistema deste filósofo.

Alguns comentadores associam Fichte à ética do dever, a deontologia, enfatizando a importância do dever moral para fundamentar a ação ética. Segundo Fichte, a moralidade se baseia na vontade livre de agir de acordo com deveres racionais.

O filósofo valoriza em sua obra a autonomia moral, enfatizando que as pessoas possuem capacidade de autodeterminação moral, podendo agir de acordo com a razão e o dever. As pessoas não são impelidas cegamente por impulsos ou desejos irracionais em suas ações. Neste tocante, o entendimento de Fichte sobre a “liberdade” é que esta se mostra como a capacidade que as pessoas possuem de empreenderem suas ações de acordo com a moral.

A autoconsciência implica na capacidade de reconhecer a lei moral e agir de acordo com a mesma. Na ética proposta por Fichte torna-se fundamental a consciência de si mesmo como sendo um ser moral. No entendimento de Fichte, temos um “ideal moral” que é o mais alto padrão moral que possa ser alcançado, uma representação da perfeição moral que guia a ação moral. As pessoas são desafiadas a superar as suas inclinações egoístas, havendo um conflito entre de um lado os desejos individuais e de outro, o dever moral, o que se apresenta como uma relação dialética cujo desfecho há de encaminhar o sujeito para o cumprimento do dever moral.

Em virtude de suas preocupações com questões sociais vinculadas à justiça e igualdade, sua ética não fica restrita ao indivíduo isolado, abrangendo a sociedade como um todo. Cabe à sociedade ser organizada de tal modo que possa permitir ao indivíduo a realização racional de seus deveres e ações morais. A religião, por sua vez, pode ser entendida como uma expressão da consciência moral, sendo que, a fé religiosa pode atuar de modo positivo diante do compromisso moral assumido pelo indivíduo.

Já quanto as principais obras de Fichte, podemos listar, dentre outras:

1- Ensaio de uma crítica de toda a Revelação (Versuch einer Kritik aller Offenbarung), 1792. – Primeira obra do autor e na qual aborda questões provindas da religião e filosofia.

2- Fundamentos da Doutrina da Ciência (Grundlage der gesamten Wissenschaftslehre), 1794. Neste trabalho apresenta a filosofia da ciência, expondo sua teoria do conhecimento e da moral.

3- Sobre o Destino do Sábio (Über das Schicksal des Weisen), 1794. Obra na qual aborda temas relacionados à filosofia prática e à ética. Aqui Fichte trabalha o conceito de “sábio”, debate sobre a natureza do conhecimento e da sabedoria, sobre o propósito da existência humana, sobre a relação existente entre a filosofia e a vida prática. Defende a ideia de que o verdadeiro sábio é aquele que busca constantemente o aperfeiçoamento moral e intelectual. A filosofia, segundo Fichte, tem um papel importante nesta busca empreendida pelo sábio. Nesta obra aborda, também, questões vinculadas à liberdade, à moralidade e à autorrealização. Enfatiza aqui a importância da autonomia moral e a constante busca pelo aprimoramento pessoal. Obra importante para entender o papel desempenhado pelo “sábio” na filosofia de Fichte, bem como, seu entendimento sobre ética, sabedoria e filosofia no tocante à vida humana.

4- Nova Doutrina da Ciência (Wissenschaftslehre nova methodo), 1796. Obra que se apresenta como continuação e desenvolvimento dos princípios já estabelecidos em “Fundamentos da doutrina da ciência”.

5- Doutrina da Ciência do Direito (Grundlage des Naturrechts nach Prinzipien der Wissenschaftslehre), 1796. Obra que aborda questões relacionadas ao direito natural e à ética, trata do direito, da justiça e da moral. Aborda os fundamentos filosóficos do direito.

6- A Vocação do Homem (Die Bestimmung des Menschen), 1800. Nesta obra aborda questões de ética e moral, debatendo sobre a natureza e propósito do humano.

7- O Estado Comercial Fechado (Der geschlossene Handelsstaat), 1800. Obra na qual aborda questões de política e economia, propondo uma organização política e econômica da sociedade. Nesta obra defende um sistema econômico no qual o Estado exerça forte intervenção, regulamentação e controle sobre a economia. Se posiciona contrário ao livre mercado, entendendo que as trocas comerciais entre as pessoas e as nações devam ser regulamentadas pelo Estado. No seu entendimento, as livres trocas comerciais são irracionais, podendo levar a desigualdades sociais e econômicas. Caberia ao Estado regulamentar a economia e intervir para proteger os interesses da nação e dos trabalhadores, garantindo o bem estar geral de todos na sociedade e atuando como o provedor das necessidades básicas dos trabalhadores, de modo a promover a justiça social.

8- Discursos à Nação Alemã (Reden an die deutsche Nation), 1807-1808. Obra composta por uma série de discursos proferidos em Berlim, por Fichte, entre os anos de 1807 e 1808 durante o período de ocupação pelas forças militares da França de Napoleão. Estes discursos se notabilizaram pela ênfase ao apelo a identidade nacional alemã, a melhora da educação, ao patriotismo, e a uma mobilização nacional visando superar as adversidades resultantes da ocupação francesa. Os discursos visavam promover a unidade e a autodeterminação da nação alemã. Credita-se a estas conferências um significativo resultado positivo na formação da consciência nacional alemã, do nacionalismo alemão.

9- A Doutrina da Ciência (Die Wissenschaftslehre), 1810. Nesta obra temos uma das últimas exposições do filósofo sobre seu sistema filosófico, abordando questões éticas, epistemológicas e políticas.

 

Silvério da Costa Oliveira.

 


 


 


 


 


 


 

Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.

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terça-feira, 17 de outubro de 2023

O politicamente correto e a manipulação das massas

 

Por: Silvério da Costa Oliveira.

 

Politicamente correto

 

O termo “politicamente correto” encontra-se no centro de um debate entre de um lado conservadores e de outro progressistas. Ocorre um verdadeiro embate político entre direita e esquerda ao redor do “politicamente correto”.

Já no século XVIII, nos EUA, encontramos menção ao termo “politicamente correto”, mas não com o atual significado. Na primeira metade do século XX o termo foi empregado para descrever o comportamento de militantes comunistas que seguiam à risca a doutrina emanada por Moscou. Com o atual sentido dado, no entanto, o termo começou a ser usado na década de 60 do século XX a par com os movimentos de “direitos civis”, a expressão se tornou comum e foi aos poucos ganhando força política a partir do final da década de 80 do século XX e é usada para descrever um comportamento de evitação de dizer ou fazer certas coisas, utilizar certas expressões, ou ter atitudes políticas ou desenvolver ações, que possam de algum modo ofender, excluir ou marginalizar certos grupos sociais. Geralmente tais grupos são tidos como as ditas minorias por não possuírem o mesmo status de poder que outros grupos teriam. Aqui normalmente se refere a gênero, orientação sexual, raça, ou alguma particularidade que a pessoa possa ter.


 

No Brasil convencionou-se chamar a este comportamento de “mimimi” ou “mimizento” fazendo referência a choradeira de algumas pessoas e grupos altamente melindrados que se ofendem com qualquer coisa, assumindo constantemente o papel de vítimas diante de seus algozes. Já nos EUA o termo adotado, numa tradução direta para o português, é “flocos de neve”, numa referência a fragilidade emocional destas pessoas diante da realidade da vida.

É nos meios educacionais (escola, universidades), políticos, e mesmo dentre os profissionais de humor, que tal embate se faz mais presente. O profissional que atua produzindo humor, os comediantes por exemplo, são altamente prejudicados e cerceados no seu trabalho, pois, praticamente tudo que possa ser motivo de humor, de uma brincadeira ou piada, acaba esbarrando no “politicamente correto”, sendo considerado ofensivo para determinados grupos sociais minoritários. Mas cabe justamente ao profissional do humor atuar de modo a explorar e expor os tabus sociais, questionar a moral, a ética e os ditos bons costumes sociais.

Nas empresas também se faz presente a exigência do “politicamente correto”, sob pena de serem prejudicadas financeiramente, seja pela intervenção oficial do Estado ou por campanhas de boicote, onde as mesmas são censuradas ou canceladas. Deste modo, busca-se um comportamento por parte destas empresas que valorize políticas e iniciativas de desenvolvimento sustentável, que sigam padrões sociais e ecológicos, bem como, que não apoiem pessoas ou instituições ou movimentos contrários a certas bandeiras políticas.

O termo pode ser usado para defender comportamentos e bandeiras da esquerda política, buscando uma mudança e transformação social entendida como progresso e evolução, ou, pode ser usado pela direita política para fazer referência a políticas e atitudes consideradas excessivas, desnecessárias e infantis para tratar com as pessoas em sociedade, estando vinculado ao comportamento de auto vitimização.

Quem defende o uso do “politicamente correto” o faz pensando ser uma defesa de grupos minoritários, buscando-se atingir uma linguagem neutra que evite ofender ou descriminalizar, acusando quem não faça uso do “politicamente” correto de atuar a favor do racismo, do sexismo, do machismo, da homofobia e outros mais.

Visando denunciar o patrulhamento ideológico da esquerda por meio do “politicamente correto”, bem como do cerceamento de liberdades individuais e da criação de uma narrativa própria e alternativa para a história, conservadores de direita passaram a usar o termo “politicamente incorreto” visando oferecer uma crítica e denúncia a prática e uso do “politicamente correto”.

Há quem trace paralelos com o livro “1984” de George Orwell, no qual a língua adotada oficialmente retira palavras de circulação e modifica o significado de outras. Também se tornou comum por parte de críticos de chamar a este movimento por “ditadura do politicamente correto”.

Para os críticos do “politicamente correto”, este é um instrumento de censura, contrário às liberdades individuais e a liberdade de expressão, busca separar artificialmente um determinado grupo de outro, criando dicotomias sociais e exacerbando o conflito e a segmentação social. O termo e sua aplicação nada teria a ver com a defesa da democracia ou dos direitos civis, trata-se na verdade de um discurso, uma narrativa sem fundamentação na realidade, é o uso de artifícios retóricos em prol de determinadas bandeiras políticas defendidas pela esquerda em sua busca pelo poder. Teríamos aqui uma bem sucedida tentativa de controlar os meios de informação e a grande mídia, bem como, controlar o uso da linguagem e as ações exercidas pelas pessoas comuns em sociedade. O efeito mais visível do “politicamente correto” seria sufocar o debate aberto e livre dentro da sociedade e deste modo contribuir para a destruição da democracia a partir de um discurso de defesa da mesma. Trata-se de uma aposta no desenvolvimento radical de uma ou várias condições de conflito social.

Numa observação inocente pode-se acreditar que o “politicamente correto” é uma defesa de grupos minoritários que historicamente exercem o papel de grupos oprimidos diante de grupos ou classes opressoras, no entanto não é bem assim. Menos do que defender vítimas, o “politicamente correto” cria as vítimas em um processo político de vitimização.

As bandeiras de defesa do “politicamente correto” acabam gerando pessoas que se ofendem muito facilmente com o que os outros dizem ou fazem, praticamente se ofendem com quase tudo. Há quem defenda que o “politicamente correto” traga maior tolerância, mas o que ocorre é justamente o oposto, uma total criação de intolerância, exigindo que as demais pessoas se sujeitem a um molde pré-definido socialmente sobre o que seja o certo e o errado para se fazer ou dizer, sob pena de ser mortalmente “cancelado”.

O politicamente correto atua como uma forma de controle social sobre o que as pessoas podem dizer ou fazer. Quando alguém defensor do politicamente correto é questionado por alguém de direita, pode argumentar que tal coisa não existe, que não existe o “politicamente correto”, somente existe educação por parte das pessoas com o trato com outras pessoas, em particular, grupos minoritários. A estratégia de negação também pode incluir denegrir o adversário, chamando-o de fascista, nazista, extrema direita ou questionando sua cultura ou poder social, ou seja, negar, mudar o significado, denegrir a pessoa ou grupo que aponta para a manipulação presente no uso do “politicamente correto”.

A língua usada por um povo está em constante mudança e evolução, mas isto deve ocorrer naturalmente dentro da cultura deste povo e não imposto por supostos detentores de um saber supremo. Existe uma clara diferença entre uma mudança que ocorra de modo espontâneo dentro da cultura de um povo, por meio do consenso entre os falantes, de algo outro, onde grupos de posse de algum instrumento de poder, seja este o poder político, judiciário, ou a instituição escolar (escolas, universidades), decidam e imponham mudanças na forma de falar e nas palavras a serem usadas. Estas mudanças artificiais não tem apoio popular e acabam sendo usados quase que só exclusivamente pela mídia e por ativistas de esquerda. São os ativistas políticos e a imprensa engajada politicamente nas bandeiras da esquerda identitária que condenam palavras de suposta conotação preconceituosa.

Por baixo de medidas políticas progressistas pautadas no “politicamente correto”, muitas vezes encontramos disfarçadas medidas que contém profundo autoritarismo e intolerância. O “politicamente correto” é uma ferramenta usada por determinados grupos políticos ideológicos com fins de censura, constrangimento imposto, destruição de carreiras e reputações, que não beneficia em coisa alguma a sociedade e sim, tende a dificultar o livre exercício do pensamento e suprimir as liberdades individuais, bem como, a liberdade de expressão. Temos que aqui encontramos, também, defensores de leis altamente autoritárias.

 

Silvério da Costa Oliveira.

 


 

Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.

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