Professor Doutor Silvério

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Silvério da Costa Oliveira é Doutor em Psicologia Social - PhD, Psicólogo, Filósofo e Escritor.

(Doutorado em Psicologia Social; Mestrado em Psicologia; Psicólogo, Bacharel em Psicologia, Bacharel em Filosofia; Licenciatura Plena em Psicologia; Licenciatura Plena em Filosofia)


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terça-feira, 28 de março de 2023

Thomás Müntzer: A Reforma radical

 

Por: Silvério da Costa Oliveira.

 Thomás Müntzer (Muentzer ou Münzer)

 Thomás Müntzer (1490-1525), nasce em Stolberg, pequena vila na Alemanha, e falece em Mühlhausen, na Baviera, Alemanha. Teólogo, estudou o grego, hebraico e latim. Foi ordenado padre em 1513.


 

Atuou como líder de uma corrente mais radical da Reforma, se colocando contra Lutero e a favor dos anabatistas. Teve atuação durante a guerra dos camponeses e na batalha de Frankenhausen, que culminou com a derrota dos camponeses rebeldes, Müntzer foi preso, torturado e por fim, decapitado.

Müntzer se apresenta dentro do contexto da Reforma iniciada por Lutero como um representante do que podemos chamar de “Reforma radical”, mas de modo consequente, onde elabora suas ideias e participa mais ativamente do movimento entre 1520 e 1525. Entende que a fé é revolucionária, pois, liberta o crente das amarras da letra escrita e lhe confere força para realizar o Reino de Deus na Terra.

Müntzer suscita polêmica até os presentes dias. Ao buscarmos uma compreensão e interpretação do seu real significado, nos encontramos com diferentes interpretações sobre o real papel político que ele teria desempenhado. Passando por teólogo vinculado à Reforma até um revolucionário radical, temos que para os protestantes ortodoxos ele se apresenta como um anabatista, já para os anabatistas ele é percebido como alguém que é um verdadeiro mensageiro de Deus por meio do evangelho. Os católicos entendem que ele é consequência do individualismo presente nas doutrinas de Lutero e outros protestantes. Os que hoje seguem uma vertente histórica-marxista, tendem a vê-lo como alguém que teria atuado como o grande ideólogo da revolta dos camponeses e o primeiro político cosmopolita, um tipo de proto-comunista.

Já que Müntzer fez parte da liderança de grupos de camponeses anabatistas, cabe explicar melhor o significado do termo, atentando que vários e distintos grupos eram assim chamados e que para Müntzer o re-batismo não era algo de vital importância. Anabatistas (do grego ana = novamente e batistas = batizar, batizar novamente). Apesar do uso do termo já se encontrar na Antiguidade, trata-se aqui, neste contexto, de uma ala radical do movimento protestante no século XVI, sendo uma designação genérica dada a movimentos religiosos que não reconhecem qualquer validade ou importância ao batismo nas crianças, defendendo que deverá ser ministrado a adultos. Eram assim chamados por batizarem novamente todos aqueles que já haviam sido batizados quando crianças, pois, entendiam que o batismo só tinha valor quando em adultos conscientemente convertidos a Cristo. Somente os grupos não radicais e não revolucionários, que adotavam uma postura pacifista, sobreviveram até os dias atuais, possuindo diversas denominações de acordo com suas crenças.

Müntzer une em seu discurso a religião com a política, apresentando uma atitude revolucionária e, com o contato que fez com os anabatistas, passa a criar a base teórica da revolução camponesa. Une-se aos anabatistas, bem como, com outros grupos revolucionários de camponeses alemães contra a nobreza alemã. Alguns comentadores do período calculam em mais de 100 mil mortes decorrentes deste conflito entre camponeses revoltosos e a nobreza alemã.

Os camponeses e seus líderes se pautavam em uma interpretação da Bíblia, com a qual afirmavam terem nascido livres e em igualdade. Reivindicavam a livre escolha de seus líderes religiosos, abolição da servidão presente na relação entre senhor e servo, diminuição dos impostos pago aos nobres, contrários ao dízimo pago à Igreja Católica, defendem a liberdade de fazerem uso para caçar, e outras necessidades de sobrevivência, nas florestas pertencentes a nobreza.

Lutero, por sua vez, não concorda com o radicalismo expresso por Müntzer e entende que os camponeses devem obediência ao poder secular representado pelos nobres, pois esta é a vontade de Deus, deste modo, Lutero condena as doutrinas de Müntzer e apoia os nobres alemães contra a revolta dos camponeses.

Segundo o pensamento de Müntzer, a essência do cristianismo está na humildade, na igualdade, na solidariedade, e na divisão dos bens dos fiéis. Defendia criar o Reino de Deus na Terra e para tal entendia ser necessário eliminar todos os não crentes. Apresentou, também, uma forte crítica e oposição radical não somente à Igreja Católica Apostólica Romana, mas também aos nobres alemães e, como Lutero apoiava e era também apoiado pelos nobres alemães, passou também a se opor a Lutero.

Müntzer é adepto do denominado cristianismo primitivo e como tal, defende os princípios de igualdade, solidariedade, humildade e divisão de bens entre os cristãos. Para ele, a essência do cristianismo estava na humildade e na ação de graças. Sua atividade proporcionou a união entre religião e política, atuando como um fator para a desestruturação do feudalismo alemão e no restante da Europa, suas ideias resultaram em uma forma de cristianismo socialmente militante na busca de reformas não somente religiosas, mas também sociais.

Müntzer defende o fim da propriedade privada e também das instituições do Estado. A sociedade igualitária buscada por Müntzer como ideal cristão só seria possível de ser construída por meio da força das armas, palavras apenas não bastariam.

Müntzer entendia que as pessoas mais simples eram mais capazes de compreender sua pregação do que os nobres e ricos, pensava que a Igreja cristã devia se colocar ao lado dos mais simples, mas que assumia uma postura oposta, estando a Igreja sempre ao lado dos ricos e poderosos.

Segundo Müntzer a verdadeira compreensão de Deus e seus desígnios não vem por meio da autoridade do clero, de homens santos, de escritores cristãos ou mesmo das escrituras, pois, mais importante que o que está escrito na Bíblia é a presença do Espírito Santo dentro do crente, é escutar a voz do Espírito Santo que nos fala de dentro de nosso ser. Por meio de seus estudos bíblicos e do convívio com as ideias presentes no contexto da Reforma, entendia que a palavra de Deus não está unicamente presente nos textos da Sagrada Escritura, pois, o Espírito Santo não parou de se revelar ao crente. Aqueles que se dispõem a escutar, são inspirados pelo Espírito Santo. O estado final e perfeito da humanidade seria atingido por uma experiência direta do Espírito Santo e da vontade de Deus.

 Silvério da Costa Oliveira.

 

Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.

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quinta-feira, 23 de março de 2023

Martinho Lutero (Martin Luther): A Reforma religiosa

 

Por: Silvério da Costa Oliveira.

 Martinho Lutero (Martin Luther)

 Martinho Lutero (1483-1546) estudou direito, teologia e filosofia. Em 1505 ingressa no convento, tendo se ordenado sacerdote em 1507. Quando em 1510 visita Roma em missão representando seu convento agostiniano, encontra uma cidade cheia de problemas e um clero corrompido. Esta visita há de marcar bastante a Lutero. No ano de 1517 afixa na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg suas 95 teses contra as indulgências, sendo que neste momento não se opõe à autoridade de Roma. Em 1518 é chamado a Roma para explicar as suas teses, mas por intervenção de algumas autoridades, é dispensado de ir, em seu lugar recebe a visita de um representante do papa. Em 1520 o papa Pio X condena por meio de uma bula as doutrinas de Lutero. Em janeiro de 1521 é excomungado. Em abril de 1521 participa da Dieta de Worms, sob salvo conduto do imperador Carlos V. Após a sua participação na Dieta de Worms, quando retornava com outro frade para sua cidade, é sequestrado e levado em segurança para o castelo de Wartburg a mando de Frederico III, o sábio. Em 1531 (publicada em 1534) termina sua tradução da Bíblia, Antigo e Novo Testamento (Lutero termina a tradução do Novo Testamento entre 1521 e 1522 e publica-o em setembro de 1522), para a língua alemã. Antes desta tradução já existiam outras do latim para o alemão (baixo e alto alemão), mas a tradução de Lutero foi mais marcante e importante historicamente, mesmo não sendo a primeira. Lutero traduziu diretamente do hebraico o Antigo Testamento e do grego o Novo Testamento, para o alemão.


 

Alguns consideram como marco inicial da Reforma Lutero ter afixado na porta da igreja as suas 95 teses, escritas em latim, no ano de 1517, sem dúvida, fato mais conhecido e divulgado até os presentes dias (mesmo podendo não ser verdadeiro em sua íntegra, pois, apesar de ter escrito as teses e as divulgado, há questionamentos sobre se teria ou não fixado as mesmas na porta da igreja), no entanto, outros comentadores entendem o ano de 1530 como o marco do princípio do Luteranismo, com a “confissão de Augsburgo”.

No século XV, mais especificamente entre os anos de 1439 e 1400, Gutenberg inventou e desenvolveu a imprensa com tipos móveis, o que foi bem útil para a divulgação das ideias de Lutero no século seguinte. As 95 teses foram impressas, traduzidas para o alemão e outras línguas, em algumas semanas toda a região de língua alemã já tinha acesso as mesmas e em dois meses, toda a Europa. Este pode ser considerado o primeiro evento no qual a invenção da imprensa exerceu um papel de suma importância na distribuição e divulgação das novas ideias presentes neste documento para uma ampla região e população.

O pai de Lutero tinha o desejo de ter um filho advogado e funcionário público na família, o que daria não somente status, mas também uma melhor condição financeira. Um fato pitoresco é contado para explicar porque Lutero largou os estudos em Direito e se voltou para a vida religiosa. É narrado do seguinte modo: um dia, retornava Lutero após visitar a casa dos pais quando repentinamente foi apanhado por uma forte tempestade com relâmpagos, trovões e raios. Um raio caiu bem perto dele, quando caminhava pela estrada e eram muitos raios cortando os céus e caindo. Neste momento de desespero fez uma promessa a santa Ana que caso a tempestade parasse e ele pudesse sair dali a salvo, entraria para a vida religiosa, tornando-se um monge. Como a tempestade parou, Lutero cumpriu sua promessa e ingressou na Ordem Agostiniana em Frankfurt, no dia 17 de julho de 1505.

Dentre as reformas adotadas estava presente a que abolia o celibato presente na vida religiosa da Igreja de então, a partir disto, no ano de 1525 Lutero casou-se com Catarina de Bora (Katharina von Bora) com quem teve seis filhos. Catarina, por sua vez, era freira, mas com a Reforma havia abandonado seu convento.

Há também um lado obscuro em Lutero na visão dos dias atuais, pois, se comportava e defendia o antissemitismo. Até o ano de 1536 se colocava de modo entusiástico a favor da conversão dos judeus ao cristianismo, mas como encontrou muitas dificuldades na concretização deste projeto, muda seu enfoque e já em 1543 publica “Contra os judeus e as suas mentiras”, trabalho no qual apresenta grande oposição ao judaísmo. Lutero chegou mesmo a defender que ateassem fogo às sinagogas e escolas judaicas, afirmar que os judeus deveriam ter suas casas destruídas, seus bens e também seus livros religiosos apreendidos.

O início do movimento e as 95 teses, teve sua origem na oposição feita por Lutero a venda de indulgências, ou seja, prática comum autorizada pelo papa, na qual as pessoas podiam pagar e deste modo comprar, o perdão de seus pecados e sua salvação. Na época, a venda de indulgências objetivava arrecadar fundos para a construção da Basílica de São Pedro, no Vaticano.

O problema com a não aceitação da venda de indulgências se tornou mais claro com a visita a cidade de Lutero de um representante do papa para tal finalidade, o monge dominicano Johan Tetzel, que tinha como atribuição principal vender indulgências por toda a região da Alemanha e do qual temos um ditado que lhe é atribuído, a saber: "Tão logo uma moeda na caixa cai, a alma do purgatório sai."

Além da venda de indulgências, outra questão debatida e criticada por Lutero em seus sermões e escritos era a simonia, ou seja, a venda de coisas vinculadas a religião, sejam cargos na Igreja, ou supostas relíquias sagradas.

Outra questão também presente é a corrupção e decadência da Igreja presente não somente na venda de indulgências e na simonia, mas também no que alguns chamam de nicolaismo, doutrina pela qual os padres católicos podiam casar e terem mais de uma mulher, poligamia. Na prática o que temos é que apesar do voto de celibato, era comum encontrar pessoas do clero com relacionamentos e mesmo filhos provindos de tais relacionamentos. Podiam ter esposas não oficiais ou mesmo se relacionarem abertamente com prostitutas. Em Roma, segundo alguns comentadores do período, havia inclusive, bordel só para religiosos. O termo “nicolaismo” surge primeiramente como uma heresia na Igreja, sendo mencionado no Apocalipse. Seu significado inicial em grego era “conquistador de pessoas”, tendo como sentido a aceitação da poligamia ou o compartilhamento de esposas.

Temos, portanto, em Martinho Lutero, frade agostiniano, da Igreja católica apostólica romana, aquele que irá ser o responsável por dar início a um movimento de contestação de várias práticas então aceitas e presentes na Igreja no século XVI.

Destaca em seus escritos o caráter preponderante da fé para a salvação. A salvação se dá somente pela graça de Deus e o único livro sagrado se encontra nas Escrituras (Bíblia). Há uma separação quase que completa entre fé e obras, bem como, entre religião e ética. Também é negada a teologia natural.

Lutero acabou formulando implicitamente o princípio das cinco “solas” (somente): 1- fé, 2- escrituras, 3- Cristo, 4- Graça, 5- glória somente a Deus. A formulação explícita destes cinco princípios não foi feita por Lutero ou seus contemporâneos, e sim somente ocorre no século XX, por meio de um teólogo católico, visando resumir a doutrina luterana.

Sola fide (somente a fé)

Sola scriptura (somente a Escritura)

Solus Christus (somente Cristo)

Sola gratia (somente a graça)

Soli Deo gloria (glória somente a Deus)

Os princípios da reforma protestante apresentados pelo pensamento de Lutero têm alguns pontos centrais, como, por exemplo: a ideia do sacerdócio universal dos crentes, a justificação pela fé, a autoridade exclusiva da Bíblia em questões de fé, a pessoa salvadora de Cristo, bem como, só admitir dois sacramentos, o batismo e a eucaristia, enquanto eram sete os sacramentos presentes na Igreja Católica. Entenda que o casamento ocorre, mas não é entendido como um sacramento do mesmo modo que na Igreja Católica, onde não é possível a separação após a união por Deus, pois, cabe a possibilidade de separação em um casamento protestante luterano, mais se assemelhando a um casamento civil.

Vários fatores estiveram presentes e tornaram possível o sucesso do cisma provocado pela reforma protestante, fatores estes que favoreceram o êxito de um Lutero, e cuja ausência anos antes, em Florença, Itália, levaram Savonarola ao fracasso com sua tentativa. Lutero se mostrava insatisfeito com a situação religiosa que via na Igreja e há comentadores que vinculam esta insatisfação a sua viagem a Roma, motivada por questões relacionadas a ordem da qual fazia parte como membro do mosteiro, em 1510, Lutero teria presenciado fatos que o levaram a concluir pela falta de espiritualidade e corrupção entre os religiosos.

O bom êxito da Reforma tornou-se possível na medida em que Lutero teve adesão popular e de nobres alemães. Enquanto que os nobres percebiam este movimento como capaz de enfraquecer o poder do papa, diminuindo a influência da Igreja no poder secular, bem como um modo de se abster dos impostos devidos a Igreja, por sua vez, os camponeses vislumbravam neste movimento uma via de combate a opressão e a pobreza então reinante em sua região, o que gerou uma série de revoltas camponesas apoiadas por outros líderes religiosos, pois, Lutero pessoalmente não era a favor de tais revoltas camponesas, em parte pela violência explicitamente presente.

Podemos afirmar que as atitudes tomadas por Lutero foram pautadas em sua pessoal indignação e pela discordância com os então costumes e práticas adotadas pela Igreja. Com a Reforma, passamos a ter três grandes vertentes do cristianismo: A Igreja Católica, a Igreja Ortodoxa e a Igreja Protestante, fruto da Reforma. A Reforma também exerceu profunda influência em diversos setores da sociedade, bem como na economia e na política, além da educação, onde também proporcionou uma reforma no modo de educar, no sistema de ensino alemão, inaugurando o que podemos chamar de escola moderna. Pelo entendimento presente na Reforma, era importante ler a Bíblia para obter a salvação e para isto era necessário saber ler.

Na época histórica em que se encontrava Lutero, a educação era organizada e mantida somente pela Igreja. Coube a Lutero defender que fosse organizado um sistema educacional de frequência obrigatória e mantido pelo Estado e não pela Igreja. As alterações propostas por Lutero na educação abrangem a sua organização, seus princípios e fundamentos, defendendo que a educação seja dada a todos.

Após o começo da Reforma com Lutero, tivemos vários outros líderes que conduziram a reforma para um caminho próprio e particular, havendo, portanto, divisões no movimento, e não uma, mas várias Igrejas protestantes, que, inclusive, entravam em conflito entre si. Tivemos, portanto, diversas guerras religiosas nas quais se verteu muito sangue. Foram guerras entre católicos e protestantes, bem como, guerras entre os próprios protestantes, a partir das divisões ocorridas dentro da Reforma. O protestantismo não nasce uno com a Reforma, e sim múltiplo, e como tal se apresenta até os dias presentes.

 Silvério da Costa Oliveira.

 


 

Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.

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terça-feira, 21 de março de 2023

Girolamo Savonarola: Reformador da Igreja em Florença do século XV

 

Por: Silvério da Costa Oliveira.

 Girolamo Savonarola (Jerônimo Savonarola)

 Girolamo Savonarola (1452-1498), nasce em Ferrara, Itália. Seus estudos iniciais foram em medicina, objetivando seguir a carreira do pai, mas muda seus objetivos, optando pela vida religiosa. Em 1474 ingressa na Ordem dos Predicadores, se tornando frade dominicano. Atuou como pregador na cidade de Florença, na época do Renascimento italiano.


 

Sofre influência de Aristóteles por intermédio de Alberto Magno e Tomás de Aquino, bem como de Platão e do neoplatonismo por intermédio da Academia platônica de Florença, destacando-se neste caso a influência de Marsílio Ficino. Também sofre influência de Agostinho de Hipona e de Boaventura de Bagnoregio. Por todas estas influências filosóficas, provenientes de tão distintas tradições, temos em Savonarola um pensador eclético. Como religioso cristão, no entanto, todas estas doutrinas filosóficas ficam subordinadas a sua crença religiosa.

A partir de agosto de 1490 começa no púlpito da igreja de São Marcos, em Florença, sermões nos quais apresentava sua interpretação do Apocalipse. Estes sermões tiveram grande sucesso entre o povo da cidade.

Savonarola defendeu a reforma da Igreja, da fé e dos costumes então vigentes na sociedade e nas pessoas individualmente. Entendia que o papel da filosofia seria educar para que as pessoas pudessem ter uma vida mais próxima de Deus.

Savonarola se via como profeta e assim atuava em seus escritos e discursos. Vinculou a corrupção então presente na Igreja aos pecados e modo de vida libertino. Entendia o então rei da França, Carlos VIII, como um tipo de libertador bíblico, tal o caso do rei Ciro, o grande.  Quando Carlos VIII invadiu a Itália, ameaçando a cidade de Florença, em 1494, conseguiu apoio para retirar do poder a família Médici, passando a formar um governo que assumia que Jesus era o rei, um tipo misto entre teocracia e democracia.

Se tornou conhecido por suas profecias, bem como, pela destruição de objetos de arte em eventos que ficaram conhecidos por “fogueira da vaidade”, nos quais tais obras eram queimadas, sendo a mais conhecida a fogueira de 7 de fevereiro de 1497.

Nestas fogueiras, objetos tidos como vinculados ao luxo e à vaidade pessoal, podendo levar as pessoas ao pecado, eram sumariamente queimados. A lista de tais objetos era bem grande e podia incluir desde espelhos, cosméticos, roupas finas, baralhos de cartas, instrumentos musicais, até mesmo obras de arte (pinturas, esculturas) e livros que pudessem ser acusados de imorais.

Savonarola proibiu o jogo, a bebida e as festas, e de certo modo, atuou como um elemento de oposição ao contexto social econômico político e artístico que configurava a Renascença italiana então presente na cidade de Florença, maior foco renascentista da época.

Atuou como reformador da Igreja e por tal motivo acabou ao final sendo condenado a morte acusado de heresia. No final, Samonarola foi excomungado em 13 de maio de 1497 e em 23 de maio de 1498, foi executado, sendo primeiramente enforcado e depois queimado em praça pública, conjuntamente com outros dois monges de seu mosteiro, por ordem do papa Alexandre VI, com o qual Savonarola havia se indisposto desde 1495. As suas cinzas foram dispersas no rio Arno.

A história o julgou de modos distintos e diversos. Para o posterior Iluminismo, no século XVIII, foi visto como um impostor, louco e fanático medieval, alguém que se esforçou para ir e levar consigo a sociedade, em sentido contrário ao do progresso e desenvolvimento. Já para alguns do povo da cidade de Florença, logo após sua morte, foi considerado um homem santo. No ano de 1523, Martinho Lutero confere a Savonarola o título de mártir e precursor do protestantismo. Niccolò Machiavelli (Nicolau Maquiavel) o chamará de “profeta desarmado”, argumentando no seu livro “O príncipe”, que a história registra que todos os profetas armados venceram e os desarmados fracassaram.

 Silvério da Costa Oliveira.

 


 

Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.

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quinta-feira, 16 de março de 2023

Thomas More (Morus): O autor de "Utopia"

 

Por: Silvério da Costa Oliveira.

 

Thomas More (Morus)

 

Thomas More (1478/1480-1535), nasce em Londres, Inglaterra, santo pela Igreja Católica Apostólica Romana e também pela Igreja Anglicana, beatificado pelo papa Leão XIII em 1866 e canonizado pelo Papa Pio XI em 1935.

Estudou Direito e as línguas latim e grego, filósofo, ocupou diversos cargos públicos na Inglaterra, atuou como diplomata, escritor, advogado e homem de leis. Vários comentadores e estudiosos de sua obra o consideram um dos grandes humanistas do Renascimento.

Em sua época histórica não era comum para as mulheres estudarem, mas More quebrou este paradigma fornecendo uma excelente e clássica educação para todos os seus filhos, não separando os homens das mulheres neste quesito.


 

Insere-se dentro do movimento humanista de sua época. Sofre influência de Aristóteles, Tomás de Aquino e da Escolástica. Seu livro mais famoso é “Utopia” (“...do melhor estado de uma república e sobre a nova ilha de Utopia...”), 1516. Em 1518, escreveu outra obra importante, “A História de Ricardo III”, considerada a primeira obra-prima da historiografia inglesa e que há de influenciar obra análoga de William Shakespeare.

Em 1521 tornou-se cavaleiro (Knight). Dentre os vários cargos nos quais atuou quando no governo, cabe destaque o cargo de Lorde Chanceler do Selo Real, 1529 até 1532. Quando estava a serviço do rei da Inglaterra, Henrique VIII, entre 1529 e 1533, negou-se a firmar a ata da supremacia que objetivava questionar a autoridade papal, tornando o rei da Inglaterra a frente da Igreja em seu país, bem como, reconhecendo a separação do rei de sua esposa Catarina de Aragão e este casar-se novamente, com Ana Bolena, bem como, o reconhecimento da legitimidade dos filhos nascidos deste novo casamento, e por tal motivo, por negar tal juramento, More demitiu-se de seu cargo de chanceler e se afastou da corte, mas não adiantou, pois, passado algum tempo, foi preso e posteriormente decapitado.

Homem religioso, mantinha suas orações e devoção a Deus presente em sua vida. Como homem de Estado, mantinha seu comportamento ético de base cristã, não aceitando subornos e atuando do melhor modo possível dentro das funções de seu cargo. Após sua morte, ficamos sabendo que fazia penitência usando uma camisa de tecido desconfortável junto a sua pele, provocando incômodo e desconforto. O tecido de cilício usado por More por baixo de sua camisa de seda usada na corte do rei, normalmente é feito de crina ou pêlo de cabra e deve ficar junto a pele visando a mortificação ou penitência, trata-se de tecido áspero e grosseiro.

Thomas More foi um crítico da reforma protestante na Europa, se opunha a Lutero e defendia que o direito canônico estava acima do direito comum. No período em que foi chanceler da Inglaterra, 1529-1532, atuou de modo a perseguir e punir os que se afastavam da religião católica. Sua perseguição aos hereges e às heresias, bem como sua oposição a Lutero e à reforma protestante, nos traz um paradoxo quanto a sua vida, pois, enquanto assim atuava a frente do governo, por meio de seus escritos vemos algumas notas críticas à sociedade de sua época e à defesa da tolerância religiosa.

Seu livro Utopia é inspirado na República de Platão, detalha uma ilha na qual teríamos um Estado ideal, e por tal meio realiza uma crítica social às condições da Inglaterra a sua época. O título de sua obra provém do grego, “u” que é uma negação e “topos” que significa lugar, logo, “utopia” tem o significado de: lugar nenhum. More foi o criador da palavra “utopia”. Sua obra é uma utopia renascentista inspirada nos relatos provindos de marinheiros após a descoberta de novas terras, do novo mundo. Por vezes os habitantes destas novas terras eram descritos como pessoas felizes que viviam em estado de natureza.

O personagem principal da obra, que conversa com o personagem que representa Thomas More, é o marinheiro "nascido em Portugal", Rafael Hitlodeu, que narra sua viagem até a ilha de Utopia, descrevendo a sociedade que vivenciou durante sua estada no local. Neste livro fala sobre uma sociedade na qual os bens são comuns a todos, temos igualdade entre homens e mulheres em várias situações, e um governo feito por sábios. Em clara inspiração na obra “A República”, dista dela na medida em que para Platão os bens comuns ocorreriam somente entre duas das três classes existentes em sua cidade ideal. Para Platão, somente entre os governantes e os guerreiros haveria bens comuns e ausência da propriedade privada, já para Thomas More, esta situação se estenderia para todos na sociedade. Em verdade, não há classes sociais na Utopia de More. Defende a tolerância e o final das perseguições por motivos de crenças religiosas, no entanto, não admite os ateus. Para este autor, não seria possível viver neste Estado ideal quem não acreditasse na existência de Deus, na providência Divina e na imortalidade da alma.

Cabe à personagem da obra, o navegador português Rafael Hitlodeu, descrever tudo que conheceu quando lá esteve na ilha de Utopia. O livro se divide em duas partes, na primeira temos uma abordagem crítica a situação da Inglaterra na época em que o livro é escrito, já na segunda parte temos uma descrição de Utopia, de modo que o leitor possa comparar criticamente os prós e contras de ambas as sociedades. Apesar de crítico à sociedade de sua época, o livro também se mostra como uma sátira ao apresentar a sociedade da ilha de Utopia, seu objetivo, menos que defender uma mudança radical nos costumes e na política do Estado, é propor uma reflexão sobre formas de governo em busca de um modo melhor de governar, mas tendo como base um Estado cristão.

Além de Platão, temos presente a influência de Epicuro, onde o prazer moderado ganha lugar de destaque, bem como o ócio para ser desfrutado de modo moral e intelectual. Na sua cidade ideal o trabalho é organizado e distribuído de modo a não termos a servidão ao senhor. A felicidade dos que residem nesta cidade se dá por poderem ter prazeres simples e por não possuírem desejo por coisas supérfluas.

Em sua ilha a felicidade e tranquilidade social e religiosa se dá pela tolerância e o comunismo de bens. Em uma Europa onde se tornou comum a intolerância e as lutas religiosas, nesta ilha temos um lugar ideal onde tais lutas inexistem. Ele idealizou em seu livro uma sociedade perfeita, na qual haveria tolerância e liberdade religiosa, educação igual para homens e mulheres, jornada de trabalho de seis horas diárias, ausência de violência e os governantes atuariam em prol do bem comum do povo da cidade.

No livro “Utopia”, em linhas gerais, temos a elaboração de um contexto no qual possuímos uma sociedade na qual coisa alguma pertence a quem quer que seja, e na qual tudo é de todos, ou seja, a ausência da propriedade privada e a prevalência da propriedade coletiva. Nesta sociedade da ilha de Utopia, temos que o bem-comum é mais importante que o bem individual. A guerra é abominada e a caça é tida como loucura. Já quanto ao ouro e demais metais preciosos, tão cobiçados pelos europeus da época, não possuem o menor valor dentro desta comunidade, na qual temos a presença de escravos, dois por família, e que são presos por correntes de ouro, bem como, o ouro é usado na troca com outros povos, mas na ilha mesmo não circula moeda alguma representando dinheiro. Nesta ilha as pessoas trabalham somente seis horas diárias e podem dedicar seis ou oito horas para o sono reparador e o restante do tempo para atividades do seu interesse.

Apesar de abominarem a guerra e não darem valor ao ouro em sua ilha, ambas as coisas são mantidas. Se alguém de sua ilha for molestado por outro povo ou se houver necessidade de expansão territorial fora da ilha, a guerra se faz necessária, se bem que, neste caso, possa-se fazer uso do ouro para pagar mercenários para fazerem a guerra no lugar dos nativos da ilha de Utopia e, neste novo caso, o ouro também se faz necessário. Aliás, o ouro pode ser usado no comércio com outros povos, de fora da ilha.

Thomas More, e sua obra Utopia, não deve ser visto por um prisma social revolucionário, pois não é esta a intenção do autor, e sim propor uma reflexão sobre a necessidade de reformas sociais, a obra não é um manifesto e sim uma obra literária de ficção.

Apesar de revolucionário para sua época, ao sabor dos tempos atuais, a sociedade descrita no livro Utopia, carece de liberdade e traz algumas questões consideradas hoje inapropriadas, tais como a desigualdade presente entre homens e mulheres, a existência de trabalho escravo, uma organização social que exige disciplina e ordem ao mesmo tempo em que restringe liberdades individuais, como a de ir e vir, que tornam o governo desta ilha muito semelhante a governos hoje autoritários. Cabe citar, por exemplo, no caso desta vertente presente em um governo que hoje seria tido como autoritário, indicar que profissões os cidadãos deveriam seguir, uniformização das vestimentas, não valorização das liberdades individuais.

 Silvério da Costa Oliveira.

 


 

Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.

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