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Nicole d'Oresme: Uma mente brilhante a frente de seu tempo e no lugar errado

 Por: Silvério da Costa Oliveira.

 Nicole d’Oresme

 Nicole d’Oresme (1323-1382) ou Nicolas de Oresme. Nasce em 1 de janeiro de 1323 na Normandia, França, e falece em 11 de julho de 1382 em Lisieux, na França. Não se tem plena certeza quanto a data de seu nascimento, variando a mesma em alguns comentadores. Estudou teologia em Paris e atuou como mestre, no colégio de Navarra, pertencente a Universidade de Paris, em 1356. Foi professor e mais tarde reitor da Universidade de Paris. Também efetuou traduções do latim para a língua francesa, em particular de Aristóteles, e atuou como conselheiro do rei Carlos V, de França. Foi nomeado bispo de Lisieux em 1377.


 

Com múltiplos interesses (polímata), atuou em distintas áreas do saber, tais como: economia (destaque para seu tratado sobre as moedas, talvez o primeiro sobre a questão nesta época histórica), filosofia, matemática (se preocupou em fornecer descrições matemáticas de processos físicos), física (em particular a cinemática), astronomia, astrologia, biologia, psicologia, música, teologia. Pela grande quantidade de seus interesses, em diversas áreas do saber, pode ser considerado um precursor do ideal de homem do renascimento e pelos seus trabalhos em física, pode ser considerado um precursor também nesta área, ganhando um lugar na história do desenvolvimento da física moderna.

Ele é o primeiro físico que conhecemos por ter defendido a ideia, por meio de argumentos precisos, de que a Terra está se movendo no céu e não, como os demais acreditavam em sua época, de que a Terra está imóvel e tudo o mais no céu se move ao seu redor. Escreveu vários trabalhos em física e matemática, exercendo grande influência nestas áreas a sua época.

A partir da tradução por ele feita do livro Sobre os céus (De Caelo), de Aristóteles, e de sua análise e comentários, percebemos que ele trabalha com a noção de movimento relativo, no qual o fato do observador estar em movimento ou parado afeta sua observação sobre outro objeto, podendo levar a uma conclusão errônea sobre este objeto estar parado ou em movimento. Com isto argumentava que a Terra estava em movimento e era o céu que estava parado, sendo um precursor de autores posteriores, tais como Copérnico e Galileu Galilei.

Em seus escritos encontramos a base do movimento retilíneo uniformemente acelerado, o qual foi estudado por Nicole d’Oresme por meio do uso de gráficos. A representação gráfica da velocidade em função do tempo gera uma figura em forma de trapézio. Ele consegue por meio de seus estudos estabelecer a lei fundamental do movimento retilíneo uniformemente acelerado, que pode ser assim descrita: se a velocidade no instante zero (inicial) é nula, a distância percorrida é proporcional ao quadrado do tempo. A história, no entanto, acabou deixando a descoberta desta lei para Galileu Galilei, em virtude de seus estudos com o plano inclinado para verificar experimentalmente a aplicação desta lei a queda dos corpos, esquecendo da contribuição anterior de Nicole d’Oresme neste tema. Como os trabalhos de Nicole d’Oresme foram difundidos por toda a Europa, há comentadores que afirmam a possibilidade de Galileu Galileu ter lido a obra dele sobre esta temática e ter a mesma influenciado o trabalho de Galileu.

Conjuntamente com Jean Buridan, defende o conceito de impetus para explicar o movimento e se contrapor a tese de Aristóteles. Por impetus Buridan e posteriormente Nicole d’Oresme entende uma força externa aplicada ao objeto que lhe dá movimento, direção e velocidade. A diferença entre ambos é que Nicole d’Oresme desenvolveu mais este conceito, subdividindo-o em três partes (1- quando o objeto ainda está em contato com o agente, 2- quando o objeto movido violentamente é separado do agente movedor, 3- quando o objeto já em movimento começa a diminuir sua velocidade até por fim parar).

No tocante à astrologia teve um posicionamento crítico e de combate, também especulou sobre a possibilidade de outros mundos contendo vida inteligente. Na época de Nicole d’Oresme não havia uma separação muito clara entre astronomia e astrologia, geralmente quem estudava astronomia também opinava em previsões na astrologia. Nicole d’Oresme nega a predeterminação provinda da posição dos corpos celestes, pois, os humanos possuem o livre arbítrio, no entanto, aceita a influência dos astros no comportamento e estado de humor das pessoas. Homem de sua época, sua compreensão da astrologia e astronomia devem ser entendidas dentro de seu contexto histórico e não comparando-o com o conhecimento presente nos nossos dias atuais, deste modo, ele tenderá a negar algumas coisas que hoje são aceitas pela comunidade científica e aceitar outras que hoje um cético negaria.

Há comentadores que defendem a primazia de Nicole d’Oresme sobre Descartes no tocante a criação da geometria analítica, estes baseiam sua tese nos trabalhos de Nicole no qual ele representou graficamente leis que confrontavam a variável dependente (no latim que ele usava: latitudo) com a independente (no latim que ele usava: longitudo). Chegam a afirmar que Descartes teria sido influenciado pela leitura da obra deste, mas isto é uma hipótese sem uma comprovação. Também encontramos comentadores que lhe dão a primazia sobre Robert Hooke no tocante ao descobrimento da curvatura da luz através da refração atmosférica. Independente da discussão sobre quem foi o primeiro ou se houve alguma influência direta, cabe destaque, sem dúvida, nesta questão, sobre quais são as principais contribuições dadas na matemática por Nicole d’Oresme, a saber: pontos por coordenadas, expoente fracionário e soma de séries infinitas.

Quando Nicole d’Oresme é identificado como precursor da geometria analítica e um antecessor de Descartes na elaboração da teoria das coordenadas, isto se deve a ele ter utilizado um gráfico para representar numa direção o tempo e na outra a velocidade de um objeto em movimento, claro está, no entanto, que não havia àquela época um maior desenvolvimento da matemática, em particular álgebra e geometria, que tornassem possível um real avanço nestes estudos, o que só ocorrerá na época de Descartes.

Se pensarmos somente no uso de gráficos para mostrar visualmente o resultado de dados numéricos tabelados já temos aqui uma grande inovação, usada até os presentes dias, mesmo por aqueles que não são especificamente da área da matemática ou que não nutrem um interesse particular pela mesma. Ao representarmos dados numéricos graficamente, obtemos uma curva que se conforma aos dados, tornando-os visual e deste modo de mais fácil compreensão.

Em economia tem relevantes trabalhos sobre o uso político da moeda, sua valorização ou desvalorização e seu emprego na sociedade. Segundo o pensamento de Nicole d’Oresme, a moeda é um instrumento para trocas de riquezas naturais e estas trocas se direcionam a um fim, o qual seria o bem viver. Trata-se de um instrumento para troca justa de riquezas, já que permite que coisas distintas sejam medidas conjuntamente, proporcionando uma equalização entre distintas riquezas. A moeda passa a ser um instrumento de valor e medida justa, em uma sociedade também justa, no entanto, pode também ocasionar corrupção política se for entendida como um fim em si mesma e controlada por interesses do governo. Entende Nicole d’Oresme que quem deve definir o preço e o valor das mercadorias são as pessoas diretamente envolvidas nestas trocas, cabendo ao governo atuar de modo a regular estas mesmas trocas. Para alguns comentadores ele pode ser considerado historicamente como o pai da economia monetária.

Na política se baseia em parte em Aristóteles, tendo traduzido para o francês algumas de suas obras, dentre as quais “Ética”, “Política” e uma obra pseudo-aristotélica intitulada “Economia”. Ele não somente traduziu, como também efetuou diversos comentários a estas obras, nos quais expressou suas próprias opiniões sobre política. Discordando de Aristóteles, entende ser a monarquia a melhor forma de governo. Para Nicole d’Oresme um bom governo é aquele que defende o bem comum e não seus próprios interesses. Se o rei deixa o bem comum de lado para cuidar de seus interesses, então temos um tirano. Entende que um grupo seleto de pessoas do povo, formado por sábios, virtuosos e razoáveis, deva participar do governo como conselheiros visando garantir a estabilidade e durabilidade do reinado. Nega, no entanto, o direito de rebelião, pois esta colocaria em risco o bem comum. Entende que a lei deva ser superior a vontade do rei e que só deva ser alterada em casos excepcionais. De um modo geral, seu pensamento favorece o desenvolvimento de uma monarquia moderada, negando o absolutismo e também não aceita que o rei seja de algum modo considerado algo sagrado. Apresenta também críticas a Igreja, nas quais a mesma aparece como corrupta, tirânica e oligárquica, mas mesmo assim entende ser a mesma essencial para o bem estar espiritual.

Em verdade, trata-se de um pensador com múltiplos interesses e que se mostra original e instigante enquanto precursor de diversas doutrinas e conceitos que serão mais tarde desenvolvidos por outros pensadores.

 Silvério da Costa Oliveira.

 

Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.

Site: www.doutorsilverio.com

(Respeite os Direitos Autorais – Respeite a autoria do texto – Todo autor tem o direito de ter seu nome citado junto aos textos de sua autoria)

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