Professor Doutor Silvério

Blog Ser Escritor

Silvério da Costa Oliveira é Doutor em Psicologia Social - PhD, Psicólogo, Filósofo e Escritor.

(Doutorado em Psicologia Social; Mestrado em Psicologia; Psicólogo, Bacharel em Psicologia, Bacharel em Filosofia; Licenciatura Plena em Psicologia; Licenciatura Plena em Filosofia)


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terça-feira, 26 de outubro de 2021

Juan Escoto Eriúgena: O mestre da Renascença Carolíngea

 Por: Silvério da Costa Oliveira.

 Juan Escoto Eriúgena

 Juan Escoto Erígena (810-877) ou Jean Scot Erigène ou Juan (João ou John) Escoto Eriúgena ou Johannis Scotus Erígena ou Johannes Scotus Eriugena, também conhecido como o “mestre da Renascença Carolíngea”. Não há uma certeza quanto sua real data de nascimento ou morte e mesmo o ano é dado como provável e não como certo, nasce na Irlanda, seu nome, Eriúgena ou Erígena, significa nascido em Erin, antigo nome da Irlanda. Juan Escoto Erígena poderia ser traduzido para o português como “João escocês nascido na Irlanda”. E, segundo alguns comentadores, vem a falecer na cidade de Paris, França, segundo outros, na Inglaterra.


 

Em Paris atua como professor e também exerce papel significativo dentro da corte de Carlos, o calvo (823-877), tendo ali escrito e traduzido do grego para o latim, diversas obras, dentre as quais a tradução dos escritos de pseudo-Dionísio, o areopagita, obras de Gregório de Nissa, e Máximo, o confessor. Sofre influência do neoplatonismo, dos padres gregos e em particular de Orígenes. Tudo que se conhece deste pensador fica restrito ao período em que este esteve na corte de Carlos, o calvo, sendo desconhecido o que fez antes e o destino que teve após o falecimento de Carlos e sua saída da corte.

Alguns comentadores o consideram um precursor e iniciador da Escolástica, por sua independência ao tratar temas teológicos e filosóficos e pela importância que terá no século IX, onde desponta como basicamente o único pensador original do período e que apresenta também um sistema coerente e amplo dentro do qual seu pensamento é elaborado.

Muitos comentadores datam a Patrística como terminando no século VIII e a Escolástica começando no século XI, o que faz com que os séculos IX e X fiquem de certo modo vazios de expressão no pensar europeu, de fato, Juan Escoto Eriúgena há de ocupar um lugar de destaque neste período histórico e sua obra apresenta a elaboração de um sistema, estando, com certeza, a frente de seu tempo e o marcando fortemente por meio de sua presença e obra.

Sua principal obra é “Periphyseon” ou “Da divisione naturae” (Da divisão da natureza), composta por cinco livros escritos entre 862 e 866, apresentada no formato de um diálogo entre mestre e discípulo, foi condenada como herética pelo concílio de Sens em 1225 e o papa Honorio III ordenou que todas as cópias da mesma fossem levadas a Roma para serem queimadas. Também importante é sua obra “De divina praedestinatione” (Sobre a predestinação divina), de 851, esta última foi condenada como herética pelos concílios de 855, 859 e 1050.

Em Juan Escoto Eriúgena o problema da relação da fé com a razão volta a ser abordado e entende que ambas são complementares. A fé atua como princípio e fonte primordial e a razão atua como um indispensável auxiliar para o humano conseguir entender a verdade proposta pela fé e revelação. Entende que uma vez que razão e fé são provenientes de Deus, não é possível haver contradição entre ambas, mas se ocorrer conflito, então a fé prevalece sobre a razão. Nele não encontramos uma separação entre filosofia e religião cristã, afirmando que: a verdadeira filosofia não é senão a verdadeira religião e, a verdadeira religião não é senão a verdadeira filosofia. E em uma referência à frase escrita na entrada da escola de Platão, modifica-a e adota que: Ninguém entra no céu a não ser pela filosofia.

Deus é a natureza criadora e incriada. Deus se manifesta aos humanos por meio da natureza e das sagradas escrituras. Neste tocante nos fala que existe um duplo caminho para se buscar o conhecimento de Deus, pelos textos sagrados e pela natureza, além disto, afirma que é possível usar o raciocínio elaborado pelos filósofos gregos para nos ajudar a entender e conhecer melhor a Deus.

O termo “natureza” engloba todos os seres e inclusive o não-ser, em verdade, acaba sendo um sinônimo para o Ser em sentido amplo. Engloba por tal termo a soma de todas as coisas que são e que não são. Tudo que nosso intelecto pode conhecer e tudo que não pode. O finito e limitado e o infinito e ilimitado diante de nossa possibilidade de conhecer. Usa “natureza” como uma adaptação para o latim do que os gregos entenderam por “physis”.

Divide o Ser em quatro, mas como a primeira e a quarta divisão são idênticas, as quatro acabam sendo três. Isto porque a primeira é a natureza que cria e não é criada, ou seja, Deus como princípio de tudo, de onde tudo se origina, ou Deus pai, incognoscível e inefável, super-essência, super-verdade. Já a quarta divisão se apresenta como novamente a natureza que cria e não é criada, mas agora se remetendo a Deus como o fim último de todas as coisas. Na segunda divisão temos a natureza que cria e não é criada, reportando-se às ideias perfeitas na mente de Deus, os exemplos de todas as coisas que serão criadas, o verbo de Deus, o filho de Deus. Na terceira divisão temos a natureza que é criada e não cria coisa alguma, referência ao Espírito Santo. Aqui temos toda a criação. Tudo é criado por Deus e ao final retorna a Deus, ou seja, da unidade temos a multiplicidade, e depois, da multiplicidade temos a unidade. Esta divisão em quatro naturezas também pode ser sobreposta às quatro causas de Aristóteles, deste modo teríamos: 1- a natureza incriada e criadora ou Deus enquanto origem de todas as coisas, seria a causa eficiente; 2- a natureza criada e criadora ou Deus enquanto mundo inteligível das ideias perfeitas, seria a causa formal; 3- a natureza criada e não criadora ou o mundo perceptível por meio dos sentidos, a manifestação do mundo das ideias perfeitas de Platão ou na mente de Deus, seria a causa material; 4- a natureza incriada e não criadora ou Deus enquanto fim último de toda a criação, seria a causa final.

 

1- natura naturans non naturata à Deus como origem de tudo

Natureza incriada e criadora

Deus pai

Causa eficiente

2- natura naturans naturata à ideias perfeitas de Platão no mundo das ideias ou na mente de Deus, ideias arquetípicas

Natureza criada e criadora

O verbo de Deus, o filho de Deus

Causa formal

3- natura non naturans naturata à a criação, o mundo material e espiritual

Natureza criada e não criadora

O Espírito Santo

Causa material

4- natura non naturans nec naturata à Deus como fim último de toda a criação e meta

Natureza incriada e não criadora

Causa final

 

Não se trata, no entanto, de um sistema panteísta, pois tudo provém de Deus por meio da criação e a Ele retorna mantendo a sua individualidade. Deus está no início de tudo e também no final.

Deus só se conhece a partir da criação, antes da mesma Ele é inefável e incompreensível para si próprio. Apesar de o autor acentuar em algumas passagens que Deus seria transcendente à criação, fica difícil não o interpretar, como alguns comentadores o fazem, como um panteísta. O autor afirma que a criação é idêntica a Deus, mas que Deus não é idêntico à criação, sendo maior que sua criação.

Deus é entendido como sendo a natureza incriada e criadora, o ser eterno, perfeitíssimo, infinito, transcendente, a causa suprema e o princípio e fim de todas as coisas criadas.

Entende que o sentido presente nos textos sagrados não é literal e deve ser buscado na interpretação do texto, analisando os símbolos, as imagens e as metáforas ali contidas. Como exemplo desta interpretação alegórica proposta por este autor, podemos citar as seguintes passagens bíblicas e sua interpretação: Se nos reportarmos a Abraão, seus filhos teriam o significado do Antigo e do Novo Testamento; Se formos ao Gênese, teremos que Adão e Eva alegoricamente representariam o cristo e a Igreja; Já a passagem de Pedro e João correndo até o sepulcro de Cristo, alegoricamente representa a inteligência e a fé.

O humano antes do pecado original possuía um conhecimento puro de Deus, a queda do humano no pecado equivale a sua máxima imersão na matéria, sendo que sua redenção foi dada pelo filho de Deus. A criação da natureza e a história do humano são um imenso drama, no qual o princípio e o fim são idênticos. Há comentadores que entendem que este autor apresenta em sua obra uma imersão de tudo em Deus, de modo que a própria natureza, conjuntamente com o humano nela inserido, tende a ser deificada. Mas a ideia de um total imanentismo de Deus não é um consenso por parte dos comentadores, muitos veem a permanência de uma realidade ontológica própria do Ser.

O problema do mal no mundo recebe a mesma resposta já dada por Agostinho de Hipona, entende que o mal não tem uma realidade própria, mas a ausência do Bem, a ausência de Deus. O mal, portanto, é uma carência e surge do livre arbítrio humano que lhe permite pecar escolhendo o mal e não o bem. Fica patente a influência de Agostinho de Hipona na questão da origem do mal, bem como a influência de Orígenes ao interpretar de modo não literal e sim alegórico as passagens bíblicas ou ao propor o retorno de toda a criação a Deus e a não aceitar que aqueles que pecaram em vida tenham por toda a eternidade o sofrimento no inferno, pois até estes se reintegrariam a Deus. Também percebemos Orígenes quando nos fala que tudo se origina em Deus e a ele retorna. A influência de pseudo-Dionísio se faz presente na ênfase em não ser possível um conhecimento positivo de Deus, uma teologia catafática, e sim que a melhor forma de conhecermos a Deus se dá por meio de uma teologia negativa, apofática.

 Silvério da Costa Oliveira.

 

Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.

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