Por: Silvério
da Costa Oliveira.
Muita gente
tem o sonho de um dia escrever um livro ou mesmo de ser um escritor
profissional, mas nem todos realizam tal sonho. Já falei anteriormente que um
dos motivos para tal sonho não ser realizado é o desânimo quando diante da
necessidade de atravessar a Ponte do Trabalho Duro, the Hard Work Bridge,
portanto, irei abordar o tema agora por um outro prisma e talvez um pouco mais
divertido.
Vou ilustrar
com o exemplo de uma das muitas pessoas com quem já travei contato e que
sonhavam um dia escreverem e publicarem. Vou chamar a este meu amigo de longa
data de “V.R.”. Eu conheci “V.R.” quando ainda adolescente ou no começo da vida
adulta, como preferirem, pois, já cursava minha primeira faculdade.
Sempre gostei
muito de ler, e sobre diversos temas, e sempre tive uma grande curiosidade
voltada para o ainda desconhecido, de modo que gosto de ficção científica e me
interesso por leituras que poderiam ser classificadas como literatura
fantástica e isto era algo que eu e “V.R.” tínhamos em comum e sobre o que
constantemente conversávamos uma vez que ele lia muito sobre diversos temas
correlatos.
Pois muito
bem, “V.R.” gostava de ler, dentre outras coisas, sobre discos voadores, desaparecimentos
no Triângulo das Bermudas, a cidade de Atlântida, Erich Von Däniken com “Eram os deuses astronautas” e outros
livros deste mesmo autor, etc. Certa vez resolveu namorar uma garota que
freqüentava um grupo jovem em sua paróquia, uma Igreja Católica Apostólica
Romana, e para se chegar mais perto desta garota começou, também, a freqüentar
o tal grupo jovem até que um dia teve uma discussão feia com o padre, pois, ele
havia lido um livro cujo nome, se não me equivoco, era “A Bíblia dos discos voadores” e que relatava a presença de visitas
de seres extraterrestres a partir de passagens encontradas na Bíblia e quis
argumentar com o padre da igreja durante uma reunião do grupo sobre o que havia
lido e o padre discordou francamente dele e do autor do referido livro. Ainda
me lembro de “V.R.” muito irritado me contando sobre este evento e suas
opiniões nada favoráveis sobre o referido padre e sua visão, digamos, estreita,
de entender o mundo. Pelo que entendi, a reação foi mútua, pois, o padre também
se irritou bastante enquanto “V.R.” tentava interpretar algumas passagens
bíblicas como denotando a presença de seres extraterrestres e discos voadores.
Durante anos
vi este meu amigo com afinco pesquisando sobre o tema de sua paixão e dizendo
para todos que iria escrever um livro sobre o tema expressando suas próprias
idéias. Até aí tudo bem, ocorre que um dia “V.R.” pegou em uma locadora uma
fita VHS de um filme que passara há pouco no cinema abordando o tema de sua
paixão e convidou a mim, minha namorada da época e a sua namorada para vermos o
tal filme, o que fizemos, inclusive, em minha residência. O filme em questão
era a versão do cinema intitulada StarGate
e que mais tarde geraria uma série de TV com o mesmo nome (StarGate SG1) ainda exibida e produzida hoje, já na sua décima
temporada e tendo gerado outra série (StarGate
Atlantis) também ainda exibida e produzida, já na quarta temporada na Terra
do Tio San.
Excelente
ficção científica com uma boa história de fundo sobre um artefato encontrado no
início do século XX enterrado nas areias do Egito e que no decorrer dos anos de
1990 nos EUA permitiu a Força Aérea deste país viajar para outros planetas.
Durante tais viagens estes militares e cientistas encontram uma galáxia
dominada por uma raça de alienígenas e diversas comunidades humanas que foram
levadas da Terra em diversos períodos históricos culturais, tendo estes
evoluído de forma distinta da nossa.
O filme foi
uma bela diversão para nós quatro, no entanto, quando o filme se encerrou meu
amigo “V.R.” parecia uma mistura de euforia e abatimento, pois, segundo ele, o
filme havia expressado tudo que este pensava sobre o assunto, não havendo mais
necessidade deste escrever um livro sobre o tema.
A história é
trágica quando pensamos que o mundo perdeu de conhecer um escritor com grande
bagagem de pesquisa sobre o tema, ou cômica quando imaginamos que jamais este
escreveria algo exatamente igual à história que vira na TV, pois, por ser um
ser único, seu trabalho literário também seria único. Mas a verdade é que já se
passaram vários anos e continuo mantendo contato com “V.R.” e este ainda mantém
sua postura de que não mais escreverá, pois tudo o que pensava já estava ali
naquela história que um dia ele vira na tela de minha TV.
Quando penso a
sério nesta minha experiência de vida, não sei se choro ou se rio muito,
afinal, como pode alguém pensar que irá escrever igual a outro que tenha
produzido algo na sua área de interesse? Nós todos somos únicos e damos
abordagens únicas ao que produzimos.
Daí o título
desta postagem ser “Um quase escritor, um
excelente personagem”, afinal, depois de anos pesquisando sobre o tema, de
um vasto conhecimento acumulado sobre discos voadores e coisas semelhantes e de
ter falado por igual período de tempo para seus amigos que iria um dia escrever
um livro abordando tal temática, nosso amigo aqui ficou somente no “quase”, não
se assumindo como escritor na medida em que efetivamente não efetuou criação
literária alguma. Pelo mesmo motivo, no entanto, penso que “V.R.” daria um
excelente personagem para um livro de outro autor.
PERGUNTA:
Afinal, o que escolhemos para nossa vida, sermos escritores ou personagens?
Prof. Dr.
Silvério da Costa Oliveira.
(Respeite os
Direitos Autorais – Respeite a autoria do texto – Todo autor tem o direito de
ter seu nome citado junto aos textos de sua autoria)
2 comentários:
Talvez, no caso do seu amigo, pudesse ele mesmo escrever um livro sobre essa história. Seria apenas uma mudança de estilo?
Escolhemos ser escritores ou personagens? Eu diria, ambos. Pois, me corrija se eu estiver errada, mas tudo que escrevemos não é como se fosse um diário de nossas vidas?
Explico: quando se escreve sobre o tema das drogas ou sexualidade, como no seu caso, você conta "causos" e experiências que conheceu e, portanto, agora também fazem parte de ti. E mesmo tentando ser imparcial, os resultados alcançados ou comprovados também dizem respeito as suas hipóteses e questionamentos. Então, o escritor está inscrito nas linhas de seus temas.
No caso de ficção científica, de quem é a imaginação e fantasia contidas naquelas palavras?
Quando se escreve poesias... O autor é personagem e escritor, pois nas entrelinhas, os significados podem ser variados, mas não estão totalmente separados nem ligados a ele.
Apesar de já terem se passado alguns anos, este episódio ainda está bem vivo na minha memória...
A história do nosso amigo mostra-se realmente intrigante...
Por mais que tenhamos afinidades, conceitos em comuns, convergência de pontos de vista, a produção humana é ilimitada e ao mesmo tempo única, o que nos faz seres diferenciados. Assim, dificilmente uma história é igual a outra, por mais que encerremos um assunto, sempre podemos colocar uma vírgula e deixar fluir a criatividade. O que para muitos pode significar um ponto final, para outros é apenas o começo ou a continuidade.
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