Por: Silvério
da Costa Oliveira.
----- Original Message -----
Subject: Terapia sexual
Bom dia, Dr. Silvério.
Estou ajudando meu namorado a procurar um
terapeuta sexual para ele e encontrei seu site. Gostaria de ter algumas
informações sobre o seu trabalho, tais como o valor da consulta, a freqüência
por semana e se a terapia é individual ou em casal.
Grata pela atenção,
“A.C.A.
e R.C.”
----- Original Message -----
Subject: RE: Terapia sexual
Dr. Silvério,
Em primeiro lugar, muito obrigada por seu
interesse. Contarei um pouco sobre o meu caso para que possa entendê-lo melhor.
Eu e meu namorado temos 23 anos de idade e namoramos há 3 anos e meio, mas
temos problemas com relações sexuais. Meu namorado tem falta de desejo sexual,
e diria até que tem aversão a sexo. Estamos há cerca de 1 ano e meio discutindo
sobre este problema e tentando encontrar soluções que, até agora, se mostraram
infrutíferas. Nós dois fazemos terapia individual, mas ele não tem conseguido
resultados significativos em relação ao problema de sua sexualidade na terapia
tradicional. Por estes motivos, decidimos procurar um especialista em
sexualidade. Tanto eu quanto ele estamos de acordo e esperançosos com este
possível tratamento.
O senhor precisa de mais informações? O que
o senhor recomendaria: terapia individual ou casal? Seria possível marcarmos
uma consulta sem compromisso?
Aguardo seu retorno,
“A.C.A. e R.C.”
----- Original Message -----
Subject: RE: Marcando encontro
Boa tarde, Dr. Silvério.
Sim, o “R.C.” é o meu namorado. Deixe-me
explicar o que se passa: como não tivemos indicações de nenhuma pessoa
conhecida, eu pesquisei na internet por terapeutas sexuais e passei alguns
contatos para o “R.C.”, inclusive o do senhor. Na tentativa de agilizar o
processo, eu entrei em contato com alguns deles por e-mail, enquanto ele ficou
de fazer ligações para obter algumas informações, dentre as quais o valor da
consulta era a principal, já que nós dois somos estudantes e temos restrições
financeiras.
O “R.C.” se mudou há pouquíssimo tempo para
um novo apartamento, e por isso tem estado muito atarefado, o que provavelmente
explica a impossibilidade de prolongar a conversa, além de um possível
constrangimento ao falar sobre um assunto tão particular ao telefone com um
(ainda) desconhecido. Além disso, no momento em que este telefonema ocorreu,
ele não sabia que eu estava em contato com o senhor por e-mail, e nem eu sabia
que ele já havia te contactado.
Entendo seu ponto de vista, mas como é ele
que irá fazer a terapia (ao menos a maior parte dela), prefiro que ele decida e
tome a iniciativa de marcar a primeira consulta. Apesar de ter me adiantado nos
primeiros contatos, realmente prefiro que ele se engaje neste processo sem que
eu interfira diretamente em suas decisões, o que de forma alguma impede que eu
também participe de quantas consultas forem necessárias, mas somente após uma
primeira consulta e avaliação dele.
Abraços,
“A.C.A. e R.C.”
Em casos como
o de “A.C.A. e R.C.” que envolve o contexto mais amplo da sexualidade humana,
penso ser sempre importante obter informação de boa qualidade por meio de
leituras adequadas. No caso de meus trabalhos, sugiro a leitura e consulta ao “Catálogo bibliográfico sobre sexo” e aos
meus livros “Sexo, sexualidade e
sociedade” e “Falando sobre sexo”,
todos gratuitos em meu site no formato livro eletrônico em PDF.
Respondi a
“A.C.A. e R.C.” pedindo inicialmente que explicasse melhor o assunto e o
problema em questão, abordando em maiores detalhes para que eu pudesse saber do
que se tratava e expliquei que quanto à clínica psicológica eu poderia fazer
atendimento individual ou de casal e que na abordagem que adoto a freqüência a
terapia teria de ser de uma vez por semana, sendo o valor da consulta
previamente combinado.
Eu cheguei a
atender em meu consultório, na zona sul da cidade do Rio de Janeiro, por duas
vezes este casal, sendo que na primeira vez eu não cobrei meus honorários em
virtude da pessoa estar muito confusa e não saber se daria prosseguimento ou
não ao tratamento.
Normalmente em
psicologia clínica nós fazemos um contrato no qual fica especificado o número
de encontros semanais, se será atendimento individualizado ou não, quanto será
cobrado por sessão e qual a forma de pagamento. Este contrato é fundamental
para darmos início ao atendimento clínico, além disto, o primeiro encontro serve
também para o paciente explicar melhor qual o seu problema e o que espera da
terapia, bem como, para o psicoterapeuta explicar sua linha de trabalho ou como
será sua abordagem ao problema do paciente, o que será feito e o que pode ser
esperado como resultado. “A.C.A. e R.C.” foi à última exceção que adotei no
tocante a não cobrar o primeiro encontro, pois, não posso me dar a este luxo
com minhas horas de trabalho, uma vez que tenho outros compromissos que devo
respeitar em minha agenda e meu tempo é de fato precioso.
Se o leitor
tem curiosidade de saber sobre os valores cobrados por mim e outros psicólogos,
sugiro uma visita ao site do Conselho Federal de Psicologia – CFP
http://www.psicologia-online.org.br/
onde encontrará, também, muita coisa interessante sobre a profissão de
psicólogo. Eu particularmente adoto os valores sugeridos a partir de pesquisa
nacional efetuada pelo CFP sobre o tema e disponível no site do Conselho, em
http://www.psicologia-online.org.br/servicos/pdf/tabela_honor_agosto_2007.pdf
posso, no entanto, adotar uma certa flexibilidade entre os valores mínimos e
máximos sugeridos.
Como a demanda
partiu de “A.C.A.”, sugeri que fosse ela a se consultar inicialmente comigo e
não o casal ou seu namorado “R.C.”, pois entendo que quem optou por procurar
ajuda é quem de fato está motivado e incomodado com a situação. Quando se trata
de relacionamento de casal, precisamos atentar de onde provém à demanda por
tratamento e quais significados estão presentes nesta busca. É muito fácil
dizer que o problema é do outro, mas pode ocorrer de o outro em nada estar
incomodado e não ver problema algum com seu comportamento, portanto, o problema
está prioritariamente em quem traz a demanda, não que seja esta pessoa a
problemática, não é isto, mas sim que é esta pessoa que consegue neste momento
enxergar que há um problema e que há necessidade de algum tipo de tratamento e
solução.
Prontifiquei-me
a marcar uma consulta com o casal e sugeri que inicialmente viesse somente
“A.C.A.” e depois seu namorado, mas meu conselho não foi atendido e “R.C.”
compareceu sozinho ao nosso primeiro encontro.
Quanto à
terapia ser individual ou casal, minha opinião só se formará depois que
conhecer melhor o caso. Inicialmente vou querer um encontro individual com cada
um para escutar um e outro em particular.
Eu falei
rapidamente ao telefone com uma pessoa de nome “R.C.” cujo único interesse era
saber o valor da consulta, ao que lhe informei um valor padrão e lhe expliquei
que é quase que uma regra entre nós, psicólogos clínicos, combinarmos o valor
definitivo da consulta durante o primeiro encontro, pois, sempre é possível
fazer algum ajuste para acomodar o valor mensal ao orçamento da
pessoa. Também lhe expliquei que cada psicólogo entende que deve haver um
determinado número de encontros por semana e que alguns de meus colegas que
trabalham em linha psicanalítica propõem cinco encontros semanais, dentro da
minha abordagem de trabalho, um encontro semanal é o bastante. No mais, a
pessoa em questão não estava podendo falar naquele momento e nem sequer me
explicou qual o caso, preferindo entrar em contato mais tarde, ao que sugeri o
uso de e-mail. Se tal era o namorado de “A.C.A.” ou não, eu não sabia na
ocasião, pois como já disse, não foi explicado.
Cabe aqui
comparar as demandas, seus significados e diferenças. “A.C.A.” entrou em
contato comigo por e-mail e depois tive a oportunidade de estar com ela
pessoalmente durante a segunda consulta deste casal, já “R.C.” telefonou-me
unicamente para saber quanto cobrava por uma consulta e sequer explicou qual o
seu caso. Para mim que atendia ao telefone a impressão foi de que a única
preocupação era com o valor cobrado e mais nada. Estou acostumado a atender
pessoas com problemas diversos e o esperado é que a preocupação seja com o
problema que aflige a pessoa e todo o tempo comigo, não importando o meio de
atendimento (pessoal, telefone, e-mail, MSN, etc.) acaba destinado a tratar do
problema em questão, sua demanda, sendo os honorários cobrados durante uma
eventual consulta algo secundário. Daí podemos observar a real preocupação de
cada um e as expectativas dos mesmos em relação a um tratamento.
No tocante ao
desejo sexual e as relações sexuais entre o casal, expliquei que por meio da
terapia de casal isto teria uma solução, mas que haveria necessidade de fazer o
que chamamos em Psicologia Comportamental Cognitiva de “dever de casa”, ou
seja, eu iria passar alguns exercícios para o casal fazer junto e para isto
seria necessário o casal ter um espaço próprio onde pudesse ficar junto algumas
vezes por semana, tirar as roupas e praticar os referidos exercícios. Expliquei
que este problema tem solução. Sexo é que nem andar de bicicleta, não se nasce
sabendo, é necessário todo um processo de aprendizagem e não desistir ou ficar
traumatizado após um ou outro tombo. Quando crianças, muitas vezes começamos a
aprender a usar bicicleta usando duas rodinhas adicionais, posteriormente,
conforme vamos ganhando habilidade com a bicicleta, retira-se uma das rodinhas
e depois, quando o equilíbrio estiver bom, retira-se a outra. Da mesma forma,
quando o casal tem dificuldades sexuais, cabe começar bem do início e ir se
adaptando até poder usufruir plena e satisfatoriamente de uma relação sexual
gratificante para ambos.
Em verdade, no
entanto, a questão principal da demanda era a fachada para problemas outros e
que requeriam outra abordagem de tratamento. Em ambos havia a inexperiência
sexual, havia também a presença de valores negativos em relação ao sexo e a
sexualidade provindos de uma cultura religiosa, havia um forte medo da solidão
que não permitia o desenvolvimento de valores positivos como paixão e amor genuíno
pelo outro. Além disto tudo, pesava a dúvida existencial sobre quem de fato a
pessoa é e o que de fato a pessoa quer da vida. Também estava presente a
dúvida, no caso de “R.C.” sobre sua preferência sexual, se heterossexual ou
homossexual. Tanto “A.C.A.” como também “R.C.” compartilhavam destas
informações e dúvidas presentes no relacionamento em virtude de terem um
diálogo aberto. Eu sou um forte defensor do diálogo entre casais, mas este
também pode servir como mascarador de questões não trabalhadas que se escondem
na superficialidade de uma conversa franca sobre tudo e que pode dar a vã
ilusão de ter tudo sobre controle.
Indiquei
terapia de casal e terapia individual para ambos, mas o casal optou por seguir
outro caminho e não prosseguir o tratamento comigo.
No caso
narrado de “A.C.A. e R.C.” vimos uma mistura de medo da solidão, inexperiência
sexual, dúvidas sobre sua própria sexualidade, crenças e valores religiosos
castradores, desejo homossexual expressado por “R.C.”, vimos que “A.C.A.”
estava bem mais incomodada com a permanência da situação do que “R.C.” e que
neste último predominava mais o medo da perda e a presença da solidão.
PERGUNTA: O
que faz com que um casal continue junto?
Prof. Dr.
Silvério da Costa Oliveira.
(Respeite os
Direitos Autorais – Respeite a autoria do texto – Todo autor tem o direito de
ter seu nome citado junto aos textos de sua autoria)
2 comentários:
São muitos os fatores responsáveis pela escolha e continuidade nos relacionamentos. É claro, no entanto, que esta escolha não ocorre no aqui e agora, é feita a partir de todo o histórico passado, principalmente relacionada com as vivências parentais. Muitas pessoas buscam a imagem e semelhança dos pais quando vão em busca de alguém, visando suprir carências, reviver a história, sem o amadurecimento suficiente para perceber o outro como ser diferenciado e único, que não necessariamente irá suprir o vazio.
Quando se trata de problemática na esfera sexual, temos que considerar que as pessoas tem motivações diferentes... O que pode ser percebido para um como o ponto principal, para o outro pode não ter prioridade e estar no fim da fila.
Assim, muitos casais permanecem juntos por conta dos diversos fantasmas mal resolvidos e pelo receio de vivenciar a perda, como se fosse a única experiência de suas vidas, não abrindo espaço para outras pessoas que poderiam perfeitamente preencher as diversas lacunas existentes.
Depende da idade, do tipo de relação, da maturidade, das experiências anteriores, ou falta delas, da educação familiar... Medo da solidão, influência dos contos de fadas, religião, dependência emocinal, financeira... Persistência, axiomas, protelação.
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