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Severino Boécio: O mundo governado por meio da razão e não do acaso

 Por: Silvério da Costa Oliveira.

 Severino Boécio (480-524/525) ou Anicius Manlius Torquatus Severinus Boetius ou Anício Mânlio Torquato Severino Boécio, nasceu em Roma, foi senador e posteriormente cônsul de Roma em 510. Filósofo, escritor, político, estadista e poeta. Esteve a serviço de Teodorico, rei dos Ostrogodos até ser falsamente acusado de traição e praticar magia, quando foi encarcerado e executado em Pávia, Itália. Pode ser considerado como um pensador eclético, neoplatônico e cristão. Há também a presença do pensamento de Aristóteles, como também ocorre em outros autores neoplatônicos do período. Falece aos 44/45 anos de idade e é considerado santo pela Igreja Católica Apostólica Romana, sendo sua festa litúrgica comemorada em 23 de outubro, data de seu falecimento. Quando encarcerado escreveu (entre 523 e 524) o que para alguns é considerado sua obra máxima: “A consolação da filosofia”.

Sua obra terá grande influência sobre a filosofia medieval, em particular após o século XI com o início da Escolástica. Cabe a ele o projeto de traduzir a obra de Platão e Aristóteles e seus principais comentadores do grego para o latim, projeto este que se não fosse interrompido pela sua prisão e execução, se concluído teria modificado em muito a elaboração do pensamento filosófico no decorrer da Idade Média. Mesmo sem concluir seu projeto principal, as obras que traduziu para o latim tiveram importante papel no desenvolvimento do pensamento filosófico ocidental. Há quem afirme ter sido ele o último dos romanos e o primeiro dos escolásticos.


 

Em “A consolação da filosofia”, trata da filosofia grega, da moral, da metafísica, da teodicéia e da psicologia. Obra marcada profundamente e de modo estoico pela presença da morte que já se aproximava, uma vez que o livro foi escrito quando este estava preso, sofrendo torturas e se encaminhando para o suplício final da execução. Nesta obra a filosofia lhe aparece na forma de uma mulher com quem conversa, uma musa que vem para lhe socorrer e inspira o que este escreve. Obra de apelo místico e de inspiração neoplatônica onde a sabedoria está presente inspirada na vida e na filosofia mais que na doutrina cristã propriamente dita. Trata-se de uma tentativa bem sucedida e serena de explicar a injustiça e o mal em um mundo governado por Deus.

Boécio argumenta por meio da personagem “filosofia”, a musa com quem conversa em seu livro “A consolação da filosofia”, que o mundo é governado por meio de uma razão divina e não pelo acaso acidental ou dito de outro modo, pela roda da fortuna. A sensação provinda do momento, algo provisório que se vive, de que o mal vence é somente um erro de entendimento. A pessoa humana tem como meta a felicidade, o sentido da existência humana se dá pela busca e encontro da felicidade.

Para Boécio, o Uno, o Bem e Deus são idênticos. Ele entende que Deus é a sabedoria absoluta onde se encontra a felicidade e não na posse ou usufruto das coisas terrenas. Se entendemos a filosofia como o amor à sabedoria e consequentemente como a busca do conhecimento, torna-se também a busca de Deus, sabedoria absoluta.

Boécio terá grande importância na Idade Média, em particular na baixa Idade Média, sendo um precursor da definição filosófica de “pessoa”, cujo desenvolvimento amplo irá ocorrer somente por volta do século XIII. Cabe a Boécio apresentar a “pessoa humana” dentro do aspecto da racionalidade e singularidade, sendo esta uma contribuição dele para a antropologia filosófica. Em sua noção de pessoa enquanto substância individual e racional temos simultaneamente uma perspectiva nova no tocante a ser e estar neste mundo, ampliando pontos fundamentais tais como dignidade e responsabilidade.

Também muito importante a discussão nele iniciada sobre os universais, que terá continuidade no decorrer da Idade Média. E claro está, suas traduções e comentários foram vitais para o desenvolvimento da filosofia medieval. Enquanto nos gregos antigos a ênfase se dava na “polis”, e para a tradição da teologia cristã original esta se dava na “comunidade”, Boécio apresenta uma nova e positiva ênfase no “indivíduo”, na pessoa humana. A ênfase fundamental se desloca do bem comum e da comunidade para o indivíduo, a pessoa que pensa e por tal se torna capaz de viver em uma comunidade de modo ético. Boécio entende como definição para “pessoa”, no sentido de “pessoa humana”, a uma “substância individual de natureza racional”. Deste modo, o humano é superior às demais criaturas, a exceção das criaturas celestiais e de Deus.

Além da questão dos universais, cabe destaque o comentário de Boécio a “Isagoge” (do grego, “introdução”) de Porfírio e os livros sobre lógica de Aristóteles por ele traduzidos que irão marcar o desenvolvimento do pensamento filosófico medieval até o século XIII, quando outras obras gregas clássicas serão traduzidas e disponibilizadas no ocidente.

Segundo o pensamento de Boécio, seres universais existem somente enquanto ideias em nosso intelecto e não possuem uma realidade ontológica, tal é o caso do “belo”, “homem”, “universo”, dentre outros. Tais seres são imateriais, são abstrações da realidade, são atributos de coisas singulares e é por meio das coisas singulares que podemos abstrair e formar ideias universais.

Deus possui a presciência e por tal sabe tudo que ocorreu, ocorre e ocorrerá como se fosse um único momento presente, mas este saber não afeta nosso livre arbítrio moral para decidir o que faremos diante de dada situação, somente situações vinculadas à natureza seguem seu rumo sem alteração e possibilidade de escolha. A presciência é diferente da providência, pois segundo esta última Deus pode intervir em nossa realidade e temos a atuação de Deus dentro de um projeto de salvação. Podemos enxergar uma influência da discussão travada em santo Agostinho no tocante à liberdade e a presença de mal em um mundo criado por um ser sumamente bom e uma solução que aponta que saber que algo ocorrerá não significa que não tenhamos liberdade de escolhas morais, no entanto, não fica muito clara a separação em Boécio da presciência da providência divina e por vezes nos parece que a providência é apresentada como presciência e que a afirmação da providência poderia afetar ou mesmo negar a liberdade, mas isto não em Boécio e sim em uma leitura crítica de seus escritos.

Vemos em Boécio influências dos padres capadócios e de Agostinho de Hipona. Com relação aos primeiros, quando estes fazem uma discussão filosófica sobre a Trindade, sendo Deus uma única substância em três “pessoas” distintas. Observamos aqui que Boécio pega o conceito de “pessoa” trabalhado na Trindade e o coloca no ser humano, na “pessoa humana”. Já quanto a Agostinho, vemos a questão do livre arbítrio para explicar como pode haver o mal em um mundo criado por um ser sumamente bom. De Agostinho também provém a ideia de Deus enquanto essência, sendo um ser imutável, onde não ocorreria qualquer mudança, variação ou transformação.

 Silvério da Costa Oliveira.

 

Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.

Site: www.doutorsilverio.com

(Respeite os Direitos Autorais – Respeite a autoria do texto – Todo autor tem o direito de ter seu nome citado junto aos textos de sua autoria)

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