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O homem unidimensional e a Escola de Frankfurt

 

Por: Silvério da Costa Oliveira.

 

O homem unidimensional

 

Marcuse é autor de várias obras, dentre as quais podemos destacar em termos de importância, “O homem unidimensional” (One-Dimensional Man), 1964. Neste livro Marcuse apresenta uma crítica à sociedade ocidental capitalista e ao comunismo então presente na URSS, observando e denunciando que com o desenvolvimento tecnológico surgiram novas formas de dominação e alienação.



 

A produção industrial e o incentivo ao consumo criam necessidades falsas, desejos que precisam ser atendidos por meio de um consumismo não crítico e compulsivo de bens materiais diversos, trata-se de um modo do sistema capitalista atuar na sua própria manutenção nas sociedades ocidentais. Estas falsas necessidades criam um sujeito acrítico, medroso e conformista com o sistema vigente. Há uma produção de pessoas facilmente manipuladas por meio de técnicas de persuasão de massas, dentro de uma sociedade homogênea e uniforme. Estas falsas necessidades vão desde um apartamento, um carro ou moto, roupas da moda e outros inúmeros itens de consumo que geram uma passividade política antirrevolucionária.

Dentro desta sociedade unidimensional, a liberdade e a diversidade são suprimidas para se manter a conformidade. Esta sociedade atua na manipulação e alienação das pessoas, criando falsas necessidades e desejos, visando manter a atual estrutura social e evitando qualquer mudança radical que afete o status das pessoas e classes sociais.

O pensamento unidimensional se caracteriza pela aceitação não crítica e conformista das estruturas sociais, nas regras e normas que abrangem o comportamento humano dentro da sociedade. Cabe ao humano reafirmar a sua individualidade e liberdade pessoal e com esta atitude se confrontar com a opressão reinante. Cabe uma atitude de oposição ao desperdício, à destruição, à exploração presente na sociedade industrial.

Temos neste livro uma análise crítica da atual sociedade contemporânea. O resultado da evolução social foi a produção do homem unidimensional. Temos uma sociedade industrial avançada na qual predomina a tecnologia conjuntamente com a razão instrumental, como meio de dominação sutil, repressão e controle. O status quo é mantido e as liberdades individuais e coletivas são limitadas por meio do uso de uma razão instrumental que prioriza os meios mais eficazes e com menor gasto de recursos para se obter lucro, a par com o auxílio do desenvolvimento tecnológico.

Marcuse apresenta uma crítica à sociedade capitalista consumista, entendendo este consumo como mais um mecanismo de controle social e manipulação do povo. Por meio de uma cultura baseada no consumo, no qual este é constantemente estimulado e no qual são produzidas novas e falsas necessidades, pessoas são mantidas dentro de uma relação de trabalho e consumo que as impossibilita de buscar e obter uma forma de vida mais autêntica, livre e não repressiva.

Marcuse apresenta uma crítica à ideologia que defende o progresso, enquanto desenvolvimento contínuo conjuntamente com a tecnologia, como algo positivo, pois, esta crença ignora totalmente as consequências sociais, ambientais e humanas provocadas por este progresso desenfreado, muitas destas consequências negativas.

O homem e a sociedade unidimensional carecem de pensamento crítico. O sistema social produz a conformidade social. As pessoas são incentivadas a adotarem para si uma postura unidimensional sobre a realidade circundante, ao mesmo tempo em que são desencorajadas a exercer qualquer modo de pensamento crítico, ou ação, que possa atuar de modo desafiador ao status quo presente na sociedade.

Mesmo havendo esta unidimensionalidade do humano e da sociedade, e da dominação social pelo sistema, há, segundo o pensamento de Marcuse, uma possibilidade de resistência e libertação, por meio do desenvolvimento de uma consciência crítica.

Marcuse apresenta a “teoria da grande recusa”, como modo de resistência perante a sociedade unidimensional. Para obtermos uma transformação social real teremos de apresentar uma negação radical das estruturas atualmente existentes na sociedade, uma recusa em se conformar com os padrões sociais dados pelo sistema. Recusar a aceitação das falsas necessidades fornecidas pelo sistema, recusar as regras e normas sociais, buscar uma vida mais autêntica e com maior liberdade.

A atual sociedade unidimensional atua de modo a gerar alienação e desumanização nas pessoas. Por meio da razão instrumental nos deparamos com uma lógica da produção que foca a eficiência com o menor gasto de recursos para a produção, reduzindo a natureza e o humano à condição de meios voltados para atingir um fim, a meros instrumentos ou objetos dentro da engrenagem maior do sistema social e econômico. Deste modo, as pessoas ficam limitadas a condição de produtores de bens e consumidores, não se desenvolvendo plenamente suas potencialidades humanas.

Marcuse enfoca o conceito de “indústria cultural”, já anteriormente trabalhado por Horkheimer e Adorno. A sociedade unidimensional utiliza a cultura e a arte para reforçar a conformidade com o sistema e a alienação social, padronizando e reproduzindo em massa as expressões artísticas e culturais, de modo a transformá-las em novos itens de consumo voltados para a produção de lucro e manutenção do status quo.

Marcuse não apresenta uma visão pessimista em relação ao futuro da sociedade. Mesmo diante da sua análise sobre a unidimensionalidade do humano e da sociedade, pensa ser possível uma sociedade alternativa, não repressiva, na qual necessidades humanas genuínas sejam atendidas e na qual as pessoas possam desenvolver todo seu potencial e viver vidas mais significativas, livres, autênticas e de modo não repressivo.

O livro traz uma crítica a sociedade de consumo, a conformidade social, a alienação, além de apontar para formas de dominação social e repressão presentes no atual sistema. Mas possui um aspecto positivo ao defender uma sociedade menos repressiva, uma vida autêntica e livre na qual as pessoas possam desenvolver todo o seu potencial.

 

Silvério da Costa Oliveira.

 


 

Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.

Site: www.doutorsilverio.com

(Respeite os Direitos Autorais – Respeite a autoria do texto – Todo autor tem o direito de ter seu nome citado junto aos textos de sua autoria)

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