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Erasmo de Rotterdam: Sobre o livro "Elogio da loucura"

 

Por: Silvério da Costa Oliveira.

 

Elogio da loucura – Erasmo de Rotterdam

 Erasmo de Rotterdam (1466-1536) escreve o livro “Elogio da loucura” em 1509, mas só o publica em 1511. Seu título original em latim era "Encomium Moriae" e sua primeira publicação ocorreu na cidade de Paris. A obra traz uma homenagem a Thomas Morus, grande amigo de Erasmo. A loucura em latim “moria” se aproxima graficamente do nome “More ou Morus”, além de possuir uma pequena introdução endereçada a seu amigo. Considerada dentre as mais célebres obras filosóficas do Humanismo e Renascimento, foi escrito originalmente em latim e, posteriormente, traduzida para os mais diversos idiomas.


 

O livro também pode ser entendido como uma crítica irônica ao pensamento cristão, aos costumes vinculados à religião e à fé cristã ou mesmo à Igreja Católica. Neste livro a loucura se apresenta como uma deusa, responsável pelos prazeres proporcionados ao humano pelo mundo e sociedade ao seu redor. A loucura se apresenta como estando dentro do contexto dos deuses da Antiguidade clássica, filha de Plutão, deus do qual dependem todos os negócios públicos e privados dos homens. Cabe à loucura proporcionar sentido à vida humana.

É ela, a loucura, filha de Plutão e da ninfa Neotete, “de todas a mais graciosa e alegre”, e foi amamentada pela Inebriação e Ignorância. Sua corte é composta por companheiros fiéis: Philautia (amor-próprio), Kolakia (elogios, adulação), Lethe (esquecimento), Misoponia (preguiça), Hedone (prazer, volúpia), Anoia (irreflexão), Tryphe (languidez, falta de vontade), Komos (destempero) e Eegretos Hypnos (sono profundo). A loucura afirma que com o auxílio desta corte fiel domina sobre todas as coisas e impera sobre os próprios imperadores.

O texto transcorre por um caminho satírico que chega a tomar um aspecto mais sombrio. A sátira está presente quando são abordados, por exemplo, abusos perpetrados pela Igreja católica, como algumas práticas corruptas então presentes. Também muitas são as referências clássicas, no estilo comum aos humanistas do Renascimento. A obra gozou de enorme sucesso a sua época, mesmo o Papa Leão X a teve como divertida, no entanto, após a morte de Erasmo, o livro foi incluído no index das obras proibidas pela Igreja Católica.

Mesmo não sendo esta sua intenção, este seu livro ajudou na formação do ambiente cultural no qual surge a Reforma Protestante. No transcorrer da vida de Erasmo temos o surgimento da Reforma, com Lutero afixando em 1517 as suas 95 teses na porta da Igreja do castelo de Wittenberg, mas Erasmo não assume partido entre católicos e protestantes. Suas críticas influenciaram as transformações ocorridas entre o final da Idade Média e o início da Idade Moderna.

A obra é uma sátira aos costumes de sua época, e como toda boa sátira, também uma crítica disfarçada pelo humor. O personagem principal é a própria loucura, que faz um monólogo no qual elogia a si própria e cita diversos exemplos sociais visando demonstrar ser ela quem de fato governa toda a humanidade. Com humor e nas palavras da loucura, Erasmo vai denunciando o que não funciona como deveria funcionar na sociedade, apresentando um a um os diversos males sociais, tais como a ingratidão, a hipocrisia e a intolerância.

Pela voz da loucura, esta se apresenta de modo encantador e não como uma doença ou algo negativo e mesmo indesejado. A loucura reclama que faz muito pela humanidade, mas que não recebe os créditos de tudo que faz e por isto mesmo, há ela própria de tecer elogios a si mesma. Afinal de contas, que outra coisa fora a loucura levaria homens e mulheres a buscar o casamento e filhos? E se não houvesse as famílias, muito menos haveria a humanidade. A loucura proporciona um ímpeto vital irracional e incoerente às pessoas, de modo a tornar suportável as desilusões e desventuras sofridas. Somente pela loucura os humanos conseguem se vincular a outros seres por meio de laços afetivos de amizade.

Há presente neste livro uma crítica à Escolástica, onde o humano é por vezes entendido como estando a serviço da razão e não o seu oposto. Erasmo apresenta uma crítica ao ensino da escolástica, bem como, aos ditos sábios, mas que se afastaram da vida simples, tornando-se em verdade falsos sábios. Critica também a hipocrisia presente nas instituições.

Já que a loucura está em toda a parte, todos podemos nos identificar com algum tipo de loucura. No transcurso de todo o livro, Erasmo por meio do discurso da loucura, destaca a sua enorme importância para a humanidade. É a loucura a verdadeira responsável por tornar a vida das pessoas mais alegre e suportável.

Nesta sátira aos costumes sociais da época temos também uma crítica social, mas não a intenção de mudar a sociedade. Não se trata de qualquer tipo de manifesto revolucionário, Erasmo está muito longe da ideia de renovar a Igreja, presente na Reforma. Muito mais próximo de uma crítica em tom de brincadeira, na qual mostra a sociedade o seu real reflexo no espelho da loucura, apresentando hábitos e comportamentos sociais pelo que possuem de risíveis e ridículos.

A loucura presente nos humanos enaltece a vida e o prazer, se opõe à morte ao valorizar a vida em todas as suas etapas. A vida nasce do amor e o amor nasce da loucura. Toda loucura gera prazer, pois, ambos são vinculados entre si. A loucura nos conduz sempre aos momentos mais felizes e marcantes de nossa vida. Os prazeres estão vinculados às paixões e estas à loucura, somos felizes quando nos afastamos da razão e nos deixamos viver a loucura.

 Silvério da Costa Oliveira.

 

 


Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.

Site: www.doutorsilverio.com

(Respeite os Direitos Autorais – Respeite a autoria do texto – Todo autor tem o direito de ter seu nome citado junto aos textos de sua autoria)

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