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Anaxágoras de Clazômenas: Em tudo há a participação de tudo

 Por: Silvério da Costa Oliveira.

 Anaxágoras de Clazômenas

 Anaxágoras de Clazômenas (499-428 a.C.) é originário da colônia Jônia de Clazômenas, a qual fica cerca de 30 Km a oeste da, hoje, cidade de Izmir, na Turquia e em um momento de sua vida mudou-se para a cidade grega de Atenas, onde atuou por cerca de 30 anos como professor e filósofo, fazendo amizade com Péricles e justamente por causa desta amizade, os inimigos de Péricles, não o podendo atacar pessoalmente, em virtude do apoio da população, acusaram Anaxágoras de impiedade contra os deuses, acusação esta que parece se originar do campo religioso, mas que na verdade acoberta fortes interesses políticos regionais. A acusação se baseou em que Anaxágoras não entendia a lua e o sol como deuses. Para Anaxágoras o sol é uma massa em chamas e a lua uma rocha que refletia a luz provinda do sol. Também entendia que a lua seria oriunda de rocha que no passado fora desprendida da Terra e que agora a orbitava. Foi acusado, julgado e condenado, mas por intervenção de Péricles pode sair da cidade e veio a se refugiar na cidade de Lâmpsaco, hoje parte da Turquia, onde foi muito bem recebido pelos moradores da cidade. Há comentadores que questionam a realidade deste julgamento e condenação pelo fato de não haver referência explícita ao mesmo nas obras de Platão e Aristóteles, dentre outros motivos.

Segundo a tradição, Anaxágoras teria sido o primeiro a lecionar filosofia em Atenas, tendo tido entre seus discípulos a Arquelau, este originário de Atenas, teria sido o primeiro filósofo nascido na cidade e ensinado filosofia ali, tendo sido mestre de Sócrates.


 

Muito interessante é a teoria da percepção contida no pensamento deste autor, segundo a qual, não é por meio do semelhante que conhecemos algo e sim por meio de seu contrário. É por meio do calor contido em nosso corpo que conhecemos o frio e cada sensação que temos de algo corresponde a uma certa forma de dor, pois, é a resultante do encontro de coisas que são em si mesmas dessemelhantes. Por meio do quente conhecemos o frio, por meio do doce o amargo, por meio do desagradável conhecemos o agradável, e vice-versa, ou seja, conhecemos algo por meio daquilo que falta em cada um. Segundo Anaxágoras, todos os opostos já se acham em nós desde o início e toda sensação que temos é acompanhada de dor gerada pelo contato com o dessemelhante.

Coube a Anaxágoras dividir em três as etapas presentes no conhecimento humano, a saber: sensação ou experiência, memória e técnica. Primeiro nos relacionamos com o mundo circundante por meio da experiência e das sensações, identificando os objetos externos e suas possíveis transformações. Em um segundo momento armazenamos em nossa memória as informações provindas da nossa experiência. Por último, por meio da técnica decorrente do acúmulo de experiências armazenadas em nossa memória, passamos a fazer uso de tal conhecimento e sabedoria, visando construir objetos e modificar a natureza ao nosso redor.

Entende que a realidade é composta por uma infinidade de elementos. Aristóteles ao se referir a esta tese presente em Anaxágoras a irá chamar de “homeomerias”, fazendo por meio deste termo, referência ao esperma ou semente que daria origem a tudo que existe, em toda a sua pluralidade de formas e apresentações. Segundo alguns comentadores, o termo “homeomerias” não pertenceria a Anaxágoras e sim a Aristóteles. Anaxágoras faria uso do termo “spérmata” ou “sementes”, ou para alguns outros comentadores, em sentido mais restrito, somente usaria o termo “coisa”. Mas segundo outros comentadores, a partir da constatação de que Epicuro e Lucrécio fizeram uso técnico do termo “homeomerias” se referindo ao conceito de Anaxágoras, supõe que de fato o termo foi originalmente usado por Anaxágoras.  Segundo o pensamento de Anaxágoras, estes elementos seriam compostos pelos opostos e pelos quatro elementos já presentes em Empédocles, bem como, de todas as coisas existentes, logo, em tudo há a participação de tudo.

Anaxágoras procura evitar a contradição do ser se originar do não ser, presente a partir de uma leitura de Parmênides, por meio de um número ilimitado de elementos, todos mesclados em diferentes proporções, logo, não há o problema de o ser surgir do não ser uma vez que em tudo que existe temos a participação de todos os elementos misturados. A única exceção nesta mescla de substâncias é o nous, que não se mescla com qualquer outro elemento. O nous se apresenta como totalmente independente de todas as coisas e nisto há de se diferenciar do logos de Heráclito, uma vez que este último é imanente, o que não ocorre com o nous.

Nele também encontramos um dualismo entre mente e matéria. O nous, ou inteligência, tem o papel de ser a ordenadora de tudo que existe. No lugar do nascimento ou criação e da morte ou destruição, o que temos é a transformação por meio da composição e decomposição da mistura de elementos presentes nas coisas.

Anaxágoras entende o nous como sendo a inteligência ou força motriz, o primeiro motor, a ação racional, a faculdade de pensar. O nous é uma substância material, o que nos coloca diante de um conceito materialista, sendo que, o nous é formado por uma substância mais fina e sutil que todas as outras. Por meio do nous temos presente um princípio inteligente enquanto causa de toda ordem reinante. O nous move e ordena todo o universo. Cabe ao nous ser separado de tudo o mais, não estando envolto na mistura que ocorre em todas as demais substâncias, o nous é autônomo e infinito.

Para Anaxágoras tudo está em tudo, todas as coisas estão em todas as coisas, pois cada elemento na natureza é composto por partes de todos os outros elementos e o que faz com que algo seja o que é e não qualquer outra coisa, é a maior quantidade de dado elemento. Estes elementos ou partículas foram chamadas de homeomerias ou sementes ou germens ou esperma, não nos sendo visíveis por serem muito pequenas. Não confundir com os átomos de Leucipo e Demócrito, pois, como a palavra diz, “a-tomo” significa “sem partes” ou “indivisível”, e já as homeomerias ou spermata são divisíveis ao infinito sempre mantendo as mesmas qualidades, de todas as coisas ali presentes.

 Silvério da Costa Oliveira.

 

Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.

Site: www.doutorsilverio.com

(Respeite os Direitos Autorais – Respeite a autoria do texto – Todo autor tem o direito de ter seu nome citado junto aos textos de sua autoria)

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