Por: Silvério da Costa Oliveira.
Pelo conceito
“vida” é possível entender diversas e distintas coisas, pois trata-se de algo
abrangente que vai muito além do intervalo de tempo entre o nascimento e a
morte de um indivíduo, em verdade, a vida sempre continua de alguma forma ou
jeito. Pessoas ou grupos diferentes poderão, portanto, entender coisas bem
diferentes a partir deste conceito e estas definições não estariam erradas ou
certas, talvez incompletas. Para entes biológicos, como nós mesmos, seres
humanos, podemos pensar a vida como um processo no qual temos aprendizagem,
evolução e relacionamentos diversos e ao final de uma etapa do mesmo, uma
transformação, jamais uma destruição completa e absoluta do todo, mesmo que uma
parte essencial deste ser não esteja mais ali presente.
Apesar da dificuldade
nesta definição, mesmo por parte de estudiosos no tocante a compor um consenso,
pode-se propor alguns itens nos quais em geral as diversas tentativas de
definição se baseiam e, neste caso, poderíamos afirmar que algo vivo apresenta
algumas características fundamentais, senão durante todo o processo, pelo menos
durante algum momento da existência desse ente, refiro-me ao desenvolvimento
deste ser a partir do seu nascimento até sua morte, seu crescimento em seu meio
ambiente, algum tipo de movimentação (nem que esta seja somente no nível
interno e celular), possibilidade de se multiplicar, capacidade de interagir
com o ambiente circundante apresentando respostas distintas a estímulos
diferentes, e, por fim, a possibilidade de evoluir de algum modo. Além de
movimento, reprodução e crescimento pode-se facilmente incluir outros elementos
ao observarmos os entes vivos ao nosso redor, elementos tais como a respiração,
a alimentação, a excreção e a sensibilidade, sem, no entanto, conseguirmos
abarcar a totalidade da vida, ou sequer incluir um vírus no grupo dos seres
vivos.
Apesar de
aparentar ser algo óbvio os elementos acima elencados, não é algo tão simples
assim, pois meramente utilizando os mesmos poderíamos chegar à conclusão de que
certas coisas são vivas, quando na verdade não o são e aqui o exemplo mais
banal seria o fogo, o qual, apesar de atender a estes quesitos, levaria sérias
dúvidas e objeções se tentássemos defender a possibilidade de o mesmo ser um
ente vivo, a não ser de modo metafórico. Ou seja, como venho argumentando,
trata-se de um conceito difícil de definir e justamente por tal motivo
encontrará diversas definições no decorrer da história e dos grupos humanos.
Quando diante de
seres biológicos próximos a nossa realidade não há muita dificuldade em
defini-los como vivos, do mesmo modo que não teríamos muita dificuldade de não
considerar como vivos uma pedra ou uma barra de metal qualquer, no entanto,
esta definição irá ficando cada vez mais nebulosa e com fronteiras duvidosas
quanto mais nos aproximamos dos seus limites, e fronteiras do que seja ou não
vida. Incluso aqui questões de cunho científico sobre a origem da vida e se
esta poderia nos seus primórdios, surgir da não-vida.
No momento
histórico presente, toda estrutura de vida conhecida por nós se baseia no
carbono, podendo ser esta a composição básica da vida em todo o cosmos, se bem
que há quem defenda a possibilidade de existência de vida com base no silício,
questões estas reservadas para um futuro e que a este momento são reservadas
unicamente a hipóteses ainda não comprovadas.
Devemos,
inclusive, estarmos abertos para a possibilidade bem real em um futuro não
distante, na qual programas de computador, cuja única existência se dê por meio
de uma linguagem matemática e lógica, possam ser considerado entes vivos, se
bem que não biológicos, bem como que possamos vir a criar androides conscientes
que desafiem qualquer definição sobre o que venha ou não ser um ente vivo.
Quando
especularmos sobre o que seja a vida, devemos ter em mente nossa limitação no
tocante as formas de vida por nós conhecidas, pois, além de todas as
dificuldades existentes com relação ao que seja vida a partir do que hoje
conhecemos, decerto esta dificuldade poderá se ampliar diante de novas
descobertas trazidas pelo transcurso do tempo.
Qualquer
definição que possamos dar ao conceito “vida” poderá deixar de fora do mesmo
entes que entendamos concretamente como sendo seres vivos e por outro lado,
poderá incluir outros entes aos quais tenhamos um consenso que não são seres
vivos. Tema, portanto, complexo e talvez complexo demais para uma única
definição válida em qualquer grupo de pessoas, estudiosos, cientistas ou
filósofos em seus distintos campos de trabalho. Para mim e para você, caro
leitor, a vida no que nos interessa, fora algum campo específico de trabalho ao
qual possamos estar nos dedicando, trata-se de nossa própria vida e daqueles
animais ou plantas, que nos cercam e com os quais nos relacionamos e
conjuntamente crescemos e nos desenvolvemos. E neste tocante específico entra
um outro ponto por demais importante que é o sentido que damos para a vida que
vivemos, quais os rumos a seguir, qual o significado do que fazemos ou deixamos
de fazer, qual a importância que damos ao que nos cerca, que marca deixaremos
não somente no mundo, mas mais particularmente nas pessoas que nos conheceram e
com as quais convivemos em algum momento. A vida pode ser contínua e ampla, mas
para nós em particular enquanto uma totalidade que somos, ela também é única.
E um dia você se
descobre vivo, entende que está vivo, que é um ser vivo, consciência que também
lhe traz a lembrança do tempo já transcorrido e a perspectiva de um tempo
presente e futuro. Esta consciência de que estamos vivos, que somos um ente
biológico único é algo que nós, seres humanos, podemos ter, os demais animais e
as plantas não, e algumas pessoas também não, infelizmente. Neste momento, nos
vem a pergunta, para não dizer a responsabilidade, do que faremos com a vida
que não só temos, mas somos? É neste estágio de desenvolvimento que devemos
priorizar o significado e sentido que nós e somente nós podemos dar a nossa
própria vida. Qual importância teremos ou deixaremos de ter para o bem ou para
o mal. Somos criaturas e criadores, o que iremos, portanto, criar no tempo que
dispomos. O prazer é importante, a dor não pode ser menosprezada, a vida deve
ser respeitada e valorizada. E a morte mesmo de um ente que deva morrer, mesmo
de um inseto, um rato ou animal peçonhento presente no meio urbano ou de uma praga
no meio rural, deve ser vista com a seriedade do pesar que reconhece que seríamos
incapazes de criar o que ali fora destruído.
A partir do
momento em que compreendemos que estamos vivos agora e este conjunto complexo
que chamamos de nossa vida não durará para sempre, pois mesmo a vida
persistindo e não se extinguindo jamais, esta junção de vários elementos que
formam nossa existência individual tem um tempo limitado, cabe entender que
precisamos ser autênticos naquilo que de fato somos e queremos de fato ser e
que o momento para isto é agora e não ontem ou amanhã, se compreendemos mesmo a
importância da nossa vida, compreendemos a importância da autenticidade.
Precisamos viver e não sermos meros zumbis que andam por aí como se vivos
fossem, mas só lhes resta o corpo putrefato e nada da atitude que os faria
realmente viver suas vidas.
Silvério da Costa Oliveira.
Prof. Dr. Silvério da Costa
Oliveira.
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