Por: Silvério
da Costa Oliveira.
Certa vez
escrevi um texto sobre este tema, que sugiro que o leitor leia para
proporcionar mais material para o debate deste assunto. Refiro-me ao capítulo
12 “Estudo teórico sobre o sucesso literário”,
de meu livro: “Reflexões filosóficas: Uma
pequena introdução à filosofia” (em meu site).
Penso que um
ponto intrigante é porque alguns poucos livros fazem estrondoso sucesso em meio
a um verdadeiro enxame de livros que são publicados no mesmo período.
Analisando-se estas obras podemos encontrar alguns denominadores comuns que
podem favorecer a nossa compreensão deste fenômeno.
Por vezes o
sucesso de determinada obra é tão grande que todos conhecem seus personagens,
mas tem dificuldade em lembrar o nome dos autores, tal é o caso de personagens
como Sherlock Holmes e Dr. Watson, o primeiro livro em que tais personagens
apareceram data de 1887 e intitulava-se “A
study in scarlat”, mas pergunto eu a você, meu amigo e minha amiga, quem é
o autor da obra?
Tudo bem,
talvez você tenha acertado, talvez não, mas que tal então um autor mais recente
e um personagem que surgiu pela primeira vez em 1953, no livro intitulado “Casino Royale”, o agente secreto James
Bond, 007, do MI6, saberia agora você me responder o nome do autor? Talvez você
saiba, mas mesmo assim há de concordar que muita gente não o sabe e o que eu
quero dizer com isto é que há casos em que o personagem criado se torna bem
maior e mais conhecido que o autor criador.
Penso que um
dos fatores importantes pelo sucesso de um trabalho literário que envolva
personagens é o envolvimento do leitor na trama, tornando-o um participante
ativo. O leitor precisa se identificar com um personagem dentro da trama, e
tudo bem que todos queiram ser o herói, mas, as vezes o herói tem tantas
características sobre-humanas que se torna difícil tal identificação e o leitor
para evitar ficar constrangido diante de sua própria insignificância frente a
tal ser maravilhoso e perfeito, vai buscar refúgio temporário em outro personagem
mais humano ou em uma característica por demais humana do personagem principal,
como, por exemplo, alguma idiossincrasia ou doença tragicômica. Vemos que
Sherlock Holmes traz sempre ao seu lado seu fiel escudeiro Dr. Watson, por sua
vez, um personagem da TV que se inspira em Holmes, o Monk da série de mesmo
nome, apela para um lado tragicômico e doentio do personagem principal.
Por tal meio
forma-se um triângulo amoroso literário, onde uma das pontas é ocupado pelo
leitor, outra ponta por todas as características positivas do personagem
principal que o destacam do restante da humanidade, e por fim, a terceira ponta
é ocupada por algo ou alguém que permita um ponto de refúgio para o leitor em
sua simples humanidade.
Mas nem todos os
livros se prendem ao entretenimento, há o grande sucesso de vendas oriundo de
outro triângulo, no qual cada uma das três respectivas pontas é ocupada a sua
vez por: 1- Mensagem/informação, 2- Necessidade, 3- Leitor. Tal é o caso dos
livros universitários, dos livros didáticos, dos dicionários, dos atlas, etc.
Também aqui podemos colocar obras que vão ao encontro de uma necessidade social
e histórica vinculada a determinada época, como ocorre hoje com os livros de
auto-ajuda e sobre misticismo, que satisfazem uma necessidade de grande número
de leitores.
Mas o leitor
não está presente como uma das pontas do circuito em todas as formas de sucesso
literário, tal é o caso de outro triângulo, onde temos: 1- Polêmico, 2-
Revolucionário, 3- Inovador. Neste caso o que temos é um grande impacto social
que força o consumo temporário de determinada obra, mas deixe-me ressaltar
novamente o aspecto temporário desta forma de sucesso. O principal motivo deste
sucesso não ser permanente é a ausência do leitor no circuito, não havendo
participação e identificação do leitor com a obra, não haverá permanência no
tempo da mesma.
Claro está,
também, que fatores individuais presentes ao autor, como, por exemplo, sua
personalidade e posição social, podem influir no sucesso da obra, bem como, a
conjuntura sócio-política da sociedade em determinado momento histórico ou
mesmo a divulgação que a obra possa ter tido pelos respectivos canais de mídia.
Uma obra
literária está destinada para um determinado público leitor e como tal, o
sucesso será decorrente do encontro desta obra com este público. Pode ocorrer,
no entanto, que uma obra seja escrita destinada a um momento passado ou futuro.
Bem, se a obra é destinada a um momento passado esta não terá como chegar aos
seus destinatários, mas se a mesma é destinada a um momento futuro, então,
haverá um momento em que o publico leitor irá descobrir a obra e esta fará
enorme sucesso, neste tocante, não faltam casos históricos para ilustrar isto,
mas citarei somente um, o filósofo Nietzsche.
Não somente as
pessoas são diferentes, como também as sociedades possuem culturas diferentes e
pode bem ocorrer de uma obra estar mais propensa a agradar determinada
sociedade e cultura do que outra, de modo que possa encontrar sucesso em um
lugar e fracasso em outro. Obras literárias também são destinadas a
determinados públicos e não a todos, afinal, nem todos gostam dos mesmos
gêneros ou estilos literários e o que possa parecer eletrizante para uns, pode
parecer enfadonho para outros. O encontro da obra com seu público é fator determinante
para o sucesso.
PERGUNTA:
Porque uma obra literária obtém enorme sucesso enquanto outra fracassa diante
do mercado?
Prof. Dr.
Silvério da Costa Oliveira.
(Respeite os
Direitos Autorais – Respeite a autoria do texto – Todo autor tem o direito de
ter seu nome citado junto aos textos de sua autoria)
Um comentário:
Depois de dois dias pensando nisso, criei coragem pra responder.
Penso que dependendo da ponta onde eu esteja ou olhe, vamos ter várias respostas. Como escritora, aprendi que é possível ter sucesso escrevendo poesia, para isso, é preciso ter em mente, o público-alvo a quem se destina, e, mais do que isso, falar sobre coisas novas. Ou se for escrever sobre uma coisa que já existe, que seja feita de uma forma mais original e criativa, menos óbvia. Como já trabalhei em editora, eu diria que a relação depende do marketing em função da "aplicabilidade" do tema no dia-a-dia. Como leitora, vejo vários aspectos: custo-benefício, interesse-marketing, indicação-aplicação, pesquisa-obrigação entre outros. Dificilmente eu vejo pessoas lendo algo pelo simples fato de querer ler, ou porque o título ou capa de um livro lhe chamou a atenção, (como acontece comigo) lêem pelo fato quantitativo, nem sempre qualitativo. Por ser muito comentado, ou por ser best-seller, deixando de lado, muitos gêneros textuais importantes em vários sentidos.
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