Por: Silvério da Costa Oliveira.
James Mill
James Mill (1773-1836) nasce na aldeia de Northwater Bridge, em Angus, Escócia, e falece aos 63 anos de idade em Londres, Inglaterra. Foi o mais velho de um total de nove filhos do casal James Milne (quando o sobrenome da família foi anglicizado, passou a ser chamado de Mill) e Isabel Fenton. Seu pai era sapateiro e sua mãe filha de fazendeiro. A família de James Mill vivia em modestas condições, mas mesmo assim, a sua mãe atuou decisivamente no aprimoramento da educação dada a ele. Desde tenra idade James Mil demonstrou destaque em sua inteligência, tendo seus talentos intelectuais chamado a atenção de benfeitores locais, que financiaram seus estudos.
Em 1790 ingressa na Universidade de Edimburgo, onde estuda Teologia, visando vir a ser ministro presbiteriano. Formou-se no ano de 1798. Tendo se licenciado como pastor presbiteriano em outubro de 1798, atua por um breve período de tempo, vindo a abandonar as pregações. Durante o período em que esteve na universidade, passou a se interessar, também, por filosofia e literatura. Atuou como tutor de muitos filhos da nobreza.
No ano de 1802 segue para Londres acompanhando Sir John Stuart, membro do parlamento. Chegando a Londres, atuou como editor de um periódico entre 1803 e 1806, o "Literary Journal". Neste período também editou a “St James's Chronicle”. Após mudar para Londres, tornou-se editor e escritor de destaque. Sua obra mais conhecida, “A história da Índia Britânica” foi escrita entre 1806 e 1818. Foi esta obra que lhe forneceu destaque enquanto intelectual entre seus contemporâneos, vindo a influenciar David Ricardo, economista, que se tornou seu amigo. Além disto, a partir da publicação desta obra, é convidado a trabalhar para a Companhia das Índias Orientais, em 1819, onde permanece até o final de sua vida. Atuou, portanto, como funcionário da Companhia das Índias, vindo a ocupar alto cargo e é justamente este emprego que lhe confere estabilidade financeira e tempo para se dedicar à escrita.
De religião presbiteriana, Mill atuou como filósofo, teólogo, economista, linguista, historiador, tradutor, ensaísta, editor, escritor, crítico literário, político, cientista político. defensor do Liberalismo e do Utilitarismo. É considerado o mais importante discípulo de Jeremy Bentham, que tradicionalmente é considerado o fundador do Utilitarismo na Filosofia e quem conheceu em 1808, e é o pai do John Stuart Mill, considerado o maior representante do Utilitarismo.
No início do século XIX Mill se mostra como figura de destaque dentro do pensamento Utilitarista. O Utilitarismo proposto por Mill busca maximizar a felicidade e o bem-estar social por meio da aplicação de princípios racionais e lógicos.
James Mill casou-se com Harriet Burrow em 1805, com quem teve nove filhos, sendo o mais famoso deles John Stuart Mill (1806-1873), que leva o nome em agradecimento ao parlamentar que o acompanhou a Londres. Apesar de sua importância dentro da filosofia e demais campos do saber, nos quais apresentou contribuições, como, por exemplo, na economia, psicologia e política, Mill foi eclipsado pela proximidade de Jeremy Bentham, seu amigo, e John Stuart Mill, seu filho.
Baseado no pensamento de David Hume, defende Mill que todos os processos cognitivos podem ser explicados por meio de associação de ideias. Entende que a mente humana é passiva, sendo todos os fenômenos humanos compostos por sensações e ideias, estas formadas por meio da experiência sensorial e organizadas por intermédio de leis de associação. As leis de associação identificadas por Mill, são respectivamente: contiguidade (ideias que ocorrem juntas no tempo e no espaço tendem a se associar) e semelhança (ideias semelhantes tendem a evocar umas às outras). Mill entende que podemos analisar e reduzir a combinações de sensações simples, todas as emoções e pensamentos complexos.
Na economia aplica o Utilitarismo e se põe a par com as ideias defendidas por Jeremy Bentham e David Ricardo. Dentre suas contribuições podemos citar: a teoria do valor-trabalho (O valor de um bem é determinado pela quantidade de trabalho necessário para produzi-lo), a defesa do livre mercado (A concorrência é essencial para desenvolver a eficácia econômica e maximizar o bem-estar social), a distribuição da riqueza (Propõe uma distinção entre “produção” e “distribuição” de riqueza. Entende que a distribuição pode ser ajustada para atender a justiça social, sem que isto interfira na produção.). Suas ideias na economia influenciaram as políticas econômicas adotadas no século XIX, vindo a contribuir para o debate sobre justiça social e intervenção estatal.
Na política e filosofia social, defendeu as teses presentes no Utilitarismo e a formação de um governo representativo. Apresenta uma visão utilitarista sobre a moralidade e a política. Cabe ao governo atuar de modo a maximizar o bem-estar social geral, criando condições para o desenvolvimento da felicidade, mantendo a ordem e promovendo reformas sociais. A educação se mostra como essencial para o progresso social e político, pois, atua de modo a preparar o cidadão para a participação na sociedade, desenvolvendo sua capacidade de interpretar racionalmente a realidade que se lhe apresenta.
Defende uma democracia representativa, mas com a ressalva que em sua opinião torna-se necessário que os indivíduos para exercer influência política devam ser primeiramente educados e devidamente informados, deste modo, expressa seu temor quanto à composição de um governo puramente pela maioria ignorante das pessoas, a formação de um "governo da ignorância", para que isto não ocorresse defendia a educação de todos. James Mill defendeu o sufrágio universal e a educação do povo. Seu pensamento nesta área veio a influenciar o desenvolvimento do Liberalismo Clássico e também a evolução do pensamento democrático no transcorrer dos séculos XIX e XX.
Em sua obra "The History of British India" (1817), Mill aplica uma abordagem utilitarista à análise histórica, julgando as instituições indianas em termos de sua utilidade. Neste estudo histórico temos uma crítica cultural na qual defende a superioridade do Ocidente perante a Índia. Para Mill, os britânicos se apresentavam como civilizadores e o sistema de “metrópole – colônias” tendia a trazer benefícios para a colônia, neste caso, a Índia. Em suma, neste tocante, Mill se mostra eurocêntrico em sua forma de pensar. Mill apresenta uma crítica ao sistema de castas presente na Índia, bem como também critica outras tradições encontradas neste país. Segundo o pensamento de Mill, tanto o sistema de castas, como também outras tradições ali presentes, se mostravam como barreiras para o desenvolvimento e o progresso. Sua análise sobre a Índia nesta obra veio a exercer influência nas políticas coloniais britânicas e nos estudos sobre administração pública.
Adota para si, em sua filosofia, o princípio da utilidade. Coube a Mill sistematizar o Utilitarismo criado por Jeremy Bentham, vindo a exercer influência sobre várias áreas do conhecimento, como, por exemplo: o subsequente desenvolvimento da psicologia associacionista e, mais tarde, a psicologia experimental; o avanço da economia política clássica; a estruturação do pensamento democrático e das reformas sociais por meio da influência de sua teoria política liberal.
Coube a James Mill aplicar em diversos campos do saber humano o rigor lógico e utilitarista por ele desenvolvido. Deixou um legado muito importante, se bem que por vezes este seja ofuscado pela proximidade de Bentham e Stuart Mill. O pensamento desenvolvido na obra de James Mill tende a se mostrar como uma ponte entre a filosofia desenvolvida no século XVIII e as atuais ciências sociais.
PRINCIPAIS OBRAS
1- Uma História da Índia. Título original: The History of British India. Data da primeira publicação: 1817.
Obra mais conhecida deste filósofo, na qual examina a história da Índia durante o domínio britânico. Apresenta uma crítica a cultura e as instituições indianas a partir de uma perspectiva utilitarista.
2- Elementos de Economia Política. Título original: Elements of Political Economy. Data da primeira publicação: 1821.
Introdução aos princípios da economia política que influenciou economistas e ajudou na consolidação dos princípios utilitaristas na teoria econômica.
3- Análise dos Fenômenos da Mente Humana. Título original: Analysis of the Phenomena of the Human Mind. Data da primeira publicação: 1829.
Estudo sobre os processos mentais e como os mesmos podem ser explicados por meio de associações de ideias, buscando integrar os princípios utilitaristas ao entendimento psicológico.
4- Fragmentos sobre Mackintosh. Título original: Fragment on Mackintosh. Data da primeira publicação: 1835.
Crítica a obra filosófica de Sir James Mackintosh, reforçando o compromisso de Mill com o utilitarismo e a lógica.
Silvério da Costa Oliveira.
Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.
Site: www.doutorsilverio.com
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