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Giambattista Vico: A filosofia da história presente em Ciência Nova

 

Por: Silvério da Costa Oliveira.

 

G. B. Vico

Giovan Battista Vico

Giambattista Vico

 

Giambattista Vico (1668-1744) nasce em Nápoles, Itália. Se dedicou a estudar a Escolástica e o Direito, atuou como professor de retórica, filósofo, historiador, pedagogo, poeta, orador e jurista. Sofre influência do cristianismo, de Platão, de santo Agostinho e de Bossuet. Sua principal obra é “Principi di una scienza nuova d’intorno ala commune nature delle razioni, 1725 (muitas vezes abreviado na tradução como “Ciência nova”. A última versão atualizada pelo autor é datada de 1744). Seus estudos e formação foi quase totalmente autodidata. Dentro do período do Iluminismo, tende a se opor ao mesmo (anti-iluminismo ou contrailuminismo).

Entre os anos de 1686 e 1695 Vico atuou como preceptor do filho do marquês Dominico Rocca, em Vatolla (Cilento), sul de Salerno, Itália. Durante este período teve acesso a vasta biblioteca do palácio, contendo muitas obras clássicas que ele pode estudar e simultaneamente, aperfeiçoar o seu grego e latim. No ano de 1699 casa-se com Teresa Destito, amiga de infância, com quem teve três filhos, e assumiu a cadeira de retórica na Universidade de Nápoles. Em 1734 foi nomeado historiador real pelo rei Charles III, de Nápoles, que lhe proporcionou um salário maior do que o que recebia como professor de retórica, mas mesmo assim manteve a cadeira de retórica até que os problemas de saúde o obrigaram a se afastar, isto em 1741.


 

Faz uma crítica ao pensamento de Descartes sobre a aplicabilidade das ideias claras e distintas a todo o conhecimento humano, segundo Vico, tal método estaria mais adequado às matemáticas e a física, sendo em sua concepção, um método abreviado e limitado de filosofar. Uma ideia clara é uma ideia finita, e para muitas coisas humanas não é aplicável, como no caso do sofrimento, do qual não é possível captar a forma ou o limite, proporcionando a pessoa que sofre uma percepção infinita deste sofrimento. Entende que esta infinitude testemunha a grandeza da natureza humana.

Enquanto as ciências naturais e as matemáticas ganhavam destaque e importância diante do pensamento de René Descartes, bem como do movimento Iluminista, coube a Vico destacar que a imaginação, a linguagem e a história também possuem um status digno para a obtenção de conhecimento, pois, tais campos eram negligenciados pelas correntes racionalistas de seu tempo como não passíveis de produzirem um conhecimento pautado em ideias simples, claras e distintas, bem como, verdadeiro.

Segundo o pensamento de Vico, há presente na humanidade uma unidade outra que não é a razão. Esta identidade é semelhante a um senso comum, um juízo de reflexão, aceito e sentido por todo um grupo, povo ou nação, ou mesmo, por todo o gênero humano. Ideias uniformes surgem em povos distintos, sem contato entre si. Deduz que possam existir leis uniformes, independentes da razão, presentes na formação das diversas nações mundo a fora.

Segundo o pensamento de Vico, o movimento da história é cíclico, e está estruturado a partir de três idades. Vico divide a evolução dos governos na história da humanidade em três: 1- Idade dos deuses, onde temos a teocracia, 2- idade dos heróis, onde temos a aristocracia, 3- idade dos homens, onde temos um governo humano, a monarquia constitucional (ou a república constitucional), pois, o monarca garante a igualdade dos direitos. Na primeira idade temos o direito religioso, no qual tudo é propriedade dos deuses, na segunda idade temos o direito heroico onde temos uma mediação entre força e religião, na terceira idade temos o direito humano, com leis pautadas na razão. A primeira é semelhante a infância, a segunda à adolescência e a terceira ao humano adulto. Na primeira idade temos a sensibilidade, na segunda a fantasia e na terceira a razão.

A separação da barbárie para o início da civilização ocorre após o dilúvio de Noé, descrito na Bíblia, e o surgimento da sociedade humana é marcado por três elementos: 1- a religião (a crença na existência de Deus, na imortalidade da alma, na Providência divina), 2- o casamento ou matrimônio (proporcionando a criação da família onde os filhos serão educados), 3- os rituais fúnebres (enterro, cremação, culto aos mortos, etc.).

Em “Ciência nova” temos que a única verdadeira ciência é a história, mas aqui trata-se de uma história inclusiva, pois, abarca toda a produção humana (linguagem, literatura, economia, arte, ciência, filosofia, tecnologia, antropologia, etc.), se contrapondo à filosofia científica então dominante em sua época, que tende a proporcionar o status de ciência exclusivamente para as ciências da natureza, excluindo a história.

Em sua obra, busca determinar as leis naturais da história. O problema específico abordado e estudado por Vico é o problema da história, daí ser sua doutrina associada ao historicismo e também a uma antropologia. A história humana e natural é um reflexo de um mundo transcendente, de uma realidade ideal. Vico elaborou uma teoria cíclica da história e da cultura.

Com a ideia de curso e recurso Vico nos apresenta a ideia de uma histórica cíclica, mas não se trata do eterno retorno ou de uma história circular e sim algo mais próximo de uma espiral. A história retorna, mas não exatamente do mesmo modo, havendo uma evolução gradativa.

Pelo critério de verdade adotado por Vico, tem ciência plena das coisas aquele que as produziu (princípio verum-factum – verum = verdade, factum = o que é feito), já que Vico é cristão, então Deus, que criou a tudo, tem ciência de tudo, logo, a absoluta verdade é Deus. Tudo que é real, humano e físico, obtém sua clareza e inteligibilidade em Deus, ao humano enquanto ser inteligente, cabe possuir a verdade somente enquanto Deus o faz partícipe da mesma. A Providência surge na teoria de Vico como elemento essencial de sua antropologia. Em Deus está o sentido do humano. A verdade coincide com o fato construído, e a conhece aquele que participa da criação destes fatos.

Conhece a verdade sobre algo aquele que constrói ou participa da construção deste algo. Deus criou a natureza, e não o humano, portanto, cabe a Deus conhecer a natureza, sua criação. O humano criou muitas coisas no transcurso da história e estas coisas ele é capaz de entender. O artífice que cria algo conhece as causas do mesmo, vai das causas para seus efeitos, já quem não cria, conhece somente os efeitos e para conhecer as causas precisa de um procedimento indireto de ir dos efeitos até as causas. Este procedimento indireto não garante a plena veracidade de suas conclusões sobre as reais causas envolvidas. A realidade histórica é um produto do humano, logo, este conhece as causas daquilo que de fato produziu. Mesmo as matemáticas são criação humana e portanto passíveis de um conhecimento verdadeiro. Mas existe uma história ideal eterna, presente na Providência divina, trata-se de um projeto de Deus.

Para Vico a história passa a ser entendida como um processo vivido e criado pelos humanos. É no decorrer da história que os humanos criam seus sistemas de linguagem, seus costumes variando em cada região, as leis, os mitos, as instituições. Também no decorrer da história temos a criação de organizações militares e civis vinculadas a Estados e povos diversos. As pessoas expressam no transcurso da história os seus sentimentos, sejam de esperança ou de medo. Mas Vico também aceita que conjuntamente com esta criação humana da história haja a presença de um plano maior presente na Providência Divina.

Cada qual conhece aquilo que faz, que cria. O campo próprio da ciência humana não pode, portanto, ser referente a criação de Deus e sim a criação humana. A natureza é criação de Deus, então, o campo da ciência humana não pode ser ela, e sim aquilo que foi criado por humanos, a saber: a história, a sociedade, a linguagem, a literatura, as leis, a política. Só podemos conhecer realmente aquilo que fazemos, que criamos.

Em Vico temos uma filosofia da história e, por tal conceito, entendemos uma filosofia que propõe que a história possui um sentido, uma força condutora, um destino que a fará chegar a um determinado lugar. Vico é considerado por alguns comentadores como o primeiro grande filósofo da história. A história é o produto das próprias ações do humano. Há uma história ideal eterna que se comporta como análoga a uma fôrma ou esqueleto na qual as diversas histórias reais se acomodam as linhas gerais desta em direção a um fim proposto.

Há, segundo o pensamento de Vico, uma diferença fundamental entre o certo e o verdadeiro. A física nos proporciona certezas, mas não verdades, já as matemáticas nos proporcionam verdades, mas não certezas. Somente é verdadeiro aquilo que é produzido pelo próprio, como no caso das matemáticas, produção humana, mas não no caso da física, pois esta não é produzida pelos humanos e sim por Deus, podendo ser pelos humanos somente constatada como certa. A certeza se diferencia da verdade porque a verdade nos proporciona o conhecimento das causas até seus efeitos, enquanto a certeza parte dos efeitos para obter as causas. A certeza fica no campo da verossimilhança, da probabilidade.

Somente Deus pode compreender todo o mundo, pois, foi Ele quem o fez, mas o humano pode compreender a história, pois, é sua realidade e criação. As histórias particulares se vinculam e participam de uma história eterna e ideal, em decorrência da intervenção da providência divina. A história transcorre no tempo, mas participa do eterno.

Para Vico, Homero, autor grego, nunca existiu, trata-se de um universal fantástico. A Ilíada foi escrita pelo Homero jovem, ou seja, pelos gregos em todas as suas cidades quando sua civilização estava começando. A Odisseia foi escrita por Homero velho, mas este Homero em idade avançada é na verdade todas as cidades Estado gregas em um momento posterior de sua evolução histórica. Homero é um produto coletivo dos gregos, um universal fantástico.

Vico é um autor isolado no seu tempo histórico, pois, vivendo em pleno século do Iluminismo, se contrapõe ao mesmo, por um lado se mostra presente em interesses filosóficos que o levam ao Renascimento e Humanismo, com a redescoberta de Platão e o neoplatonismo, por outro lado, se apresenta como um anunciador dos temas e problemas enfrentados pelo Romantismo e Barroco. Apresenta Vico uma filosofia da história que eleva esta disciplina a categoria de ciência, detentora da verdade por ser produto construído pelos humanos, uma história que se realiza de modo cíclico, por etapas (três) e determinista. Nele temos presente o cristianismo e a ideia da existência do Deus cristão, da imortalidade da alma e da Providência Divina.

 Silvério da Costa Oliveira.

 


 

Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.

Site: www.doutorsilverio.com

(Respeite os Direitos Autorais – Respeite a autoria do texto – Todo autor tem o direito de ter seu nome citado junto aos textos de sua autoria)

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