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Francis Bacon: O método e as etapas do saber e do conhecimento verdadeiro

 Por: Silvério da Costa Oliveira.

 Francis Bacon (Londres, 22 de janeiro de 1561- Londres, 9 de abril de 1626) se propõe a criar um novo método investigativo, indutivo, para obtenção do saber verdadeiro. Pode com certeza ser considerado o fundador da escola inglesa de filosofia intitulada “Empirismo”. Dentre suas principais obras cabe citar o livro “Novum organum”, parte integrante da obra maior e inacabada “Instauratio magna” (grande instauração ou estabelecimento). Bacon entende que a ciência é algo prático e que saber é poder. Por meio do conhecimento oriundo das ciências podemos alcançar poder sobre a natureza.

 


O método proposto por Bacon possui duas partes, sendo a primeira destrutiva ou negativa e a segunda construtiva ou positiva. Visando atender as exigências da parte negativa ou destrutiva de seu método e eliminar tudo que prejudique a obtenção do saber verdadeiro, propõe os quatro ídolos presentes na ciência ou nos cientistas enquanto prejuízos ou falsas noções que direcionam ao erro.

A fonte de nossos erros se encontra em quatro ídolos ou falsas imagens, a saber: 1- idola tribos (Tribo - referência a nossa espécie), 2- idola specus (Caverna - referência à caverna de Platão, alegoria apresentada no livro “A república”), 3- idola fori (Mercado - referência à praça pública), e 4- idola theatri (Teatro).

A idola tribos provém de nossa natureza humana enquanto espécie que nos induz a pensar em tudo em relação a nossa espécie, vendo ordem e uniformidade que não existiriam ou apresentando explicações antropomórficas ou priorizando em importância algumas coisas sobre outras. É por tal meio que surgem as superstições, pois, tendemos a levar em consideração para nosso juízo somente os casos de sucesso e não os que não ocorrem. Os casos em que as predições falham são simplesmente ignorados. O comportamento reproduzindo as crenças da tribo na qual se vive afetam nossa real percepção da realidade e faz com que nos baseemos em preconceitos correntes no grupo do qual fazemos parte. Estes ídolos nascem de nosso comportamento grupal, do ser humano dentro de um dado grupo, fazem parte de nossa natureza humana.

A idola specus é voltada para nossos preconceitos relacionados a hábitos adquiridos ou à educação. Aqui abordamos mais especificamente o ser humano enquanto indivíduo, a natureza própria e particular de cada pessoa. Aquilo que o indivíduo adquiriu e irá formar seu entendimento, sejam coisas adquiridas pela educação formal ou informal, pela sua experiência particular, por conversas com outras pessoas, pela leitura, pelo respeito à autoridade e por estar sujeito à influência de determinadas pessoas dentro da sociedade.

A idola fori se baseia no uso convencional das palavras nas relações sociais. Por vezes as controvérsias não se pautam nas coisas em si mesmas e sim nas palavras que usamos. Ao tentar classificar as coisas, o uso vulgar da linguagem nos atrapalha, pois já há uma classificação popular que se opõe à nova. As palavras nos proporcionam, por vezes, um sentido confuso e por vezes sem relação com a realidade. As definições das palavras que usamos não são claras e pode ocorrer discussões infrutíferas sobre temas onde o erro se encontra em que cada pessoa ou grupo utiliza uma definição diferente para as mesmas palavras, obtendo como resultado significados completamente diferentes e antagônicos.

A idola theatri se baseia nas construções fictícias de sistemas anteriores na filosofia. Se atém ao prestígio de teorias já existentes. Grandes sistemas filosóficos e outros podem proporcionar que observemos fatos isolados pelo prisma de tais sistemas, deturpando os fatos para que os mesmos se adaptem ao sistema filosófico que aceitamos como verdadeiro.

Bacon compara a situação das tentativas de obter conhecimento com uma metáfora que este cria, dizendo que os empiristas colecionam fatos do mesmo modo que as formigas acumulam provisões, os racionalistas alheios à experiência constroem teorias fora da realidade do mesmo modo que as aranhas constroem teias e que o ideal seria nos portarmos como as abelhas que sugam o néctar das flores para a partir desta matéria prima construírem algo novo, os favos de mel.

Cabe atuar de modo crítico e usar do método indutivo diante da natureza, partindo da experiência e evitar antecipar seus resultados de modo apressado. Todo o processo indutivo de busca da verdade deve ser gradual e interpretativo, evitando se precipitar em generalizações.

Aqui, no emprego do método indutivo por parte de Bacon, temos de tomar cuidado para não pensarmos no método hipotético dedutivo hoje usado na ciência, pois, o método científico atual tem suas origens em Galileu Galilei e não é isto que propõe Bacon em seu livro Novum organum, aliás, muito mais complexo e complicado que o método lógico proposto por Aristóteles no “Organum” ou o método científico atual. Nós temos uma tendência a falar em hipóteses e quando vemos em Bacon que devemos primeiro observar os fatos, para depois organizar e agrupar os fatos e em terceiro lugar vir a fazer formulações visando atingir algum tipo de comprovação, temos a tendência de imaginar hipóteses nestas formulações seguidas de experimentos para verificar a legitimidade das mesmas e isto de fato está escrito em vários textos espalhados pela Internet ou presente em vários vídeos no YouTube, apesar de ser falso.

Em Francis Bacon, após observar os fatos, nós os agrupamos e organizamos seguindo as quatro (e não três) tábuas propostas para tal finalidade. Sempre devagar e sem dar saltos iremos do particular para o geral, buscando princípios gerais e axiomas. Iremos dos fatos particulares até leis gerais e depois até as aplicações na prática, ou seja, e dito de outro modo, subimos do fato observado, particular e individual, até uma lei geral e depois descemos até a aplicação na vida diária. Este processo de formular axiomas ou leis gerais é seguido de experimentação, indo e voltando. Algo pouco usado e não valorizado no pensamento de Bacon é, conjuntamente com as matemáticas, as hipóteses como as entendemos hoje em dia.

Mas não é simplesmente enumerar as observações e experiências o que temos no método indutivo, a ele devemos juntar as tábuas visando investigar a essência do fenômeno. Após a experiência cabe, portanto, formular as seguintes tábuas. 1- tabula presentiae, 2- tabula absentiae, 3- tabula graduum, 4- tabula reiectionis et exclusionis. Na tabula presentiae juntamos os casos em que se apresenta o fenômeno. Na tabula absentiae os casos em que o mesmo não se apresenta. Na tabula graduum temos o grau crescente ou decrescente em que o fenômeno se apresenta. Na tabula reiectionis et exclusionis agimos rejeitando, excluindo ou separando as propriedades não essenciais.

Visando a divisão da filosofia, enquanto somatório de todos os ramos do conhecimento, toma como base as faculdades cognitivas humanas, a saber: memória, imaginação e razão e as vincula com a divisão do saber em história (ciência da memória), poesia (ciência da imaginação) e filosofia (ciência da razão).

A história tem dois objetos de estudo, a natureza, de onde temos a história natural com suas subdivisões e o homem, de onde temos a história civil, também com suas subdivisões.

A filosofia (ciência da razão) tem dois objetos de estudo, a natureza, de onde temos a filosofia natural e o homem com a filosofia do homem.

 Para a memória traz a história, que visa o acúmulo de informações sobre o passado e presente. Para a imaginação traz a poesia, que visa à construção pela imaginação da realidade e na poesia inclui também as fábulas e mitos antigos. Para a razão traz as ciências diversas sobre a natureza e a elaboração dos conteúdos advindos da história.

A classificação e divisão dos conhecimentos feita por Bacon é extensa, exaustiva e contem múltiplas subdivisões que não irei reproduzir aqui por entender não ser este quadro de utilidade no presente artigo, mas fica o alerta caso o leitor tenha interesse em obter a classificação completa das ciências em Francis Bacon.

Dentre outros pontos, cabe com certeza importância e destaque a Francis Bacon como fundador do Empirismo inglês e pela ênfase dada a experiência na busca do conhecimento realmente verdadeiro. Ele irá influenciar a diversos e importantes pensadores posteriores e marcar um posicionamento seguro em direção à abordagem empírica e indutiva que deva ser dada pela filosofia e ciência na busca do conhecimento verdadeiro, o que com certeza terá fortes consequências em pensadores futuros que desenvolverão mais a fundo pontos importantes presentes dentro das teses inicialmente levantadas por Bacon e de certo modo acabará levando ao ceticismo de David Hume em um momento histórico futuro.

 Silvério da Costa Oliveira.

 

Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.

Site: www.doutorsilverio.com

(Respeite os Direitos Autorais – Respeite a autoria do texto – Todo autor tem o direito de ter seu nome citado junto aos textos de sua autoria)

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