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Eternidade


Por: Silvério da Costa Oliveira.

O conceito de eternidade encontra-se presente em religiões e na filosofia, mas é algo que possui uma definição que foge de nossa experiência cotidiana, pois, cabe argumentar em direção a algo que não teve começo e não terá fim, ficando, portanto, além e aquém do tempo, não podendo ser medido por qualquer medida que se faça do tempo. Dentro da teologia cristã a eternidade se apresenta como um dos atributos de Deus, este estaria fora do tempo e teria criado a tudo, inclusive o próprio tempo. Por sua vez, se pensarmos por um prisma filosófico, eterno seria o cosmos tendo toda a matéria e energia nele presente de algum modo, mesmo que somente em potência, pois, do nada nada se cria. Em filosofia podemos ter a eternidade como um atributo exclusivo do “Ser” ou do “Uno”, isto se formos buscar uma contribuição em Parmênides ou em Plotino, por exemplo.
Somos seres temporais e ao tempo pertencemos e mesmo aqueles cujas crenças admitam a imortalidade da alma, a reencarnação de espíritos ou a ressurreição da carne hão de convir que um dia nasceram, que um dia foram criados, e antes disto não existiram, portanto, a eternidade não é algo que nos pertença. O conceito de eternidade não pode ser visto como meramente um tempo de longa duração, pois, se assim o fizermos não cabe outra palavra senão o “tempo”, longo ou curto, linear ou circular, quanto faz. No entanto, cabe lembrar que o tempo é algo que requer ser medido e que esta medida pode variar quando incluídas outras variáveis, como, por exemplo, a velocidade pela qual percorremos uma sucessão de fatos. Lembremos de Einstein quando este teoriza que quanto mais próximos da velocidade da luz viajarmos mais iremos nos distanciar temporalmente daqueles que não se locomoverem na mesma velocidade. Estamos dentro de um todo englobante muito maior do que as medidas que hoje possuímos e todo este cosmos em expansão desde o big bang percorre um certo tempo. O todo, esta totalidade em sua unicidade nos mostra uma realidade cuja intuição filosófica ou científica procura abarcar diante de conceitos fabricados a partir de nossas limitações e também capacidades. Cada qual mantenha a sua crença, mas esta não deverá impedir de usarmos de nossa razão, intuição e reflexão.
O tempo cristão é entendido como linear, ou seja, nesta reta houve um dia um começo e haverá um final, deste modo, o conceito de algo intemporal caberia somente ao Criador, a este único Deus e não a sua criação, pois, esta um dia teve um começo, havendo, portanto, a não existência antes do fato que gerou sua criação. Já os antigos falavam em outro tempo, uma noção provavelmente oriunda dos ciclos observados na natureza, que nos fala em um tempo e mundo onde não haja uma criação e sim um eterno retorno ao mesmo, algo circular, onde passaríamos de novo e de novo pelo mesmo percurso, volta após volta. Pensemos no clima, primavera, verão, outono e inverno e depois tudo novamente, assim são as fases da vida, de nossa vida e de todo universo.
Já no amor e nas relações humanas, eterno é o sentimento que temos enquanto o mesmo durar, uma eternidade que possa caber em um tempo reduzido, mas que por nós ainda assim é percebido como eterno, pelo menos enquanto dure. No amor e no fogo da paixão uma fagulha da eternidade não deixa de estar presente. Já a dor presente quando perdemos algo muito querido pode até parecer eterna, mas em algum momento há de findar como tudo em nossas humanas vidas. Neste tocante, é aconchegante saber que a dor terá um fim, infelizmente a felicidade e tudo que amamos também segue o mesmo caminho.
O ser humano é um ser temporal e isto torna muito difícil o entendimento de uma realidade outra, atemporal. Nós somos filhos da presença transitória do tempo dentro de uma vastidão eterna cujos contornos não temos como perceber. Os físicos falam em big bang, mas tanto para estes como também para os filósofos, do nada, nada se cria, logo, matéria e energia estavam ali anteriormente em algum dado formato, mesmo antes da explosão que criou a tudo. Um cientista físico que conceba em seu credo particular um deus, para ser honesto consigo mesmo o teria de fazer não como um deus cristão criador e sim com um deus organizador, construtor, arquiteto, uma inteligência que molda, mas não cria.
Para nós, seres humanos, a única realidade que faz sentido é o momento presente, o momento único no qual vivemos o aqui e agora e não o passado, pois este já passou e também não o futuro, que ainda não existe para nós. Nesta visão de mundo, a eternidade passa a ser enxergada como o presente tempo que não pode ser sequer medido, pois ele o é somente enquanto nós o vivemos. Abstraindo da questão humana, a eternidade é algo que não pode ser mensurável, pois, se o fosse, uma parte da mesma seria gasta. Neste sentido, apesar de inter-relacionados, eternidade e tempo são conceitos distintos. Posso medir o tempo, mas não posso medir a eternidade. Quando falamos no tempo, em verdade fazemos alusão a uma sucessão de eventos que ocorre dentro do que entendemos por tempo. Estamos deste modo nos referindo a uma dada extensão que se faz quantitativa e ordenadamente presente na realidade, mas a eternidade terá por definição de existir mesmo na inexistência de qualquer ordem ou organização sucessiva material.
Separando os conceitos de tempo e eternidade, torna-se sem sentido falar em presente, passado ou futuro para a eternidade, pois se o fizéssemos a estaríamos mensurando e esta deixaria de ser eterna, tendo um ponto de origem, um percurso de passagem e um ponto de chegada, havendo também o desgaste e o consumo de uma parte da mesma durante este percurso, deste modo, a eternidade não foi e não será jamais, ela simplesmente é, para todo o sempre. Todo tempo se dá em uma sucessão transitória de fatos e eventos, já a eternidade imensurável se dá na total permanência. Poderíamos não ter o tempo para medir, sem que isto afetasse, fosse de que modo fosse, a eternidade. O tempo pode ser entendido como linear ou circular, mas sempre se reportará a uma passagem por algo, mesmo que repetida. A eternidade é um conceito muito mais amplo e abrangente que o tempo.
A eternidade pelo prisma religioso que coloca diante do ser humano a possibilidade de sua própria imortalidade em um momento posterior a sua morte física não pode e não deve ser usada como uma forma de abrigo cotidiano de onde o paraíso prometido proporciona a aceitação de uma vida medíocre, de natureza inconsciente e adormecida, sem ousadia ou realizações significativas e reais. Não pode servir como negação da dor pelo que, ou quem, um dia perdemos, na esperança do reencontro. Cabe a nós, criaturas humanas dotadas da consciência de sua finitude e individualidade, usarmos este tempo para criarmos, crescermos e nos desenvolvermos com toda a dramaticidade cômica que este ato merece e nos reserva quer queiramos ou não. Deste modo, encontraremos a conquista não somente do sucesso ao atingirmos as metas por nós mesmos propostas, mas a felicidade plena de um ser realizado. Dentro da perspectiva humana podemos falar em eterno por um dia, uma vida, um momento único enquanto dure em sua total e emocional intensidade. Fazer algo valer a pena, mesmo este algo sendo nossa vida, é proporcionar tal significado e importância ao fato que este poderia por nós ser eternamente imortalizado.
Se quisermos vir a desenvolver algo a que possa metaforicamente chamar de uma consciência da eternidade, então temos de transcender a sucessão temporal, a esta visão quantitativa de nosso mundo para em seu lugar colocarmos uma visão qualitativa, onde por sua vez a extensão seja substituída pela intensividade, ser intenso em tudo dentro de nossas limitações nos aproxima, da forma como o podemos fazer e vivenciar, deste conceito e por que não dizer, desta incógnita obsessão humana, que é o eterno, a eternidade.

Silvério da Costa Oliveira.

Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.
Blog “Comportamento Crítico”:
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(Respeite os Direitos Autorais – Respeite a autoria do texto – Todo autor tem o direito de ter seu nome citado junto aos textos de sua autoria)

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