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Bernardino Telesio: A Academia Consentina

 

Por: Silvério da Costa Oliveira.

 

Bernardino Telesio

 Bernardino Telesio (1509-1588) nasce em Cosenza, Nápoles, região da Calábria, Itália. É o primogênito de sete filhos. Seu pai, Giovanni Battista, provinha de família nobre e sua mãe, Vincenza Garofalo, também de família nobre, era filha de um médico. Foi entregue aos cuidados de seu tio, Antonio Telesio (1482-1534), humanista que o educou nos estudos de letras e da língua grega e do latim. Estudou medicina, filosofia e matemática, desenvolvendo seus estudos em Milão, Roma e Pádua, na Itália. Nunca fez votos monásticos, mas passou alguns anos dentro de um mosteiro beneditino. Obteve o título de doutor em filosofia em 1534 e o título de doutor em medicina em 1535. Em 1553 se casou com Diana Sersale, viúva com dois filhos e com quem teve mais dois filhos. Após a morte de sua mulher em 1561, rejeitou a oferta do papa Pio IV, em 1564, para se tornar arcebispo de Cosenza, repassando a oferta de trabalho para seu irmão, Tomás, que a aceitou.


 

Foi o responsável pela fundação, em Cosenza, da Academia Cosentina, hoje chamada de Academia Telesiana. Esta Academia era destinada ao estudo das ciências naturais e teve um enfoque anti-aristotélico. Bernardino Telesio sofre influência do estoicismo e do platonismo, bem como, do naturalismo renascentista. Sua obra principal é “De rerum natura iuxta propria principia” (Sobre a natureza das coisas segundo seus próprios princípios), dois volumes, publicada em Roma em 1565. A edição definitiva é a terceira, em nove livros, publicada em Nápoles em 1586. Com relação às obras de Bernardino Telesio, este somente escreveu em latim.

Em seus escritos, Telesio afirma que o estudo da natureza deve ocorrer por meio de seus próprios princípios, segundo suas leis, não fazendo uso de referência a Deus ou a um aspecto transcendente. Cabe estudar a natureza tomando por base uma direção imanente, e esta abordagem está presente como um dos fundamentos de sua filosofia. Se propõe a estudar e investigar a natureza do mundo, as causas e princípios de todas as suas ações e operações.

Encontramos presente em sua obra uma tentativa de explicar a natureza por meio de princípios universais imanentes. Nele temos uma sistematização do naturalismo então presente na Renascença. Faz críticas ao pensamento de Aristóteles, então presente na Escolástica, afirmando ser melhor acompanhar a experiência da natureza, bem como, no entanto, colocando a Bíblia na frente da filosofia enquanto verdade.

O estudo da natureza deve se basear em estudos sobre os princípios naturais e não em considerações metafísicas, sendo a natureza independente de qualquer regra metafísica, seguindo as suas próprias regras. A natureza deve ser conhecida por si mesma e não por conceitos provindos de Aristóteles ou pela magia. Deve-se observar a natureza para deste modo conhece-la.

Buscando organizar as experiências provenientes da natureza, propõe três princípios físicos: frio, calor e matéria. Entende que o frio e o calor são princípios ativos e a matéria é um princípio passivo. A matéria é modificada por meio dos princípios do frio e do calor, estes, contrários entre si. Cabe ao calor dilatar a matéria e ao frio agregar a matéria, proporcionando a mudança. Entende que na natureza o calor representa o movimento e o frio a estagnação. Calor e frio são imateriais, necessitando, portanto, da matéria para proporcionar mudança e transformação. Entende que o calor está associado a vida e que os corpos vivos possuem calor. O calor se encontra concentrado no sol e o frio se encontra concentrado na Terra.

Defende a existência de um espaço vazio, pois, entende o espaço como algo destinado a conter corpos, podendo existir mesmo na ausência destes corpos.

É de opinião que o espírito se localiza no cérebro e de lá se irradia para o restante do corpo. Segundo o pensamento de Bernardino, o espírito é flexível, frágil e discreto, podendo ser transformado pelos princípios ativos do frio e do calor. Quando há uma transformação no espírito, também temos uma transformação na pessoa, pois o espírito age sobre o corpo. Deste modo propõe uma explicação de como as pessoas se modificam.

Entende que o espírito é sensível e percebe a expansão e contração da matéria ocasionada pelos princípios ativos do frio e do calor. Também é de opinião que o espírito possui memória e por meio desta memória é capaz de, observando as partes, buscar conhecer o todo por meio de princípios universais.

Conhecer é o mesmo que sentir, entendendo a consciência como sensação. Não há, segundo Bernardino, diferença entre a atividade física e a atividade espiritual. O intelecto seria um de nossos sentidos, diferindo apenas por ser mais sutil que os demais. É de opinião que a substância que sente é a mesma que raciocina.

Bernardino Telesio tem como base de sua ética a conservação do corpo físico da pessoa. Deste modo é ético aquilo que permita ao humano continuar vivo, seu oposto, ou seja, aquilo que leva este humano à morte, é entendido como mal, igualando o bem ao que proporcione prazer e o mal ao que proporcione dor e sofrimento a este humano. Para o humano sábio não basta correr atrás do prazer imediato e fugir da dor iminente, pois, este munido de sua memória há de buscar não o imediato e momentâneo e sim o duradouro. Suas escolhas serão pautadas em suas experiências armazenadas em sua memória, de modo a melhor conservar seu corpo e espírito, sendo isto entendido como a virtude.

O humano possui uma alma material e outra espiritual. No tocante à alma material, temos que o prazer está associado à dilatação e a dor está associada à contração da matéria. A alma imaterial permite ao humano intuir o eterno, que é algo diferente do sentir. É na alma imaterial que temos a liberdade e o fundamento da moral, elevando o humano acima da mecânica das forças físicas. Entende que Deus existe, sendo uma realidade que ultrapassa a natureza. Deus para Bernardino Telesio difere do conceito dado por Aristóteles. Deus é o princípio de conservação das coisas, o princípio de autoconservação do mundo, Deus é a ordem das coisas.

Advoga contrário ao método dedutivo baseado em pressupostos apriorísticos, em seu lugar, busca o fundamento de toda a validade do conhecimento na experiência sensível.

Bernardino Telesio se mostrou um forte crítico da metafísica presente na interpretação dada a Aristóteles pela Escolástica, insistindo sobre uma aproximação da natureza de modo puramente empírico.

Em sua obra encontramos fortes traços das filosofias presentes nos pré-socráticos, bem como, a presença de um pampsiquismo e também de um hilozoísmo universal. Muito longe ainda de um método experimental como o temos hoje em dia, seu trabalho experimental se restringiu a algumas observações baseadas na experiência cotidiana. Sua física se mostra animista e qualitativa, se bem que em um sentido mais amplo também possua um aspecto quantitativo no estudo do mundo circundante, ao se referir a maior ou menor quantidade de frio ou calor presente nos corpos como responsável por suas transformações. Mas mesmo assim, torna-se importante por trazer o foco de investigação para a natureza em si-mesma, onde deveria se buscar as causas de sua explicação, antecipando pensadores outros, que irão desenvolver o método de observação empírica e experiência para a construção do método científico e o estudo da natureza.

 Silvério da Costa Oliveira.

 


 

Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.

Site: www.doutorsilverio.com

(Respeite os Direitos Autorais – Respeite a autoria do texto – Todo autor tem o direito de ter seu nome citado junto aos textos de sua autoria)

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