Por: Silvério da Costa
Oliveira
Queimado vivo
em uma fogueira em praça pública, no centro da cidade de Roma, Campo dei Fiori,
“Campo ou praça das Flores” em uma tradução livre do italiano para o português.
Belas flores de amor e contemplação religiosa que exigiram o quente borbulhar
do sangue e carne de um inocente aos olhos de hoje, mas com certeza culpado a sua
época.
Giordano Bruno
nasceu em Nola, cerca de 45 km de Nápoles (Reino de Nápoles), Itália, em 1548,
filho único de Giovanni Bruno e de Fraulissa Savolino, batizado como Filippo
Bruno, trocaria mais tarde seu primeiro nome para Giordano. Aos 13 anos de
idade, em virtude de seus pais entenderem que este teria vocação para o ofício religioso,
ingressa em um convento em Nápoles e aos 17 anos, 1565, muda o nome por ocasião
da celebração pelo recebimento do hábito dominicano. É ordenado sacerdote em
1572 e termina os estudos em teologia em 1575. Em 1576 é acusado de heresia e
por tal motivo deixa Nápoles. A partir deste momento e por toda a sua vida,
viaja por quase toda a Europa, parando não mais que poucos anos em alguma
cidade. Vai a Roma (1576), e depois a Genebra (1579). Entra e sai do
Calvinismo, também acusado por heresia, em Genebra. Viaja a França (Toulouse e
Paris). A partir do ano de 1582 começa a lecionar em Paris, viaja a Suiça e de
1583 a 1585 lecionou na Inglaterra (Oxford e Londres), novamente Paris (1585) e
em seguida vai a Alemanha, onde leciona por dois anos até ser excomungado pelos
luteranos. Esteve em Marburgo, Wittenberg, Praga e Helmstedt.
Em 1591 vai a
Frankfurt onde vive até o convite do nobre italiano Giovanni Mocenigo para ir a
Veneza, Itália. Em virtude de se negar a ensinar magia e técnicas de
memorização (mnemotécnica) para Mocenigo, este o denuncia a santa inquisição
católica, sendo então preso e posteriormente transferido a Roma. Finalmente em
Roma, após um ano de prisão em Veneza e sete em Roma, totalizando cerca de oito
anos (preso em Veneza em maio de 1592, em 27 de janeiro de 1593 é encaminhado
ao Santo Ofício de Roma) em cárcere, tortura, interrogatório e julgamentos, é
condenado a morte aos 52 anos de idade. Em 17 de fevereiro do ano de 1600,
quando a sentença é cumprida em praça pública, teve sua boca tampada para que
não pudesse proferir qualquer palavra, nesta data é queimado vivo em uma grande
fogueira. Em 1889, no lugar onde Bruno fora queimado, foi erguida uma estátua
em sua homenagem. Destaque também a um filme franco-italiano sobre sua vida,
datado de 1973.
Giordano Bruno
(1548-1600) vive durante o Renascimento na Itália, adepto do neo-platonismo
italiano e humanista, atuou como escritor e filósofo, deixando sua marca no
século XVI e sendo lembrado pela sua importância até os dias atuais. Segundo Bruno,
deus é uno, é tudo, é imóvel, não se transforma (pois perderia sua essência), é
eterno e imutável. Tais idéias o aproximam de outros filósofos célebres, tais
como: Pitágoras, Plotino e Parmênides.
Bruno foi
conhecido por seus contemporâneos por ter uma memória formidável que alguns,
inclusive, pensavam tratar-se de algum tipo de magia ou feitiçaria, mas na
verdade ele se usava de técnica própria com o uso de auxiliares de memória
previamente escolhidos, memorizados e estudados para lhe permitir maior
facilidade na retenção de novos conteúdos em sua memória, associando-os a
informação pessoal ou espacial e criando vínculos emocionais e cognitivos que
tornam mais fácil a retenção e recuperação dos conteúdos assim organizados em
sua memória. A mnemônica proporciona um modo de dar sentido, importância,
organização e arquivamento de novos conteúdos a memória, facilitando, também,
sua recuperação quando necessário.
Bruno gostava
de ser chamado e assim se auto-intitulava, o nolano, em referência a sua cidade
natal, Nola. Em seus escritos e aulas, Bruno adotou para si o sistema
teórico-matemático de Copérnico e foi além do mesmo. Segundo Copérnico, a Terra
não seria o centro do universo como o queriam o sistema de Ptolomeu /
Aristóteles, e sim o Sol. Ao invés de o Sol girar ao redor da Terra, era a Terra e demais planetas que giravam ao redor do Sol. Para Copérnico o universo
era finito e se restringia ao Sol, a Terra e demais planetas por nós observados
nos céus.
Bruno rejeita
a tradicional teoria geocêntrica e apóia a teoria heliocêntrica de Copérnico,
indo, no entanto, muito além do heliocentrismo, pois, Copérnico admitia um
universo finito e o sol como centro do universo, ao redor do qual giravam a
Terra e demais planetas, já Bruno irá propor que o Sol é o centro de nosso
sistema planetário, mas não do universo, o qual é muito mais amplo e infinito e
com infinitos mundos.
Cada estrela
nos céus, segundo Bruno, seria um sol, ao redor do qual poderíamos ter outros
planetas girando ao seu redor e em alguns destes planetas teríamos vida
inteligente tal como a temos aqui na Terra. Haveria, portanto, inúmeros sois
rodeados por outros planetas.
O universo é
infinito e ilimitado, pois, seria contraditório que o efeito (universo) de uma
causa (deus) infinita, fosse finito. O universo é infinito e como tal não
possui centro ou circunferência. No universo qualquer ponto é centro e
periferia. Em um universo infinito não existe o centro, pois, este está em
todos os lugares.
Segundo Bruno,
todos os seres são feitos da mesma substância e estão igualmente no centro do
universo, independente de qualquer de nossas hierarquias.
Bruno nega a
trindade divina, pois o infinito (deus), não pode estar contido no finito
(homem / Jesus Cristo). Se a Bíblia possui um valor positivo, este se dá
somente pelos seus ensinamentos morais. Giordano Bruno negava a trindade, pois
deus é uno e negava a Jesus Cristo como deus ou filho de deus, segundo Bruno,
Jesus era, sim, um mago.
Bruno afirma
que a religião é usada pelos governos como forma de controlar e governar as
massas sociais ignorantes. Trata-se de um conjunto de superstições contrárias a
razão e a natureza e será válida somente enquanto a humanidade não atingir um
nível superior de evolução.
Temos também
presente em Bruno o panteísmo, pois, deus é o universo e o universo é deus.
Deus está presente em tudo. Deus é transcendente e imanente ao mesmo tempo.
Deus é como o princípio de tudo. Como causa é externo (transcendente) e como
princípio é interno (imanente).
A filosofia de
Bruno pode ser entendida como um antídoto para todo e qualquer fanatismo
religioso e político e a intolerância daí resultante. O filósofo não é aquele
que possui uma verdade única, e sim aquele que dedica sua vida a busca da
verdade. Bruno combateu a intolerância por meio de seus escritos e aulas. Bruno
apresenta uma moral do ativismo.
Defende-se em
Roma alegando a teoria das duas verdades, filosofia e teologia, argumentando
que ele, Bruno, não falava sobre teologia e sim sobre filosofia.
Quando recebeu
a sentença final, que o condenou a morte na fogueira e também a queima de todos
os seus livros e escritos, pronunciou para seus juízes uma frase que entraria
para a história: “Talvez os senhores tenham mais medo de proferir a sentença do
que eu de ouvi-la”.
Giordano Bruno
pode ser, sim, considerado um herético ecumênico, pois, as três maiores Igrejas
cristãs de sua época, a católica, a luterana e a calvinista o viram como
herético. Um dos raros momentos de sua vida no qual provocou tamanha
unanimidade por parte dos que com ele compartilhavam sua época histórica.
Bruno entendia
que nossas idéias são a sombra de algo imutável e que a natureza está em
contínuo movimento e transformação. Cabe destacar também que quando Bruno
afirma que toda e qualquer criatura dentro de um universo infinito é o seu
centro e periferia, ele rompe com dogmatismos, apresentando um discurso
filosófico que propicia poder e destaque para qualquer pessoa, independente de
religião, raça, cor da pele, sexo, idade ou convenções sociais. O rei, o papa
ou um mendigo podem a sua vez serem o centro do universo, de seu próprio
universo.
Um filósofo
com idéias geniais e revolucionárias para sua época, com uma coragem digna de
poucos homens, morreu em defesa da verdade que professava a mando daqueles que
acreditavam possuir a verdade e que acreditavam, também, que qualquer um que
ousasse afirmar algo diferente ou contrário a verdade então estabelecida era um
herético que tinha de morrer.
Silvério da Costa Oliveira.
Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.
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