Por: Silvério
da Costa Oliveira.
----- Original Message -----
Subject: Psicopatia
Dr. Silvério, tudo bem com vc?
Se possível, gostaria de uma análise sua do
que vou relatar.
Tenho um relacionamento há quase “xx” anos
com um homem de “xx” anos. (eu tenho “xx” mas me acho muito jovem e alegre).
Sempre achei ele muito impulsivo e sem
controle emocional em determinadas situações. Pensei que fosse da sua natureza.
Brigas horríveis presenciei dele com a mãe,
pq ela também é uma pessoa difícil e provocadora, então pensei que fosse falta
de paciência da parte dele.
Mas ao ler um artigo sobre Psicopatia/sociopatia, consegui identificar muitas
características do perfil de um sociopata (prefiro esse nome ao psicopata, acho
muito pesado) nele.
Fiquei apavorada...
Ausência de culpa - ele sempre está com a razão em tudo. Não
admite erros. O errado é sempre os outros, não ele.
Mestre da mentira - ele mente descaradamente na minha frente,
sem motivo, diz que é advogado, que ganhou muito dinheiro nos negócios, sempre
contando vantagens aos amigos.
Manipulador e egoísta - é extremamente persuasivo em tudo que faz.
As pessoas acabam fazendo o que ele quer e qdo isso não acontece é acometido de
uma ira enorme. É altamente egoísta.
Inteligência - muito inteligente. Fala e escreve muito
bem. Defende muitas causas baseado no Código Civil. Como ele é inteligente.
Nunca fez faculdade, está se preparando agora. Mas é um autodidata.
Ausência de afeto - Ele não retribui meus carinhos e afeto.
Muitas vezes me empurra qdo vou fazer carinho nele ou abraçar, alegando calor.
Observo que até com crianças ele não tem aproximação. Não foi na minha
formatura, um momento tão importante da minha vida, só porque meu filho foi.
Impulsividade - Ele já me colocou em várias situações de
risco: brigas na rua com mecânico que tive de desarpartar, briga por causa de
estacionamento, e a ultima foi com meu filho mais velho que o
colocou em perigo, quase foi atropelado. Graças a Deus, não teve nada.
Mas ele já se envolveu com brigas com policial e responde processo. Isso antes
de mim, mas ele me contou. Ele não tem limites nem respeita o espaço dos
outros.
Isolamento - tem pouquíssimos amigos. Não freqüenta casa
de ninguém, só através do meu intermédio.
Conquistador - ele se acha... parece um Dom Juan ... sempre
paquerando mulheres na minha frente, não me respeita e ainda diz que sou louca
que vejo coisas onde não existe. Já terminamos muitas vezes por causa da sua
infidelidade, até pela internet. Mas ele pede pra voltar, alegando que me ama,
que foi um escorrego e eu acabo voltando.
Meus filhos não querem esse relacionamento.
Dizem que me faz sofrer.
Doutor, fiquei pensando nisso muitos dias.
Ele não é assassino, e parece um contracenso mas cuida muito bem de mim. Se
preocupa comigo, e agora está montando um apartamento e ele diz que é pra nós dois.
Tenho “xx” filhos e já percebi que estou me afastando deles por causa
desse relacionamento. Ele já foi muito bom com meus filhos, mas agora eles
estão adolescentes, e já tem quase 1 ano que não se falam mais, porque não
aceitam a maneira imperativa dele ser. Não freqüenta mais minha casa. Tem que
ser do jeito que ele quer. Muitas vezes está certo, mas o jeito dele querer
forçado as coisas, ele perde todo o carinho, amor e confiança dos
meninos.
As coisas que ele faz, quando acha que é
muito grave depois se arrepende, pede desculpas e daí a pouco faz e fala coisas
que magoam demais.
Não sei se estou obsidiada por ele. Ele
exerce um domínio muito grande sobre mim. mas ele me quer muito bem. Dá para
entender?
É um misto de querer e não querer, amar e
não amar e não se sentir amada.
Não sei o que faço da minha vida. As vezes acho que estou me iludindo com tudo
isso...
Você acha que eu conto a ele e dou pra
ele ler sobre esse artigo falando sobre Psicopatia?
Será que ele vai tentar melhorar? Li também
que não tem cura, é verdade?
Doutor me ajude... Ele não é tão ruim, mas
também quando quer dizer qualquer coisa fala. Não se preocupa se vai me magoar.
Noto que às vezes ele gosta de me humilhar.
E eu tenho uma tendência de ficar depressiva quando isso acontece... Será que
sou doente também??
Me ajude, doutor, pois não tenho coragem de
falar sobre esse assunto com ninguém.
Penso muito em terminar de uma vez com esse relacionamento mas não tenho
coragem.
Aguardo ansiosa pela sua resposta.
C.M.W.
----- Original Message -----
Subject: RE: Psicopatia
Doutor Silvério,
Obrigada pela atenção dispensada em
responder meu e-mail.
Entendi e gostei muito das suas palavras.
Mas aconteceu algo que eu não esperava. Até agora estou perplexa e sem achar o
chão. Seguindo seus conselhos tentei conversar com ele sobre como eu
gostaria de ser tratada, e também estava o achando muito frio comigo.
Parece que ele aproveitou essa oportunidade para pôr um ponto final em nossa
relação.
Me disse coisas que me magoaram muito. Falou que em seus planos não existia
lugar nem espaço pra mim, que gostaria de ter a família dele, filhos (tenho “xx”
filhos do primeiro casamento e liguei as trompas, ele sempre me pediu um filho
e não pude dar), mulher. Que desde o final de “20xx” ele prometeu e ele mesmo
que iria ter um “20xx” diferente e eu não estava incluída nesses planos. Só
para vc ter uma idéia doutor, nós fizemos uma viagem de carro de “xxx” onde
moramos até S.Paulo, passamos por Rio de Janeiro, “xx”, “yy” enfim, foi
maravilhoso, foram 20 dias de muita emoção que nunca tive igual e ele falou que
isso vai ficar agora só na lembrança. Passamos o carnaval juntos e já estávamos
dormindo no apartamento que ele comprou, embora ainda não esteja totalmente
pronto. Eu ajudava a ele a pintar o apartamento, fazer retoques, escolhi os
revestimentos da cozinha, sala, piso etc. pensávamos qual seria os móveis
que iríamos comprar, fazíamos planos como iria ficar o apartamento depois de
pronto, e ele me dizia que seria melhor para gente, pois iríamos namorar
mais, aí quando falei sobre isso, ele me disse que não era para me apegar
nessas bobagens. Logo após a quarta feira de cinzas, precisamente na sexta
feira, ele me dispensou, me excluiu da sua vida. Falou que nós precisamos
de novas relações, porque a nossa já estava desgastada. Não entendo, tantos
planos estávamos fazendo, de fazer curso de “xx” juntos, abrir uma empresa de”xx”
(eu já tenho o curso de “xx” e ele está terminando de fazer), para juntos
ganharmos muito dinheiro, pensávamos em fazer um cruzeiro com “xx” que é
casada... Não sei o que deu nele. Percebi que o sexo estava esfriando
também. Vivi minha vida pra ele. Tudo que ele precisava eu fazia. Estou me
sentindo uma laranja que foi espremida até o fim e foi jogada o
bagaço fora. Foram “xx” anos de relação e ele nem levou uma hora para terminar
tudo. Já terminamos e voltamos várias vezes, mas acho que agora foi
sério. Voltamos o ano passado em “xx” depois de um desentendimento com meu
filho mais velho (ele não se dá bem com ele) após 4 meses de separação. A mãe
dele nunca me aceitou, ela sempre quis que ele se casasse com uma mulher
solteira e que desse filhos a ele. Imagine, “xx” anos anos ouvindo isso da
mãe, deve ter influenciado na sua decisão.
Ele disse pra eu ser feliz e que não
terminou em dezembro porque é o mês de natal e “xx”, depois veio a viagem e ele
disse que já estava programado para terminar comigo após o carnaval. Ele não me
poupou nem um pouco. Chamei ele pra conversar, para tentarmos melhorar a nossa
relação e ele terminou comigo. Disse que não estava mais feliz ao meu lado, que
já estava cansado de tudo.
Ainda não engoli tudo isso doutor. Como pode
ser tão frio? tantos planos feitos em pedaços...
Agora preciso da sua palavra amiga, da
palavra do psicólogo para entender esse terremoto que está acontecendo na minha
vida.
Bem doutor, aqui termino minha triste
estória, e espero seu retorno.
Abs da amiga C.M.W.
----- Original Message -----
Subject: RE: Psicopatia
Dr. Silvério,
Agradeço mais uma vez pela atenção
dispensada em dar-me uma resposta, sempre positiva.
Suas palavras mais uma vez me reanimaram e
me fez ver essa situação de outra forma. Não vou mais me lamentar e ficar me
torturando me perguntando onde foi que eu errei.
Acabou e pronto. Vou olhar para frente e construir uma nova vida pra mim, vou
me valorizar mais como mulher e pessoa.
Obrigada por ter lembrado do dia da mulher.
É muito bom saber que posso contar com vc.
Espero que das próximas vezes por uma causa de felicidade...
Que Deus te ilumine sempre, com suas
palavras maravilhosas, ajudando a todos que por algum motivo te procura.
Parabens por ser a pessoa generosa que vc é.
Abs
C.M.W.
Aproveito a
oportunidade para convidar C.M.W. a visitar meu site onde encontrará livros de
minha autoria no formato PDF e quatro catálogos bibliográficos, bem como,
visitar meu blog "Ser escritor"
www.doutorsilverio.blogspot.com
onde existem vários textos interessantes divididos por temas em marcadores. Lhe
convido a participar também de meu Orkut cujo e-mail é
doutorsilveriooliveira@gmail.com
"Silvério Oliveira".
Vamos começar
do início, eu particularmente prefiro o termo "psicopata", se bem que
alguns também chamem de "sociopata" e você prefira este último e
concordo que há boas razões para a preferência deste último termo. O que o
cinema apresentou em diversos filmes com relação a personalidade sociopata é só
a ponta do cume da montanha, para o cinema os psicopatas são monstros homicidas,
selvagens assassinos e violentadores de toda a espécie, pessoas a margem da
sociedade. Tudo bem que alguns sejam, no entanto, o número de pessoas que tem
fortes traços de psicopatia ou mesmo uma estrutura de personalidade psicopata é
muito maior e abrangente do que as tolas definições cinematográficas. A grande
maioria jamais matará ou cometerá algum crime bárbaro durante toda a sua vida,
serão, sim, pessoas bem sucedidas, amantes charmosos e sedutores, ricos
empresários ou executivos totalmente voltados para seus trabalhos.
Toda criança
até a idade de cinco anos, mais ou menos, quando perguntada porque faz ou deixa
de fazer alguma coisa, afirma ser porque seu pai, mãe, professora ou
responsável assim determinou. Por volta dos cinco anos ocorre uma transformação
e a criança começa a dizer que não faz determinadas coisas porque é errado e
pelo fato que ela própria pensa que é assim, ou seja, introjetamos a moral,
levamos para dentro de nossa mente as proibições de nossos pais e da cultura na
qual vivemos. Criamos o "não posso", "não devo",
"é errado" e o sentimento de culpa quando quebramos tais valores.
Como estes valores morais passam a ser nossos, passamos a ter culpa quando não
os cumprimos. A Psicanálise chama a esta instância de "superego",
entendendo por tal a moral e os valores culturais representados pelo pai e
introjetados pela criança por volta da idade de cinco, seis anos com a
dissolução do complexo de Édipo. Tenho um texto sobre isto em um dos capítulos
de meu livro em PDF na Internet em meu site, livro: "Reflexões filosóficas: uma pequena introdução a filosofia",
veja o capítulo sobre psicanálise.
Ocorre que em
algumas mulheres e homens é como se não se formasse esta instância do superego,
ou seja, faça o que fizer, não terá remorso ou sentimento de culpa, temos aí o
nosso psicopata ou sociopata.
Você tem
“xx” e eu tenho “yy” e daí? A verdadeira idade não é cronológica e sim mental.
Tem muita gente por aí que tem uma carteira de identidade que diz que tem 18,
quando na verdade a pessoa tem 88 e tem outros de 70 na identidade que tem uma
vida digna de 20.
Tem gente
inclusive que já morreu e não sabe, andam por aí, pois, esqueceram de enterrar,
verdadeiros zumbis de nossa sociedade, corpos sem vida, mortos sem descanso.
Você
define bem algumas características da psicopatia/sociopatia, é isto mesmo, no
entanto, não necessariamente todas presentes intensamente em todos os casos
clínicos e há também a questão da ética e educação que deve ser levada em
consideração. Mesmo não tendo desenvolvido um superego, nada o impede de ter um
forte envolvimento com a ética ou de ter uma educação mais esmerada que permita
um trato melhor com as pessoas. Há também a questão do respeito humano, que
pode estar presente.
Minha
amiga, não acho producente falar no problema ou mesmo o acusar de ter esta ou
aquela outra personalidade patológica. Procure focar sua atenção na solução, no
que você quer que ele faça e não no que ele faz de errado. Mostre-lhe como quer
ser tratada e converse com ele. Procure sempre enfocar a solução e não o
problema, mostre o caminho certo a ser percorrido e não aponte somente para o
caminho errado. Viver é como pedalar uma bicicleta e o mesmo vale para os
relacionamentos humanos, nós vamos para onde vai nosso olhar.
Querida amiga,
um relacionamento serve para nos ajudar a crescer e superar obstáculos, se
mantemos um relacionamento que nos prejudica, nos destrói por dentro, não
estamos sendo gentis conosco.
O melhor
caminho é sempre a comunicação positiva, se tentamos conversar e a pessoa responde
dizendo que prefere terminar, esta é a parte da conversa dela e assim deve ser
escutado, trata-se de uma resposta como qualquer outra e talvez tentativa de
manipulação do outro.
Cabe a vc
buscar o melhor para vc, algo que te faça crescer e não que te destrua por
dentro e por fora.
Pense neste
relacionamento como “xx” anos nos quais vc viveu uma bela aventura de vida,
teve boas experiências e emoções e outras não tanto, um período de experiência
de vida e que vc aproveitou e curtiu. Agora, o que está pela frente depende de
vc. Fazer planos é uma característica de nós, seres humanos, infelizmente,
quando estes planos envolvem outras pessoas, nem sempre se realizam do jeito
que nós gostaríamos.
Tenha certeza
que naquilo em que seus pensamentos e atenção se concentrarem vc atrairá para
sua vida. Mantenha-se na perspectiva de que algo bom sempre surge de todas as
nossas experiências e de que o futuro a nós cabe construir e moldar.
Você vai
conseguir alguém bacana para sua vida. Isto mesmo minha amiga, cabeça erguida e
vida para a frente. Sugiro leitura de alguns livros de auto-ajuda para ajudar
mais ainda a levantar esta auto-estima e sendo possível, vamos sair um pouco, freqüentar
novos lugares (academia, bares, colégios e faculdades, boites, etc) para conhecer
novas e interessantes pessoas. Evite cair na nostalgia de ficar pensando no que
poderia ter sido neste relacionamento, preencha seu tempo ocioso com outras
atividades.
Se tiver um
tempo, visite meu site e pegue informações sobre meu livro "Vencer é
ser feliz: A estrada do sucesso e da felicidade" Editora Ibrasa ano:
2002 disponível nas livrarias e diretamente com a editora. Sugiro a leitura
deste livro de auto-ajuda de minha autoria para te animar um pouco mais.
Eu quero agora
é escutar que você está bem e que ou o cara te procurou e fez as pazes ou você
está com outra pessoa bem mais bacana e interessante. Vá a luta porque as
coisas boas da vida pertencem àqueles que lutam por elas.
Pergunta: Você
já teve relacionamentos com pessoas complicadas ou emocionalmente doentes? Como
foi e como superou esta fase em sua vida?
Prof. Dr.
Silvério da Costa Oliveira.
(Respeite os
Direitos Autorais – Respeite a autoria do texto – Todo autor tem o direito de
ter seu nome citado junto aos textos de sua autoria)
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