Professor Doutor Silvério

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Silvério da Costa Oliveira é Doutor em Psicologia Social - PhD, Psicólogo, Filósofo e Escritor.

(Doutorado em Psicologia Social; Mestrado em Psicologia; Psicólogo, Bacharel em Psicologia, Bacharel em Filosofia; Licenciatura Plena em Psicologia; Licenciatura Plena em Filosofia)


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terça-feira, 19 de novembro de 2024

Søren Kierkegaard

 

Por: Silvério da Costa Oliveira.

 

Søren Kierkegaard

 

Søren Aabye Kierkegaard (1813-1855) nasce em Copenhaque, na Dinamarca, e vem a falecer aos 42 anos de idade e seis meses de idade. Último dos sete filhos do segundo casamento de seu pai, um homem que havia se tornado rico por meio de seu trabalho no comércio. Do primeiro casamento, seu pai não teve filhos, vindo este a terminar em 1796 com o falecimento da sua esposa, Kirstine Nielsdatter (1756-1796), o segundo casamento se deu com Ane Sørensdatter Kierkegaard, nascida Lund  (1768-1834).

Quando seu pai falece, em agosto de 1838, Kierkegaard herda uma fortuna que lhe permite viver com tranquilidade e se dedicar totalmente aos seus escritos, além deste fato representar um marco da vida do filósofo, pois, seu pai, Michael Pedersen Kierkegaard (1756-1838), sempre foi uma figura importante em sua vida, estando presente na sua formação intelectual e espiritual e exercendo influência sobre a sua religiosidade, na qual temos um constante senso de culpa e melancolia (tanto no pai, como também no filho). De certo modo, Søren Kierkegaard herda também o fardo existencial de seu pai e isto o influencia na elaboração de sua própria obra filosófica, ao se dedicar a abordar temáticas vinculadas à mortalidade, ao sofrimento, à existência humana, ao desespero, à angústia e ao papel da fé cristã.

 


Kierkegaard ingressou no curso de Teologia na Universidade de Copenhague, tendo interrompido por um período. Após a morte do pai, retornou os estudos em Teologia e Filosofia, vindo a obter a licenciatura em 1840 e recebendo o grau de mestre em 1841, que, segundo alguns comentadores, seria hoje o equivalente ao grau de “Doutor – PhD”. Sua tese de filosofia foi “Sobre o conceito de ironia”. Kierkegaard recebeu a alcunha de “o Sócrates do norte”.

Do ano de 1837 até o ano de 1841 mantém um romance com Regina Olsen (1822-1904), por quem se vê apaixonado e correspondido, mas prefere terminar o relacionamento sem maiores explicações para a jovem por motivos de conflitos emocionais internos que envolviam dilemas entre a vida mundana e a religiosa. Em 1841, após o rompimento de seu noivado, foi a Berlim e ali participou como aluno das aulas ministradas por Schelling. Em 1855, após um ataque repentino de paralisia tido na rua, é levado ao hospital e vem a falecer pouco depois (cerca de 40 dias, nos quais esteve hospitalizado e com sua saúde piorando, mas mantendo a consciência).

É comum aos comentadores destacarem que Kierkegaard tinha uma saúde frágil (há relatos de que no final de sua vida teria desenvolvido uma tuberculose) e que o tema da morte e angústia desenvolvido em sua filosofia existencial tem em suas origens a vida que Kierkegaard viveu. Neste tocante, sempre destacam a morte de sua mãe, de seu pai e de cinco de seus irmãos (seus pais tiveram um total de 7 filhos), bem como, o término do relacionamento com Regina Olsen, mulher de quem ficara noivo, mas que resolvera romper o noivado para se dedicar a uma melhor compreensão sobre sua própria religiosidade e relação com Deus e o cristianismo.

Em seus trabalhos iniciais e no decorrer de sua vida, fez uso de distintos e diversos pseudônimos para a publicação de suas obras, para poder, deste modo, apresentar pontos de vista distintos sobre os mesmos temas e assim permitir uma discussão sobre os mesmos.

Sua obra literária e filosófica se confunde com sua biografia, sendo necessário o estudo simultâneo de sua vida e obra para melhor compreensão de suas ideias filosóficas e teológicas. No transcurso de sua vida se dedicou a escrever seu “Diário”, importantíssimo no estudo de sua filosofia.

No decorrer do século XIX ele foi praticamente ignorado fora de seu país, em todo o mundo, não exercendo qualquer influência realmente significativa. Somente a partir da década de 1920, a par com estudos alemães provenientes da teologia e filosofia, é que nosso filósofo passa a ser admirado ao redor do mundo. Há comentadores que atribuem a Kierkegaard ser o fundador do Existencialismo que eclodiu na filosofia no transcorrer do século XX. Sua obra exerceu forte influência na filosofia, teologia e psicologia contemporâneas, enfatizando a singularidade da experiência humana.

O pensamento de Kierkegaard é essencialmente religioso cristão. Em sua obra ele aborda temas tais como: o humano diante de Deus; o pecado; a salvação pela fé. Toda a sua grande produção literária tem um certo caráter pessoal e confessional, mostrando-se como uma sincera expressão de suas convicções religiosas mais íntimas. A vida cristã que o filósofo resolveu adotar para si traz, também, uma forte crítica ao cristianismo presente na Igreja luterana pietista dinamarquesa de sua época, crítica esta presente em seus escritos.

Kierkegaard não desenvolve um sistema filosófico, sendo, inclusive, tido como um pensador antissistemático. Em sua obra se opõe ao hegelianismo e se apresenta como um escritor religioso cristão.

Diante do império praticamente absoluto da influência da filosofia de Hegel em seus contemporâneos europeus, Kierkegaard mantém uma atitude filosófica de total oposição a esta razão que tudo abarca, considerando a realidade como algo singular, presente à subjetividade do indivíduo e sendo algo primário e irredutível a qualquer outra coisa, inclusive à própria razão.

Em Kierkegaard temos uma forte crítica ao sistema filosófico de Hegel, então dominante na Europa continental. Kierkegaard entende que a abordagem sistemática e totalizadora presente no sistema hegeliano tende a ignorar a verdadeira singularidade da experiência humana e a subjetividade presente no sujeito. Dentro do modelo proposto por Hegel temos uma ênfase no desenvolvimento histórico e na razão, já Kierkegaard coloca sua ênfase em questões existenciais.

Kierkegaard formulou a teoria dos três níveis de conhecimento: 1- estético, 2- ético e, 3- religioso.  O estágio estético se apresenta em três distintos modos que o subdividem, a saber: Don Juan, Fausto e Ahasverus. Em Don Juan temos a sensualidade, em Fausto a dúvida e, no judeu errante Ahasyerus temos o desespero.

No estágio estético temos a sensualidade, a dúvida e o desespero. Neste estágio (ou estádio) a pessoa vive o eterno aqui e agora em uma vida dedicada aos prazeres. É o lugar do homem sedutor, que conquista uma mulher para depois passar para a outra, sem manter compromissos duradouros. No estágio ético temos a moral, o cumprimento do dever, ser um bom marido, pai, construir uma família, ser um bom cidadão cumpridor de seus deveres legais e religiosos. No estágio religioso temos a total entrega a Deus, ultrapassando não somente o homem estético, mas também o homem ético. Se entregar a Deus é se entregar ao paradoxo, ao absurdo. É se colocar além da ética e da religiosidade exigida socialmente. Os estágios não são sucessivos e não estão vinculados à idade da pessoa (adolescência, vida adulta, velhice não há uma passagem tranquila de um estágio para outro e sim um salto de um para o outro. Entre o estágio ético e o religioso é como se a pessoa saltasse em um abismo sem fundo.

Entre os três estágios (estético, ético e religioso) há alternativas, escolhas, que podem ser sumarizadas na frase: “ou um, ou o outro”. Estando sempre presente o aspecto existencial. A existência não depende da essência. A essência, como algo ideal, é pensado e definido. Já a existência, por sua vez, não é ideal, e sim real, sendo, portanto, indefinido e, por vezes, impensável. A verdade não se encontra no puro pensamento e sim na subjetividade.

O personagem bíblico Abraão, tido como cavaleiro da fé, é mostrado como sendo um exemplo sobre como o homem no estágio religioso, o terceiro dos três estágios propostos por Kierkegaard, funda sua existência na transcendência e na confiança em Deus. Ao agir assim, como nos narra a passagem bíblica (Livro de Gênesis, capítulo 22, versículos 1 a 19), perante seu filho Isaac e perante Deus, Abraão ultrapassa as regras morais e o entendimento provindo da razão humana, dando um salto em direção à fé e ao absoluto. Este procedimento adotado por Abraão, este salto de fé, há de escandalizar a moral e a ética, bem como, também, a razão humana.

Muito importante em sua obra é a forma como trabalha os conceitos de ironia e angústia. Para a ironia se baseia no filósofo Sócrates e entende não ser possível trazer a verdade para a pessoa por meio da aprendizagem de uma dada doutrina. A busca da verdade é uma busca por uma verdade interior, subjetiva, que vincula o sujeito ao universo. Já para a angústia, entende que esta é central à existência humana e se dá sempre diante da liberdade que temos para fazer nossas escolhas. A angústia é mesmo anterior ao pecado original, pois, foi o sentimento (angústia) que antecedeu o ato praticado por Adão e Eva ao escolherem comer o fruto proibido. O real fundamento da existência humana se encontra diante da liberdade e da angústia, a liberdade que antecede e permite a escolha entre obedecer ou não a Deus e a angústia que ali também se faz presente, diante deste abismo de possibilidades que o sujeito pode, por sua escolha livre, saltar. A angústia analisada e estudada por Kierkegaard encontra sua origem na liberdade individual que nos permite, a nós humanos, exercer escolhas diante de uma realidade imanente ou transcendente.

Tanto a “angústia”, como também o “desespero” são centrais dentro da obra de Kierkegaard. Por meio de tais conceitos o filósofo aborda a condição humana em toda a complexidade presente nas experiências que circunscrevem a sua existência. A angústia é algo mais amplo e universal, que tem como foco a liberdade humana (liberdade, responsabilidade, possibilidades) e suas infinitas possibilidades de escolhas, sempre voltada para o externo ao ser (ao sujeito, a pessoa). O desespero é algo mais específico, um tipo particular de angústia voltada para o interno (identidade, dúvidas), a toda luta interna tida na pessoa.

O desespero se apresenta como uma condição existencial do ser humano, resultado da alienação em relação a sua verdadeira identidade, podendo se tornar presente de vários modos. Está presente na luta interna que ocorre entre quem a pessoa realmente é e quem a pessoa gostaria de ser. A superação do desespero se dá por meio da fé cristã, permitindo esta a religação do sujeito consigo mesmo, encontrando significado para a sua vida. Conjuntamente com a angústia, são dois sentimentos básicos a todos os humanos.

A filosofia de Kierkegaard tem como foco, também, a relação do sujeito (enquanto ser existente) com Deus. Entende que a verdadeira religião se dá enquanto experiência profundamente pessoal, íntima e autêntica, não podendo ser mediada por terceiros, sejam estes instituições (Igreja) ou dogmas religiosos.

Sua filosofia trata da liberdade, da individualidade, da fé e da condição humana enquanto ser existencial, tendo forte ênfase na subjetividade. Em sua filosofia encontramos um desafio atual para o confronto com nossa própria angustia e desespero, diante de responsabilidades, da liberdade e do significado que devemos dar a nossas vidas.

 

PRINCIPAIS OBRAS

 

1- Enten-Eller. Português: "Ou Isto ou Aquilo". Data: 1843. (2 volumes).

Coletânea de ensaios que apresentam o modo de vida “estético” (primeiro volume) e o “ético” (segundo volume). O estético apresenta uma visão hedonista da vida, já o ético uma visão pautada na responsabilidade moral. São debatidos aqui questões filosóficas e existenciais, bem como, o dilema entre a escolha de uma vida prazerosa ou uma vida voltada para o dever moral.

2- Frygt og Bæven. Português: "Temor e Tremor". Data: 1843.

O livro se baseia na histórica bíblica de Abraão quando da tentativa de sacrifício de seu filho Isaac. A fé ultrapassa a moral e a razão. Aqui é abordado o conceito de “angústia” perante decisões que se colocam além da razão e ética humana, no campo da fé e religiosidade, que nos pedem um “salto de fé”. É tratada a diferença entre a moral universal e a fé individual e como esta pode ir além das normas morais, éticas ou mesmo da razão.

3- Gjentagelsen. Português: "A Repetição". Data: 1843.

Ensaio filosófico sobre o conceito de “repetição” enquanto categoria existencial. Por meio da “repetição” pode-se recuperar o sentido e a felicidade da vida. São tratados os temas da esperança e do desespero.

4- Philosophiske Smuler. Português: "Migalhas Filosóficas". Data: 1844.

Nesta obra é tratada a relação existente entre a verdade e a fé. Qual a diferença entre conhecer a verdade por meio de ideias abstratas ou por meio da revelação Divina. O encontro com o absoluto (Deus) se dá por meio de um “salto” de fé, e não por meio da razão.

5- Begrebet Angest. Português: "O Conceito de Angústia". Data: 1844.

Exame da angústia enquanto condição fundamental para a existência humana. O autor aborda nesta obra importantes conceitos, tais como: pecado original, liberdade, angústia, escolha moral.

6- Stadier paa Livets Vej. Português: "Estádios no Caminho da Vida". Data: 1845.

Continuação da obra “Ou isto ou aquilo”. São tratados aqui os três estágios da existência humana: estético, ético e religioso. O autor argumenta que cada um destes estágios é marcado por um determinado modo de vida e que a passagem de um para o outro se dá por meio de um “salto”.

7- Afsluttende uvidenskabelig Efterskrift. Português: "Conclusão Não-Científica às Migalhas Filosóficas". Data: 1846.

Complemento a obra “Migalhas filosóficas”. Continuação da temática sobre a natureza da verdade subjetiva e o papel desempenhado pela fé cristã. Há uma crítica ao sistema filosófico de Hegel e uma defesa de que a verdade existencial se mostra sempre de modo subjetivo e vinculada a escolhas pessoais.

8- Kjerlighedens Gjerninger. Português: "As Obras do Amor". Data: 1847.

Discussão sobre o conceito cristão do “amor ao próximo” em sua vinculação com o dever de obediência a Deus. A obra tem como tema a natureza do amor altruísta e como este se diferencia do amor egoísta. Há uma discussão sobre as obrigações éticas daqueles que se consideram cristãos.

9- Sygdommen til Døden. Português: "A Doença até a Morte". Data: 1849.

Análise sobre a relação existente entre o “desespero” e o “eu”. O “desespero” recebe a definição de “doença até a morte”, na qual a pessoa se vê incapaz de reconciliar-se com sua natureza finita em relação ao infinito que é Deus. Uma discussão sobre o desespero existencial e a possibilidade de sua superação por meio da fé no Deus cristão.

10- Indøvelse i Christendom. Português: "Prática do Cristianismo". Data: 1850.

O autor trata de como seguir de modo autêntico ao Cristo, Deus encarnado, bem como, apresenta uma crítica a instituição do cristianismo, defendendo que a verdadeira fé no Deus Cristão torna necessário uma radical imitação de Cristo e que esta imitação tende a se opor aos confortos e normas de nossa sociedade atual.

 

Silvério da Costa Oliveira.

 


 

Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.

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(Respeite os Direitos Autorais – Respeite a autoria do texto – Todo autor tem o direito de ter seu nome citado junto aos textos de sua autoria)

quarta-feira, 13 de novembro de 2024

Jeremy Bentham

 

Por: Silvério da Costa Oliveira.

 

Jeremy Bentham

 

Jeremy Bentham (1748-1832) nasce e falece (aos 84 anos de idade) em Londres, Inglaterra, proveniente de família de conceituados advogados (pai, avô). Foi uma criança prodígio em termos de aprendizagem. Bentham entrou na Universidade de Oxford, na Queen’s College, em 1760, aos 12 anos de idade, o que, mesmo para a época, era considerado algo deveras precoce, vindo a concluir o curso e obter o título de "Bachelor of Arts" (Bacharel em Artes) em 1763, então com 15 anos de idade. Após obter esta graduação em Oxford, em 1763 foi admitido e passou a estudar Direito no Lincoln’s Inn, uma das sociedades de advogados presente em Londres. Apesar de vir de uma família de advogados e ter estudado Direito, formalmente Bentham nunca exerceu a advocacia, pois, havia se desiludido com o sistema jurídico inglês por acha-lo arcaico e irracional, vindo a dedicar seus esforços em escrever sobre as reformas que este considerava importantes, tanto na área legal, como também social. Desde criança foi preparado com boa educação para o exercício da carreira de advogado, aprendendo latim e grego. Também quando criança estudou música e aprendeu a tocar violino. Em 1792 foi declarado cidadão francês pela então Assembleia Legislativa. Atuou como filósofo, jurista e reformador da sociedade (ao nível legal e social). Bentham manteve-se solteiro por toda a vida.


 

Como curiosidade, Bentham deixou instruções para quando de sua morte, seu corpo fosse preservado e exposto, encontrando-se em exibição até os presentes dias, tendo sido batizado pelo próprio Bentham de: “auto-ícone”. Hoje o esqueleto vestindo uma de suas roupas e sentado em uma de suas cadeiras encontra-se em exibição com uma cabeça alternativa, já que a verdadeira estava com a pele por demais enrugada. A cabeça era exposta conjuntamente com o corpo, aos pés do mesmo, agora se acha guardada e preservada. O local de exibição do corpo se faz na entrada da UCL - University College London.

Cabe destaque, dentre os amigos que Bentham teve no correr de sua vida, a James Mil e seu filho John Stuart Mil, ambos, inclusive, foram responsáveis pela edição de algumas obras de Bentham e podem ser considerados seus discípulos, já que foram influenciados pelo mesmo no desenvolvimento de suas próprias ideias.

Bentham defendeu a liberdade, seja esta pessoal, de expressão ou econômica; a separação entre a Igreja e o Estado; sufrágio universal; direitos iguais entre homens e mulheres; a descriminalização de práticas homossexuais; abolição de trabalho escravo; abolição de punições físicas, mesmo em crianças; direito dos animais. Bentham defendeu o liberalismo e uma constituição em moldes democráticos. Bentham entende que a autoridade e o governo são um mal e como tal, devem ser reduzidos ao mínimo para que possam efetivamente serem úteis.

Pensando na reforma do sistema penitencial, apresentou a proposta de construção do panóptico (panopticon). Este seria um modelo de prisão tendo ao centro uma torre com janelas (Pan-óptica), cuja distribuição das mesmas e da luz impediria que quem estivesse ao redor, do lado de fora da torre, conseguisse ver quem estava do lado de dentro, deste modo, poucos poderiam controlar muitos. Os prisioneiros em suas celas ao redor da torre não saberiam quando o carcereiro estaria olhando para elas.

O ponto de partida da obra de Bentham é o “princípio de utilidade”, apresentado como princípio geral de toda sua filosofia (moral, social, política). Bentham pode ser considerado corretamente como o fundador do Utilitarismo. Segundo o pensamento do autor, as ciências devem se apoiar em fatos empíricos, já no tocante à moral e à vida social, os únicos fatos de que dispomos são o prazer e a dor, sendo estes que determinam o comportamento das pessoas, atuando por meio de recompensas e punições. As pessoas em geral buscam o prazer e evitam a dor. Pelo princípio de utilidade, uma ação deve ser recompensada ou punida conforme aumente ou diminua a felicidade de todos dentro da sociedade. Em uma dada sociedade qualquer, o principal interesse de todos os sujeitos será sempre evitar o desprazer/dor e obter prazer, estando no resultado desta busca e evitação o verdadeiro significado de “felicidade”. A isto também há de se reduzir outros conceitos, tais como: dever, bem e mal, justo e injusto.

Temos presente dentro do “princípio de utilidade” proposto por Bentham que a única regra presente no querer humano é a obtenção do prazer e a evitação da dor, sendo que este princípio não se aplica somente ao sujeito individual, mas também a todos os sujeitos dentro de uma coletividade. A lei moral suprema se reduz ao critério da máxima utilidade para o maior número de pessoas, colocando-se deste modo a felicidade de uma única pessoa em sintonia com a felicidade de todos presentes dentro da sociedade da qual fazem parte. A este princípio chamou de “princípio de maximização dos prazeres e minimização das dores”, mas em escrito datado de 1822, reformula este para “princípio de maior felicidade para o maior número possível” ou “the greater happiness of the greater number” ou "it is the greatest happiness of the greatest number that is the measure of right and wrong."

Bentham chamou sua doutrina moral de “deontologia”, fazendo referência ao grego “to deon” = conveniente (não no sentido de dever). Logo, sua moral não é o estudo do dever e sim o estudo sobre o que é conveniente ser feito, tendo como base o princípio de utilidade.

Segundo o Utilitarismo, base de todo o pensamento desenvolvido por Bentham, deve-se buscar promover “a maior felicidade para o maior número”. Este é também um princípio dentro da ética Utilitarista, pois, dentro desta doutrina a moralidade consiste em obter o bem estar coletivo, logo, uma ação que possa ser considerada moralmente correta deverá poder proporcionar um aumento de prazer e diminuição da dor para o maior número possível de pessoas. Entende que é possível quantificar a felicidade e criou um instrumento para tal, que ele chamou de “cálculo hedônico”, visando avaliar o prazer e a dor presente em uma dada ação qualquer. Para o cálculo hedônico deve-se levar em conta a intensidade (qual a força do prazer ou da dor presente nesta ação), a duração (por quanto tempo este prazer ou dor estará presente), a certeza (qual a probabilidade de que este prazer ou dor venha de fato a ocorrer), a proximidade (quão perto ou distante em termos de tempo, este prazer ou dor se encontra), a fecundidade (se este prazer ou dor pode dar origem a outros prazeres ou dores, multiplicando-se), a pureza (o quanto este prazer ou dor não trará o seu oposto em alguma parte, ou seja, o quanto de prazer que está misturado com dor ou o quanto que se trata de um prazer sem dor ou de uma dor sem prazer), a extensão (quantas pessoas serão afetadas por este prazer ou dor).

Segundo o entendimento de Bentham, a virtude se limita ao sacrifício de um prazer imediato e menor, para a obtenção de um prazer a longo prazo e maior. Para Bentham a moral pode ser reduzida ao exercício de duas virtudes: a prudência e a benevolência. A prudência se encontra no entendimento humano, sendo nossa capacidade para calcular a relação entre prazer e dor de modo a poder obter um excedente de prazer. A prudência por sua vez, se divide em prudência pessoal e prudência extra pessoal. A benevolência, por sua vez, se encontra junto à vontade, guiando nossas ações em sociedade. Por sua vez, se divide em afetiva e efetiva (ou beneficência).

Bentham entende que o prazer oriundo de nosso corpo é bom e se opõe ao princípio do ascetismo, em particular o ascetismo filosófico e religioso. Práticas de mortificações corporais não passam de superstições, sendo falsos os possíveis motivos religiosos para tais mortificações.

Em Bentham vemos o desenrolar de uma filosofia de características positivistas e empiristas, ficando este próximo de Augusto Comte e se afastando da moral do dever proposta por Kant. Bentham é contrário a toda e qualquer moral baseada na obrigação. O dever deve coincidir com o interesse pessoal. Não é cabível sacrificar os interesses pessoais por um suposto dever.

 

PRINCIPAIS OBRAS

 

1- A fragment on government. Título em português: "Um Fragmento sobre o Governo". Data de publicação: 1776.

Crítica às ideias de William Blackstone sobre o governo, contidas em "Comentários sobre as Leis da Inglaterra". Bentham faz um questionamento sobre a autoridade política, defendendo a ideia de que a legislação deva ser orientada pelo princípio da utilidade, visando maximizar a felicidade na sociedade.

2- Defence of usuty. Título em português: "Defesa da Usura". Data de publicação: 1787.

Bentham aqui advoga em defesa da prática de emprestar dinheiro a juros (usura). Segundo seu entendimento, proibir a cobrança de juros limitaria a liberdade individual e impediria o progresso econômico. Há uma crítica às leis que restringem a usura em sua época e uma defesa da regulamentação pelo mercado, e não pelo governo, das taxas de juros cobradas.

3- "An Introduction to the Principles of Morals and Legislation". Título em português: "Introdução aos Princípios da Moral e da Legislação". Data de publicação: 1789.

Uma das obras mais conhecidas do autor. Aqui Bentham desenvolve a sua teoria utilitarista. Defende que a moral e a legislação devam se basear no princípio da utilidade, visando obter a maior felicidade para o maior número de pessoas. Nesta obra são apresentados importantes conceitos dentro da filosofia e ideias propostas por Bentham, tais como o "cálculo dos prazeres e das dores", para determinar a moralidade das ações e das leis.

4- "Panopticon; or, The Inspection-House". Título em português: "Panóptico; ou, A Casa de Inspeção". Data de publicação: 1791.

Aqui é apresentado o conceito de “Panóptico”. Trata-se de uma estrutura arquitetônica que tem como objetivo proporcionar que poucas pessoas possam observar o comportamento de muitas, podendo ser usado em prisões e em outros contextos. O modelo de panóptico para ser adotado em uma prisão é formado por um prédio circular com as celas voltadas para dentro, havendo no centro uma torre com janelas voltadas para cada cela de modo que, pelo posicionamento das janelas e pela luz, não seria possível para quem estiver do lado de fora da torre saber quando está sendo observado por quem está do lado de dentro da torre. O objetivo presente é reduzir os custos e promover a disciplina e moralidade entre os presos. Trata-se de um objetivo utilitarista. O modelo também pode ser adaptado para ser usado em outros ambientes que exijam controle, tais como fábricas ou escolas.

5- "Traité de la législation civile et pénale". Título em português: "Tratado da Legislação Civil e Penal". Data de publicação: 1802.

Publicado na cidade de Paris por Étienne Dumont, discípulo de Bentham. Trata-se de compilação de ideias de Bentham sobre legislação civil e penal. As leis devem ser elaboradas visando maximizar a felicidade para o maior número de pessoas, fazendo uso do princípio de utilidade.

6- "Crestomathia". Título em português: "Crestomatia". Data de publicação: 1816.

Plano para a reforma educacional com base no princípio da utilidade. É proposto um currículo racional, direcionado para a eficiência e utilidade pública, tendo como objetivo a promoção do ensino de matérias consideradas úteis e práticas para preparar os alunos para a vida em sociedade, matérias tais como: ciências e artes mecânicas.

7- "Plan of Parliamentary Reform". Título em português: "Plano de Reforma Parlamentar". Data de publicação: 1817.

Defesa de reformas no sistema eleitoral britânico, dentre as quais o sufrágio universal (masculino e feminino), eleições frequentes e voto secreto, visando promover maior responsabilidade por parte dos representantes políticos e reduzir a corrupção.

8- "A Table of the Springs of Action". Título em português: "Uma Tabela das Fontes de Ação". Data de publicação: 1817.

Tentativa de categorizar os motivos que conduzem a ação das pessoas, dividindo tais motivos em duas fontes básicas: prazer e dor. Baseado no princípio utilitarista, argumenta que as ações podem ser avaliadas com base nas suas consequências.

9- "Church-of-Englandism and its Catechism Examined". Título em português: "O Anglicanismo e seu Catecismo Examinados". Data de publicação: 1818.

Crítica a Igreja Anglicana. O catecismo, a estrutura, o poder e a influência da Igreja Anglicana é questionado, bem como, argumenta o autor que a mesma teria como resultado a perpetuação da ignorância e de privilégios. Há uma defesa da separação entre Igreja e Estado, o fim dos monopólios religiosos, e uma abordagem secular do governo.

10- "The Analysis of the Influence of Natural Religion on the Temporal Happiness of Mankind". Título em português: "Análise da Influência da Religião Natural sobre a Felicidade Temporal da Humanidade". Data de publicação: 1822.

Aqui temos uma crítica à religião, argumentando que esta não contribui para a felicidade das pessoas, podendo mesmo prejudicar o bem-estar social. Há uma defesa de que a moralidade e as leis devam ser independentes da religião e tendo como objetivo principal o benefício social.

11- "The Rationale of Reward". Título em português: "A Racionalidade da Recompensa". Data de publicação: 1825.

Análise dos princípios que devem atuar como guia para o sistema de recompensas sociais. Fala-se sobre reconhecimento público e incentivos econômicos, defendendo que as recompensas devam ser baseadas no mérito e no benefício social, não em privilégios de classe ou tradição.

12- "The Rationale of Punishment". Título em português: "A Racionalidade da Punição". Data de publicação: 1830.

Exame sobre as justificativas dadas para a aplicação de punição. Segundo o pensamento exposto por Bentham, as punições só devem ser aplicadas quando tendem a promover um bem social maior, isto de acordo com o princípio de utilidade defendido pelo autor. As punições também devem ser proporcionais aos crimes cometidos e tendo como objetivos evitar novos delitos no futuro.

13- "Constitutional Code". Título em português: "Código Constitucional". Data de publicação: 1830

Projeto para um código constitucional adotado por um governo democrático. Tem como objetivo a criação de um governo eficiente e transparente, regido pelo princípio de utilidade. São abordados temas tais como: separação dos poderes, eleições, direitos civis.

14- "Deontology or the Science of Morality". Título em português: "Deontologia ou a Ciência da Moralidade". Data de publicação: 1834 (póstumo).

Aqui temos o pensamento ético de Bentham apresentado de modo mais sistemático. Bentham utiliza o termo “deontologia” para fazer referência ao estudo dos deveres e das obrigações morais. Aqui Bentham nos fala como as ações devem ser julgadas, tomando por base a sua contribuição “para a felicidade do maior número” (de seres vivos, sejam pessoas ou outros animais).

15- "Of Laws in General". Título em português: "Das Leis em Geral". Data de publicação: 1945 (póstumo).

Aqui são tratados os princípios gerais que devem orientar a criação de leis. Há uma discussão sobre o papel das leis na promoção do bem-estar social e uma crítica às leis que atuam visando favorecer às elites.

 

Silvério da Costa Oliveira.

 


 

Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.

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terça-feira, 5 de novembro de 2024

Pierre-Simon Laplace

 

Por: Silvério da Costa Oliveira.

 

Pierre-Simon Laplace

 

Pierre-Simon Laplace (1749-1827), filho de camponeses (segundo a maioria dos comentadores, ou, segundo outra corrente, teria sua origem em família de advogados, médicos, burocratas ou comerciantes), nasce em Beaumont-en-Auge, na Normandia, e falece em Paris. Recebeu de Napoleão o título de nobreza de “conde” em 1806 e, mais tarde, obteve o título de “marquês”, dado por Luís XVIII em 1817, após a restauração dos Bourbons. Em 1789 foi eleito membro da Royal Society. Foi professor da Escola Militar (École Militaire), da Escola Normal (École Normale) e da Escola Politécnica (École Polytechnique). Laplace foi cientista, matemático, astrônomo, físico, político, filósofo, escritor e professor. Laplace ganhou a alcunha de ser o “Newton francês”.

Ao falecer aos 78 anos de idade, em 1827, alguns comentadores lhe atribuem como última frase, no leito de morte: "Ce que nous connaissons est peu de chose, ce que nous ignorons est immense.", ou em versão para o português: “O que sabemos é insignificante; o que não sabemos é imenso”.


 

Dos 7 aos 16 anos de idade estudou em uma escola Beneditina, em Beaumount-em-Auge, posteriormente iniciou seus estudos na Universidade de Caen, em Teologia. Foi na universidade que descobriu seu talento para as matemáticas, deixando a mesma sem se formar e indo para Paris tendo em seu poder cartas de apresentação e recomendação dadas por seus professores e endereçadas ao matemático francês Jean D’Alembert (1717-1783), mas este só o recebeu após Laplace lhe enviar um trabalho de sua autoria, que muito lhe chamou a atenção. D'Alembert reconheceu o talento de Laplace e o ajudou a obter um cargo como professor na Escola Militar de Paris, o que marcou o início da ascensão de Laplace no meio científico francês.

Laplace viveu a Revolução Francesa, período de sucessivos governos e no qual cada novo grupo que chegava ao poder eliminava os que apoiavam o grupo anterior. No meio de toda esta matança, é admirável a capacidade de Laplace de permanecer vivo, se adaptando a cada novo regime político, sempre mantendo seu status de importante cientista e dando continuidade à sua carreira com o apoio do governo no poder no momento. Neste cenário presente na França de então, Laplace conseguiu posição de destaque entre os revolucionários franceses que depuseram o rei, mais tarde foi bem acolhido por Napoleão e, quando este caiu e a monarquia dos Bourbons foi restaurada, manteve-se próximo ao poder, recebendo, inclusive, novo título de nobreza: marquês.

Desde os primórdios da Revolução Francesa, passando pelo Império de Napoleão e a restauração da monarquia no poder, Laplace soube se adaptar, conviver e crescer dentro do conturbado meio político no qual vivia. Seu trabalho como pesquisador e cientista sempre se mostrou útil para o regime político dominante, fosse qual fosse, como, por exemplo, durante o período da Revolução Francesa, sua habilidade para calcular a trajetória dos projéteis de artilharia e a orientar a fabricação de pólvora.

Na física matemática é famosa e muito usada até hoje a equação de Laplace, por ele formulada. Nos seus trabalhos no campo da astronomia, estudou os movimentos de Júpiter, da Lua, e de Saturno, descobriu leis sobre os movimentos e a natureza dos cometas e também sobre o fluxo e refluxo das marés. Possui trabalhos na área da biologia química, em colaboração com Lavoisier, nos quais demonstra que nos seres vivos a respiração atua como uma combustão resultante da reação de substâncias orgânicas com o oxigênio. Também em parceria com Lavoisier desenvolveu um instrumento para medir o calor dos corpos, o “calorímetro de gelo”. Na física efetuou estudos sobre refração, velocidade do som, pêndulos e dilatação dos corpos sólidos. Na matemática realizou estudos sobre a teoria das probabilidades e foi o primeiro a demonstrar integralmente o teorema de D’Alembert sobre as raízes das equações algébricas. Também buscou explicar a origem do sol e do sistema solar a partir da existência de uma nebulosa.

Mantém um posicionamento determinista, no qual, o momento presente deve ser entendido como o resultado natural e efeito de ocorrências passadas, bem como, a causa de ocorrências futuras. Se fosse possível conhecer todas as forças que regem tudo no universo e todas as posições ocupadas por todos os entes da natureza, seria possível ao analisar todas estas informações, tudo compreender, desde os movimentos dos maiores aos menores corpos, sendo todos os eventos futuros dados como certos, do mesmo modo que o passado seria entendido como uma consequência natural de todos os eventos que transcorreram no desenrolar histórico temporal. Um tal intelecto, com o somatório de todas estas informações, é frequentemente chamado de “demônio de Laplace”, ou, na tentativa de implementar fisicamente tal empreendimento, de “computador laplaciano”. Segundo o pensamento de Laplace, a ciência deve ser entendida como um instrumento que nos permita a predição dos fatos futuros.

Seu trabalho pode ser dividido em três principais áreas: mecânica celeste, teoria das probabilidades e física matemática. No campo da mecânica celeste, buscou expandir e formalizar o trabalho anterior de Issac Newton. Trabalhando a partir das descobertas de Newton, os estudos empreendidos por Laplace negaram a possibilidade hipotética de que forças gravitacionais complexas pudessem ocasionar a desestabilização dos planetas de nosso sistema solar. Esta hipótese negada era então aceita como viável pela comunidade científica de sua época. Segundo Laplace demonstrou, o sistema solar era estável a longo prazo. Laplace propôs a teoria de que a formação do sistema solar se daria a partir de uma grande nebulosa em rotação. Esta seria a origem do sol e de todos os planetas. Seu nome se encontra associado a conceitos fundamentais, tais como: a equação de Laplace, e a transformada de Laplace. Ambas com emprego amplo tanto na engenharia, como também na física e matemática aplicada. A transformada de Laplace, apesar de levar seu nome, não foi desenvolvida diretamente por ele, mas foram suas ideias que levaram a mesma. A transformada de Laplace tem seu uso na resolução de equações diferenciais, em especial em circuitos elétricos e análise de sistemas dinâmicos. Já a equação de Laplace foi de fato desenvolvida pelo próprio Laplace, sendo grande contribuição para a física matemática e para a teoria dos potenciais.

Em síntese, a obra de Laplace abarca a aplicação da matemática a problemas físicos e a formalização de novos campos do saber. Segundo o pensamento de Laplace, a matemática tem um potencial que pode ser aplicado não somente na resolução de problemas hoje existentes, mas também na exploração de novas ideias e na previsão de novos fenômenos que ainda nos são desconhecidos.

Na mecânica celeste forneceu uma base firme para a astronomia e a análise do movimento dos corpos celestes, de modo a permitir um maior entendimento sobre o comportamento dinâmico dos planetas e satélites. Este desenvolvimento feito por Laplace se deu a partir dos fundamentos presentes na obra de Newton. Na probabilidade e estatística coube a Laplace colocar as bases para a aplicação da estatística em diferentes áreas do saber humano, dentre as quais a vida cotidiana, bem como, trazer a probabilidade e estatística para dentro do método científico. Coube a Laplace apresentar um entendimento determinístico na ciência e na filosofia, que veio a influenciar muitos autores subsequentes. Este entendimento apresentou o universo como um sistema ordenado e previsível. O desenvolvimento posterior das ciências deve muito ao trabalho de Laplace, seja pela formalização matemática ou pela ampliação das fronteiras do conhecimento. O trabalho de Laplace forneceu às ciências os métodos e teorias que vieram a permitir avanços na física, na astronomia e na estatística até os dias atuais.

 

PRINCIPAIS OBRAS

 

1- Exposition du système du monde. Título em português: "Exposição do Sistema do Mundo". Ano da primeira publicação: 1796.

Trabalho onde é apresentada a hipótese na qual o sistema solar surge como resultado da contração e esfriamento de uma grande nebulosa em rotação, uma nuvem de gás incandescente. Trata-se de obra sobre astronomia e os princípios que governam o sistema solar. Aqui são tratados temas tais como: as leis do movimento dos planetas, e a gravitação universal. Esta é uma obra mais acessível ao público em geral.

2- Traité de mécanique céleste. Título em português: "Tratado de Mecânica Celeste". Ano da primeira publicação: 1799-1825 (em cinco volumes).

Aqui temos uma sistematização e generalização da mecânica de Newton. As leis propostas por Newton são aqui aplicadas ao movimento dos corpos celestes. Uma exposição matemática, com base na teoria da gravitação, dos movimentos dos corpos do sistema solar. Laplace desenvolve a teoria sobre o movimento dos planetas e satélites, de modo a explicar a estabilidade do sistema solar e aprimorar os sistemas astronômicos de sua época. Obra fundamental na histórica da mecânica celeste.

3- Théorie analytique des probabilités. Título em português: "Teoria Analítica das Probabilidades". Ano da primeira publicação: 1812.

Aqui Laplace trata do desenvolvimento da teoria das probabilidades. Laplace formulou princípios que permitiram o desenvolvimento do conceito de probabilidade bayesiana e estabeleceu métodos analíticos para resolver problemas envolvendo incerteza e estatística. Este trabalho teve o mérito histórico de vir a influenciar o subsequente desenvolvimento da matemática estatística e do cálculo de probabilidades.

4- Essai philosophique sur les probabilités. Título em português: "Ensaio Filosófico sobre as Probabilidades". Ano da primeira publicação: 1814.

Versão de cunho mais filosófico e também mais acessível da obra anterior, "Théorie analytique des probabilités". Laplace explica o conceito de probabilidade e suas aplicações em distintas áreas do saber. Temos aqui uma interpretação determinística da natureza, pela qual, conhecendo todas as forças e posições dos corpos no universo pode-se prever seus movimentos futuros e inferir sobre o seu passado. Esta tese determinista ficou conhecida como “demon de Laplace” (demônio de Laplace), fazendo aqui referência a uma criatura onisciente que pudesse ser capaz de conhecer todas estas forças e posições dos objetos e consequente conhecer os fatos do passado e prever os fatos futuros.

 

Silvério da Costa Oliveira.

 


 

Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.

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